Introdução: A esquizofrenia é um transtorno mental de evolução crônica que causa sofrimento para o doente e sua família. Traz ao paciente prejuízo severo capaz de interferir amplamente na capacidade de atender às exigências da vida e da realidade, podendo torná-lo frágil diante de situações estressantes e aumentar o risco de suicídio. Para a família, a experiência de conviver com um membro portador desse transtorno tem sido comparada à jornada sob a tempestade. Primeiramente, há dificuldade de perceber o aparecimento da doença, com a definição do diagnóstico, os familiares variam em suas reações. Ao entrar em contato com o sistema de saúde mental, a família aprende uma nova linguagem, que é a linguagem dos profissionais de saúde. Essa nova linguagem deverá ser ajustada ao senso comum convencional do contexto familiar, de modo que possibilite compreender e tratar o adoecimento. Assim, a família cria uma linguagem para descrever sua experiência com o adoecimento mental. A pergunta desta pesquisa é: quais expressões as famílias utilizam para descrever o adoecimento de um familiar? Objetivo: identificar as expressões utilizadas por familiares para descrever a experiência de conviver com o adoecimento mental. Metodologia: Trata-se de pesquisa que realiza análise dos relatos de familiares por meio do software Analyse Lexicale par Contexte d\'um Ensemble de Segments de Texte (ALCESTE), contendo uma quantidade considerável de testes estatísticos, organizados para realizar análise de dados textuais. O ALCESTE contém metodologia de análise de dados qualitativos que se adequa a qualquer domínio de investigação, em que se pretenda tratar material textual, principalmente no que se refere à sua composição lexical e estruturação temática. Resultados e Discussão: A análise realizada pelo ALCESTE forneceu quatro classes agrupadas duas a duas: Classe 2 -- início da doença e Classe 4 -- início do tratamento; Classe 1 -- convivência e Classe 3 - cotidiano. Um conjunto de palavras e frases descrevem cada uma das classes. Início da doença: \"começou a doença\", \"adoecimento\", \"antes da doença\". Início do tratamento: \"internações\", \"tratamento\", \"remédio\". Convivência: \"difícil\", \"futuro\", \"esperança\". Cotidiano: \"cuidado\", \"sozinho\", \"preocupa\". Os resultados indicam que o período entre perceber a mudança de comportamento e o diagnóstico, geralmente culminando com a primeira internação, é carregado de sentimentos, de vivências de ter que lidar com comportamentos estranhos, violentos e o isolamento do doente. Depois, quando a medicação fez efeito, vivem um momento mais feliz, com mais esperança e atribuem essa melhora à medicação. Os familiares fazem reflexões sobre o passado, que no início precisavam de mais informações e se as tivessem, talvez a convivência não tivesse sido tão sofrida como foi. Mas o tempo de convivência possibilita melhor compreensão e aceitação da doença. Também desenvolveram algumas rotinas: como não deixar o familiar doente sozinho, observar se ele está tomando a medicação, mantendo, assim, um cuidado supervisionado que se incorporou ao cotidiano familiar. Conclusão: Os momentos descritos pelos familiares foram identificados por expressões, palavras e termos utilizados pelos mesmos em suas narrações. A pesquisa reafirma os dados encontrados nas pesquisas que forneceram as entrevistas analisadas neste estudo. Essas pesquisas anteriores utilizaram método de análise qualitativo tradicional, no qual o pesquisador lê várias vezes o material coletado, destaca as partes relevantes e as agrupa em categorias gerais criadas por ele para descrever o fenômeno investigado. Nesta pesquisa, a organização dos dados, o processo de agrupar trechos, criar classes e estabelecer a relação existente entre as mesmas foi feito com base na análise léxica das palavras de um conjunto de textos fornecido pelo software ALCESTE. Desse modo, a principal contribuição deste estudo foi trazer a linguagem dos familiares para descrever os momentos do adoecimento através de uma metodologia de análise mais distante do pesquisador. / Introduction: schizophrenia is a mental disorder of a chronic course that causes pain for both the patient and his family. It brings the patient severe prejudice that can interfere strongly in the ability to meet the demands of life and reality, making the patient fragile before stressful situations and increase the risk of suicide. For the family, the experience of living with a bearer of this disorder has been compared to the journey under the storm. First, there are difficulties identifying the onset of the disease with diagnostic definition, family members vary in their reactions. When in contact with the mental health system, the family learns a new language, which is the language of health professionals. This new language should be adjusted to the conventional wisdom of the family context, so that makes it possible to understand and treat the illness. Thus, the family creates a language to describe their experience with the mental illness. The question of this research is: which expressions families use to describe the family member\'s illness? Objective: identify expressions used by family members to describe the experience of living with the mental illness. Methodology: it\'s a research that conducts analysis of family reports through a software called Analyse Lexicale par Contexte d\'um Ensemble de Segments de Texte (ALCESTE), which contains a considerable amount of statistical tests organized to perform analysis of textual data. ALCESTE contains methods of analysis of qualitative data that fit for any field of research, treating textual material, mainly related to its lexical structure and composition of subject. Results and Discussion: the analysis performed by ALCESTE provided four classes grouped into two pairs: Group 2 - beginning of the illness and Group 4 - beginning of treatment; Group 1 - familiarity and Group 3 - daily routine. A group of words and phrases describe each group. Beginning of illness: \"the illness started\", \"illness\", \"before the illness\". Beginning of treatment: \"hospitalization\", \"treatment\", \"medicine\". Familiarity: \"difficult\", \"future\", \"hope\". Daily routine: \"take care\", \"alone\", \"it worries\". The results show that the time among noticing the behavior change and the diagnosis, normally culminating in the first hospitalization, it\'s full of feelings, experiences of dealing with strange and violent behaviors and the patient isolation. Then, when medications had effect, they live a happier and hopeful moment, and attribute this improvement to medication. Family members reflect about past, where at first they needed more information and if they had them, maybe familiarity hadn\'t been so painful as it was. But familiarity periods create better comprehension and acceptance of the desease. They also solved some routines: as not letting the sick family member alone, checking if he\'s been taking the medicine, and supervising the familiar routine.Conclusion: The moments described by family members had been identified by expressions, words and terms used by them. The research reassures the data found in the research which provided the interviews analysed in this study. These previous studies used traditional qualitative analysis method, where the researcher reads the collected material several times, highlights the relevant parts and groups them in general categories created by him to describe the phenomenon under investigation. On this research, data organization, the process of grouping parts, creating groups and establishing the relationship between them were performed based on the lexical analysis of words from a group of texts provided by ALCESTE software. This way, the main contribution of this study was to bring the language of the family members to describe the moments of illness through an analysis methodology farther from the researcher.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-14012011-091733 |
Date | 26 November 2010 |
Creators | Laís Mariana da Fonseca |
Contributors | Sueli Aparecida Frari Galera, Luciana de Almeida Colvero, Edilaine Cristina da Silva Gherardi Donato |
Publisher | Universidade de São Paulo, Enfermagem Psiquiática, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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