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A dependência química em mulheres: figurações de um sintoma partilhado / The chemical dependency in women: figurations of a shared symptom

Os problemas decorrentes do uso, abuso e dependência de drogas tornaram-se uma preocupação mundial, mobilizando recursos e ações interventivas na atenção aos usuários e dependentes. Entre os grupos, encontramos as mulheres, com características próprias, exigindo pesquisas e programas de tratamento específicos. Esta pesquisa procura privilegiar as especificidades do feminino e a dependência de drogas, através dos referenciais teóricos da psicanálise sobre a sexualidade feminina e a feminilidade. Utilizam-se, também, as concepções sobre o sujeito do grupo, que implicam uma subjetividade constituída nos e pelos conjuntos intersubjetivos, conforme desenvolve René Kaës. Considera-se que, de acordo com os postulados desse autor, a negatividade está na base de todo laço social, configurando as alianças inconscientes e as formações intermediárias no vínculo entre os sujeitos. Nesse sentido, propõe-se uma linha de investigação psicanalítica sobre a dependência química como um sintoma partilhado, objetivando: a) investigar os processos psíquicos relacionados à produção de sintomas em mulheres dependentes químicas, através dos discursos produzidos em uma situação de grupo; b) investigar as formações intermediárias e as modalidades de negatividade na manutenção do sintoma e do laço social. Como procedimento, foi utilizado um grupo psicoterapêutico em um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras drogas (CAPS ad) e na análise foram consideradas: a interdiscursividade e a linearidade dos enunciados; a transferência e a contratransferência; e a realidade psíquica do/no grupo. Através da análise do discurso em situação de grupo, foram elaboradas três categorias representantes da produção intersubjetiva: as formações intermediárias (porta-voz, porta-sintoma, porta-ideal), as modalidades de negatividade (a negatividade de obrigação e a negatividade radical) e o complexo fraterno. Conclui-se que a dependência química em mulheres é uma formação intermediária, representando aspectos denegados dos conjuntos intersubjetivos a que pertencem (família e instituição de tratamento). Através do pacto denegativo, a vulnerabilidade e o desamparo são expulsos da dinâmica intersubjetiva e intrapsíquica marcas da feminilidade na constituição subjetiva. A aliança inconsciente fundamenta-se, portanto, na denegação dos elementos relacionados à dimensão do sensível, do corpo, da sexualidade, do desejo e da incompletude humana. A dependência química feminina configura-se como portavoz do que é intolerável na feminilidade. / The problems arisen from drug use, abuse and dependence became a global issue, mobilizing resources and interventional actions concerning recreational users and addicts. Among different groups of users there are women, with their own characteristics that demand specific research and treatment programs. This research aims at focusing the specificity of the feminine and drug dependence through theoretical psychoanalytical references about feminine sexuality and femininity. We will also use the concept of subject of a group that implies constituted subjectivity within and by inter-subjective groups, according to René Kaës. He states that negativity is in the base of every social tie, configuring unconscious alliances and intermediary formations regarding connections among subjects. In this sense, we propose a psychoanalytical investigative method about chemical dependency as a shared symptom aiming at: a) investigating the chemical processes related to symptoms production in chemical dependent women through speeches produced in a group situation; b) investigating the intermediary formations and the modalities of negativity in symptoms and social ties maintenance. We worked with a psychotherapy group in an Alcohol and other drugs Psychosocial Attention Center (CAPS ad). In our analysis we considered: the interdiscursivity and the linearity of the utterances; the transference and the countertransference; the psychic reality of/in the group. Through discourse analysis, we elaborated three representative categories of the inter-subjective production: the intermediary formations (spokesperson, symptomatic-person, ideal-person), the modalities of negativity (the negativity of obligation and the radical negativity) and the sibling complex. We can conclude that chemical dependency in women is an intermediary formation, representing denied aspects of the inter-subjective groups which they belong to (family and treatment institution). Through the pact of denial, the vulnerability and the defenseless are driven out of the inter-subjective and intra-psychic dynamic which are aspects of the femininity in the subjective constitution. The unconscious alliance is founded, thus, on the denial of the elements related to the dimension of the sensibility, of the body, of the sexuality, of the desire and of the human incompleteness. The feminine chemical dependency takes form as the spokesperson of what is unbearable in femininity.

Identiferoai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-10112010-082915
Date03 September 2010
CreatorsGomes, Katia Varela
ContributorsFernandes, Maria Inês Assumpção
PublisherBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Source SetsUniversidade de São Paulo
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
TypeTese de Doutorado
Formatapplication/pdf
RightsLiberar o conteúdo para acesso público.

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