O químico e escritor italiano Primo Levi (1919-1987), sobrevivente de Auschwitz, construiu um dos testemunhos mais importantes da segunda metade do século XX. Esta pesquisa tem como desígnio maior converter algumas questões que aparecem em duas de suas autobiografias mais impactantes sobre o campo de extermínio É isso um Homem? e Os Afogados e os Sobreviventes em problemas de caráter sociológico, na tentativa de contribuir na seara de investigações aberta pelos depoimentos desse intelectual ítalo-judeu. Gostaria de interpretar seu testemunho como fonte documental, em que seja possível apreender aspectos informativos de denúncia, rastros de dor, violência e morte que assinaram com sangue nossa era. Assim, em um primeiro momento, busco dar voz e espaço à memória de Levi e à sua narração sobre o cotidiano das agressões no Lager, a sociabilidade comum àquele ambiente infernal, os tipos humanos ali dispostos e a dificuldade de comunicação surgida em função da violência descomedida e do rebaixamento de alguns à condição de escravos. A partir disso, passo a tecer algumas reflexões sobre seu testemunho, explorando, principalmente, o chão aporético sobre o qual ele se desenvolveu: fragmentado, lacunar, impossível em sua inteireza, mas absolutamente necessário. Tentarei verificar, nessa medida, os limites na construção do testemunho da barbárie e as possibilidades encontradas por Primo Levi na representação e transmissão da experiência vivida. Afinal, qual o potencial do testemunho na geração de novos conhecimentos sobre esse evento traumático que foi Auschwitz? E em que medida a obra-testemunho de Levi pode ser tida como instrumento de transmissão de experiência e conhecimento sobre esse passado? Tais questões são importantes porque pensar o testemunho de Primo Levi a partir de um conjunto de elementos que encontra na noção de memória seu eixo decisivo faz do testemunho não apenas um objeto de análise histórica, mas, ainda, fonte privilegiada para refletir sobre violências em outros contextos. / The Italian writer and chemist Primo Levi (1919-1987), survivor of Auschwitz, created one of the most important testimonies of the second half of the twentieth century. In this research, my aim is to convert some of the questions that appear in two of his most striking autobiographies about the extermination camp Survival in Auschwitz and The Drowned and the Saved in problems of sociological character, attempting to contribute to the field of investigations opened by the testimonies of the Jewish-Italian intellectual. I wish to interpret his testimony as a documentary source, where it is possible to apprehend informative aspects of denunciation, traces of pain, violence and death things that have signed our era with blood. Thus, in the first moment, I seek to give voice and space to the memory of Levi and to his narration about the daily aggressions in the Lager, the usual sociability in that hellish place, the human types who were striving there, and the difficulty in communication emerged as a result of the immense violence and the relegation of some people to the slave condition. From this point, I get to make some reflections about his testimony, exploring mainly the aporetic groundings on which it developed: being fragmented, incomplete and impossible in its entirety, but absolutely necessary. In these terms, I will try to verify the limits to the construction of a testimony of the barbarism and the possibilities found by Primo Levi in the representation and transmission of his experience. After all, I question about the potential of the testimony to generate new knowledge about such a traumatic event as Auschwitz has been. I also question to which extent Primo Levi\'s testimonial work can be taken as a mechanism for transmitting the experience and knowledge about that past. These questions are important because to address Levis testimony parting from a set of elements that find in the notion of memory its decisive axis makes the testimony not only an object of historical analysis, but also a prime source to reflect on violence in other contexts.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-17122013-122149 |
Date | 11 October 2013 |
Creators | Lucas Amaral de Oliveira |
Contributors | Maria Helena Oliva Augusto, Jose Carlos Bruni, João Carlos Soares Zuin |
Publisher | Universidade de São Paulo, Sociologia, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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