[pt] O rosto do migrante nos fala, eloquentemente, a respeito da incrível desigualdade existente na sociedade humana e seus respectivos desdobramentos. Por outro lado, a maneira como notamos, percebemos e acolhemos esse rosto também fala, eloquentemente, a respeito de nós mesmos: o com que lidamos com a demanda, fragilidade e vulnerabilidade do órfão, da viúva e do forasteiro; daquele que está nu e faminto. Em outras palavras, pessoas pobres e desassistidas, caminhantes, migrantes, imigrantes, refugiados, expatriados, apátridas, requerentes de asilo, todos deslocadas à força. O exuberante e crescente fluxo migratório contemporâneo é formado por pessoas refugiadas da bestialidade das guerras e de governos despóticos, oriundas de territórios em conflito em busca de paz e segurança e, pelos assim chamados, imigrantes econômicos, que se refugiam em busca de melhores perspectivas de vida. Enquanto a disparidade de renda entre países pobres e ricos se mantiver como abissal e o processo de crescimento global se mantiver absolutamente desigual, o detonador migratório continuará fomentando os efeitos danosos do desequilíbrio da migração internacional com proporções épicas. Como consequência, a chegada de uma massa de imigrantes sem teto, privados de direitos humanos e não amparados adequadamente pela lei local, agudiza ainda mais os movimentos de caráter xenofóbico, racistas e nacionalistas. As incessantes ondas de novos imigrantes são percebidas com mal estar e temor provocando animosidade e hostilidade em relação à boa parte das comunidades e países que os recebem. O século XXI, marcado pelas novas eras da informação, da comunicação e da tecnologia; marcado pelos efeitos assimétricos de uma globalização perversa que promove o acesso não equitativo aos meios produtivos e financeiros; marcado pela formação e expansão de novos governos totalitários e pela configuração de uma nova ordem geopolítica multipolar; marcado pela persistência da pobreza e a perpetuação de desigualdades estruturais elementares, exarceba um fenômeno antigo, mas que se manifesta agora em proporções alarmantes: a crise dos refugiados e dos imigrantes pobres. Por tal razão utilizamos a perspectiva da filosofia de base ética do filósofo Emmanuel Lévinas. Suas categorias como rosto humano, visitação do rosto, rosto como revelação, rosto do estrangeiro, da viúva e do órfão como transcendência, cultura como rosto de outrem, perspectiva inter-humana, alteridade e próximo nos ajudam a lançar luz sobre a situação dos refugiados e imigrantes pobres da atualidade. De igual forma, também nos pareceu fundamental utilizar a perspectiva adotada por Papa Francisco durante todo o seu magistério. Desde o início de seu pontificado o Sumo Pontífice chamou a atenção para os novos desafios relativos ao drama dos refugiados e imigrantes da atualidade. Nos alertou de que a humanidade está em crise e que precisamos dar uma resposta efetiva às atuais mazelas humanas através de uma postura solidária e rejeitando as traiçoeiras tentações da separação e do individualismo. O Pontífice insiste na necessidade de se favorecer uma cultura do encontro que nos permita, de fato, cuidar e proteger o que Deus criou com dignidade, responsabilidade e amor fraterno. / [en] The migrant s face speaks eloquently about the incredible inequality that exists in human society and of its consequences. On the other hand, the way we notice, perceive and welcome this face also speaks eloquently about ourselves: the way we deal with the needs, the fragility and the vulnerability of the orphan, the widow and the outsider, of him who is naked and hungry. In other words, poor and underserved people, vagabonds, migrants, immigrants, refugees, expatriates, stateless persons, asylum seekers, all forcibly displaced. The already massive and still growing contemporary migratory flow consists of people who seek refuge from the bestiality of wars and despotic governments, coming from conflicted territories in search of peace and security, as well as by the so-called economic immigrants, who search for better lives. As long as the income disparity between rich and poor countries remains abysmal and the process of global growth stays absolutely uneven, the migration trigger will continue to fuel the harmful effects of imbalanced international migration in epic proportions. As consequence, the arrival of a mass of homeless immigrants, deprived of human rights and not adequately supported by local law, further exacerbates xenophobic, racist and nationalist movements. The incessant waves of new immigrants are thus perceived with unease and fear, provoking animosity and hostility towards a considerable part of the communities and countries that receive them. The 21st century, marked by new eras of information, communication and technology, marked by the asymmetric effects of a perverse globalization that promotes inequitable access to productive and financial means, marked by the formation and expansion of new totalitarian governments and the configuration of a new multipolar geopolitical order, marked by the persistence of poverty and the perpetuation of elementary structural inequalities exacerbates an old phenomenon, but which is now manifesting itself in alarming proportions: the crisis of refugees and poor immigrants. For this reason we use the perspective of the philosophy of ethical foundation of the philosopher Emmanuel Lévinas. Its categories as human face, visitation of the face, face as revelation, face of the foreigner, the widow and the orphan as transcendence, culture as the face of another, inter-human perspective, otherness and proximity help us shed light on the situation of refugees and poor immigrants today. Likewise, it also seemed fundamental to us to use the perspective adopted by Pope Francis throughout his teachings. Since the beginning of his pontificate, the Supreme Pontiff has drawn attention to the new challenges related to the drama of the refugees and immigrants of today. He warned us that humanity is experiencing a crisis and that we need to give an effective response to current human ills through a solidary posture and by rejecting the treacherous temptations of separation and individualism. The Pontiff insists on the need to promote a culture of the encounter that allows us, in fact, to care for and to protect what God created with dignity, responsibility and fraternal love.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:63851 |
Date | 31 August 2023 |
Creators | LEONARDO COSTA DA SILVA DE OLIVEIRA AMORIM |
Contributors | MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | TEXTO |
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