Introdução: A poluição do ar pode levar a alterações no sistema respiratório, especialmente entre certos grupos, como as gestantes, que são mais vulneráveis aos efeitos de poluentes atmosféricos. A gravidez é um período que envolve alterações funcionais e anatômicas no corpo da mulher, incluindo alterações na função pulmonar, o que pode ser avaliado por espirometria, um método simples, barato e eficaz. Objetivos: Os objetivos deste estudo foram a usar a espirometria para avaliar a função pulmonar de mulheres no primeiro trimestre (T1) e no terceiro trimestre (T3) de gravidez e analisar a influência da exposição a poluição do ar sobre os parâmetros espirométricos. Metodologia: O estudo foi realizado no Ambulatório de Obstetrícia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) entre Maio de 2011 e Agosto de 2013. Foram aplicados os seguintes critérios de inclusão: gestação única, idade gestacional no dia da primeira espirometria inferior a 13,86 semanas, ausência de doenças maternas préexistentes, preparação adequada para o teste de espirometria e amostradores passivos individuais (APIs) adequados para análise. Os critérios de exclusão foram a mudança de endereço, o aborto, o teste de espirometria inadequado e desistência de participar do projeto. Os APIs contendo dois filtros de celulose embebidos com solução absorvente para capturar os níveis de NO2 e outros dois filtros embebidos com solução de índigo blue para medir os níveis de O3 foram entregues às gestantes cerca de 12 dias antes da realização do teste de espirometria. Dados do relatório anual da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) para o mesmo período dos amostradores passivos, foram utilizados. Para a espirometria, um espirômetro Koko foi utilizado, sendo considerada as duas melhores curvas para avaliar os resultados da função pulmonar. Análise estatística: Foi utilizado o teste Mann-Whitney para grupos independentes e Wilcoxon para os dependentes. Devido à pequena variação na exposição à poluição, a exposição no primeiro trimestre (Q1) e quarto trimestre (Q4) foram comparados para cada poluente em T1 e T3 através da análise nãoparamétrica para medidas repetidas. Resultados: Houve uma redução estatisticamente significativa dos valores absolutos (T1: 3,690 L; T3: 3,475 L) e preditos (T1: 101%, T3: 97,5%) da capacidade vital forçada (CVF), p < 0,0001. E uma redução estatisticamente significativa dos valores absolutos (T1: 3.080 L; T3: 2.950 L) e preditos (T1: 99%, T3: 96%) do volume expiratório forçado no primeiro segundo do procedimento (FEV1), p < 0,0001. A exposição à poluição foi semelhante em ambos os trimestres, exceto para a exposição de NO2 no API, o que foi inferior em T3 (p = 0,001). Independentemente do trimestre (T1 ou T3), o grupo de mulheres do Q4 (T1: 97,5%; T3: 98,5%) teve NO2 estatisticamente maior dos valores do fluxo expiratório forçado de 25 a 75% do procedimento (FEF25-75%) do que o grupo em Q1 (T1: 80%; T3: 92%). O grupo de mulheres do Q1 do NO2 teve um aumento significativo neste parâmetro de T1 a T3 (p = 0,042). Em termos de valores absolutos da relação FEV1/FVC, o grupo de mulheres no Q1 mostrou um aumento estatisticamente significativo neste parâmetro de T1 (0,810 L) para T3 (0,840 L) (p = 0,026). Em T3, os valores absolutos e relativos da CVF foram estatisticamente maiores para o grupo de gestantes do Q4 (3,535 L; 100,5%) de NO2 do que para o grupo de gestantes do Q1 (3,345 L; 92%). O grupo de gestantes do Q4 de O3 mostrou o VEF1 estatisticamente maior eno T1 (102,5%) do que no T3 (95,5%) (p < 0,001). Independentemente do trimestre, o grupo de gestantes do Q4 do MP10, teve valores absolutos da CVF (T1: 3.520 L; T3: 3,265 L) e os valores de VEF1 (T1: 2,915 L; T32.840 L) foram estatisticamente menor do que para o grupo em Q1 (FVC - T1: 3.780 L; T3: 3.580 L) (FEV1 - T1: 3.180 L; T3: 3.065 L) p = 0,040; p = 0,035, respectivamente. Valores absolutos e preditos do pico de fluxo expiratório (PEF) em T1 das mulheres do Q4 (5,995 L; 80%) do MP10 foram estatisticamente menores do que para as mulheres no Q1 (6,675 L; 85%) (p = 0,006; p = 0,041 , respectivamente). Mulheres grávidas em Q4 (0,835 L) do MP10 tiveram os valores da relação VEF1/CVF estatisticamente menores valores do que as mulheres do Q1 (0,850 L) (p = 0,029). Conclusão: Exposição a NO2 e O3 foi associada com o aumento de alguns dos parâmetros de espirometria, indicando a presença de uma possível função de defesa pulmonar ou mecanismo compensatório em mulheres grávidas, quando expostos a esses poluentes. O MP10 foi associado com a redução de alguns parâmetros de espirometria durante a gravidez, indicando os efeitos danosos do poluente para a função do pulmão de mulheres grávidas / Introduction - Air pollution can lead to alterations to the respiratory system, particularly among certain groups, such as pregnant women, which are more vulnerable to the effects of air pollutants. Pregnancy is a period involving functional and anatomical changes in a woman\'s body. These changes include pulmonary function, which can be assessed by spirometry, a simple, inexpensive and effective method. Objectives - The aims of this study were to use spirometry to evaluate pulmonary function in pregnant women in the first trimester (T1) and the third trimester (T3) of pregnancy and to analyze the influence of air pollution exposure on the spirometry parameters. Methodology - This study was carried out at the Obstetrics Clinic of Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) between May 2011 and August 2013. The following inclusion criteria were applied: singleton pregnancy, 13.86 weeks gestational age at the first spirometry, no preexisting maternal diseases, adequate preparation for the spirometry test and individual passive samplers (IPAs) suitable for analysis. The exclusion criteria were change of address, abortion, inadequate spirometry testing and withdrawal from the project. The exposure to pollutants prior to the spirometry tests was assessed in T1 and T3. The passive samplers containing two cellulose filters soaked with absorbent solution to capture NO2 levels and two other filters soaked with indigo solution to measure O3 levels were provided to the pregnant women roughly 12 days prior to the spirometry test. Data from the environmental Company of São Paulo State (CETESB) annual report for the same period the passive samplers were used. For the spirometry, a Koko spirometer was used, taking the two best curves to assess lung function results. Statistical Analysis - We used Mann- Whitney tests for independent groups and Wilcoxon for the dependent ones. Due to the small variation in the exposure to pollution, exposure in the first quarter (Q1) and fourth quarter (Q4) were compared for each pollutant in T1 and T3 through non-parametrical analysis for repeated measurements. Results - It has been noted a significant statistical reduction of absolute and predicted forced vital capacity (FVC) values (3.690 L; 3.475 L) and forced expiratory volume during the first second of the procedure (FEV1) (3.080 L; 2.950 L) from T1 to T3. Exposure to pollution was similar in both trimesters, except for exposure to NO2 in the passive sampler, which was lower in T3 (p = 0.001). Regardless of the trimester (T1 or T3), the group of pregnant women in Q4 (97.5%; 98.5%) of NO2 had statistically higher predicted forced expiratory values of 25 to 75% of the procedure (FEF25-75%) than the group in Q1 (80%; 92%). Pregnant women in Q1 of NO2 had a significant increase in this parameter from T1 to T3 (p = 0.042). In terms of absolute FEV1/FVC values, pregnant women in Q1 showed a statistically significant rise in this parameter from T1 (0.810 L) to T3 (0,840 L) (p = 0,026). In T3, absolute and predicted FVC values were statistically higher for the group of pregnant women in Q4 (3.535 L; 100.5%) of NO2 than for the group of pregnant women in Q1 (3.345 L; 92%). Pregnant women in Q4 of O3 displayed statistically higher FEV1 values in T1 (102.5%) than in T3 (95.5%) (p < 0.001). Regardless of trimester, for the group of pregnant women in Q4 of MP10, absolute FVC (T1:3 .520 L; T3: 3.265 L) and FEV1 values (T1: 2.915 L; T3: 2.840 L) were statistically lower than for the group in Q1 (FVC - T1: 3.780 L; T3: 3.580 L) (FEV1 - T1: 3.180 L; T3: 3.065 L) p = 0.040; p = 0.035 respectively. Absolute and predicted peak expiratory flow (PEF) in T1 of pregnant women in Q4 (5.995 L; 80%) of MP10 were statistically lower than for the pregnant women in Q1 (6.675 L; 85%) (p = 0.006; p = 0.041, respectively). Pregnant women in Q4 (0.835 L) of MP10 displayed statistically lower absolute FEV1/FVC values than the pregnant women in Q1 (0.850 L) (p = 0.029). Conclusion - Exposure to NO2 and O3 was associated with the increase in some of the spirometry parameters, indicating the presence of a possible lung function defense or compensatory mechanism in pregnant women when exposed to those pollutants. The MP10 was associated with the reduction of some spirometry parameters during pregnancy, indicating the harmful effects of that pollutant to the lung function of pregnant women
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-20052015-114916 |
Date | 11 March 2015 |
Creators | Luciana Duzolina Manfré Pastro |
Contributors | Rossana Pulcineli Vieira Francisco, Mário Henrique Burlacchini de Carvalho, Eduardo Sérgio Valério Borges da Fonsêca |
Publisher | Universidade de São Paulo, Medicina (Obstetrícia e Ginecologia), USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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