A depressão materna é reconhecida como uma adversidade ao comportamento infantil. O estudo se insere em lacunas apontadas pela literatura quanto à necessidade de abordar, de forma combinada, múltiplas condições contextuais de risco e proteção associadas à depressão materna. Objetivou-se identificar condições de risco e de proteção para problemas comportamentais de crianças que convivem com a depressão materna, em comparação a crianças que convivem com mães sem transtornos psiquiátricos, focalizando estressores, práticas parentais positivas e suporte social, e as possíveis associações entre essas variáveis. Avaliou-se 100 díades mães-crianças, distribuídas em dois grupos: G1 50 díades mães-crianças, cujas mães apresentaram história de depressão recorrente; e G2 50 díades mães-crianças, cujas mães não apresentaram transtornos psiquiátricos. A identificação das mães participantes foi feita junto a serviços de saúde de Ribeirão Preto - SP, e as crianças, de ambos os sexos, com idade entre sete e 12 anos, foram identificadas por meio de suas mães. Procedeu-se à coleta de dados com mães e crianças em situação individual face a face. As mães responderam aos seguintes instrumentos: (a) Entrevista Clínica Estruturada para o DSM-IV; (b) Questionário Geral; (c) Questionário de Capacidades e Dificuldades; (d) Inventário de Recursos do Ambiente Familiar; (e) Escala de Eventos Adversos; (f) Escala de Adversidade Crônica e (g) Entrevista com Roteiro Semi-Estruturado para a avaliação de estressores, práticas parentais positivas e suporte social. As crianças responderam ao teste das Matrizes Progressivas Coloridas de Raven e ao Teste do Desempenho Escolar. Os instrumentos foram codificados conforme as normas técnicas e as entrevistas foram transcritas e codificadas, tendo por referência categorias pré-definidas. Para a análise dos dados, utilizou-se: Teste Exato de Fisher, Teste t-Student, Análise de Regressão Logística Bivariada e Correlação de Pearson, adotando-se o nível de significância de p 0,05. Verificou-se nas comparações entre os grupos, que G1 apresentou significativamente mais indicadores de problemas comportamentais das crianças (x G1 = 15,12 e x G2 = 9,08), mais eventos adversos (x G1 = 14,08 e x G2 = 8,38), mais adversidades crônicas (x G1 = 3,92 e x G2 = 2,22), mais estressores no total (x G1 = 29,63 e x G2 = 17,91), menos recursos do ambiente familiar (x G1 = 57,76 e x G2 = 62,12), menos práticas parentais positivas envolvendo sensibilidade ao outro (x G1 = 70,00 e x G2 = 90,00) e menos suporte social no total (x G1 = 33,19 e x G2 = 37,14). Identificaram-se correlações moderadas e significativas dos problemas comportamentais das crianças de G1 com: estressores relacionados às crianças, suporte social total e proveniente da rede de apoio; e de G2 com: estressores total e referentes ao contexto geral, ao contexto familiar e relacionados às crianças, práticas parentais positivas total e envolvendo sensibilidade ao outro. Verificou-se a presença de múltiplas adversidades no ambiente familiar de convivência com a depressão materna, caracterizando um contexto com risco cumulativo, tendo o suporte social se caracterizado como uma condição de proteção para tais famílias. Considera-se que tais dados podem contribuir para o planejamento de estratégias de prevenção e intervenção em saúde mental materna e infantil. / Maternal depression is well-documented as a risk factor in the development of child behaviour. There is, however, a gap in the literature concerning multiple simultaneous influences of behavioural problems in children of depressed mothers. This study helps fill this gap by identifying multiple risk and protective factors with regards to behavioural problems in children of depressed mothers, relative to children of mentally healthy mothers. The study focused on stressors, positive parental practices, social support and possible correlations between these variables. One-hundred mother-child dyads took part in the study, divided in two groups: G1 50 child-mother dyads in which the mothers had a history of recurrent depression; and G2 50 child-mother dyads in which the mothers did not suffer from psychiatric disorders. Mothers, and by extension their children, were recruited from healthcare centres in the city of Ribeirao Preto SP. Children were aged between 6 and 12 years old. Mothers and children took part in individual face-to-face interviews. Mothers completed the following measures: (a) DSM-IV Structured Clinical Interview; (b) General Questionnaire; (c) Strengths and Difficulties Questionnaire; (d) Family Environment Resources Inventory; (e) Adverse Events Scale; (f) Chronic Adversity Scale; (g) Semi-structured interview to assess stress factors, positive parental practices, and social support. Children, in turn, completed the Ravens Colourful Progressive Matrices Scale and the School Performance Test. Scales were coded according to technical norms and interviews were transcribed and analysed in accord with previously defined codes. Data analysis was conducted using Fishers Exact Test, Students t- test, Bivariate Logistic Regression, and Pearson Correlation. Results revealed that, as compared to G2, G1 showed a higher frequency of childrens behavioural problems (x G1 = 15.12 and x G2 = 9.08), more adverse events (x G1 = 14.08 e x G2 = 8.38), greater frequency of chronic adversities (x G1 = 3.92 and x G2 = 2.22), more stress factors in general (x G1 = 29.63 and x G2 = 17.91), less resources in the family environment (x G1 = 57.76 and x G2 = 62.12), less positive parental practices concerning social sensitivity (x G1 = 70.00 and x G2 = 90.00), and generally less social support (x G1 = 33.19 and x G2 = 37.14). The frequency of behavioural problems in G1 was positively correlated with stressors concerning the children. Notably, both greater social support in general and support provided by the social network were correlated with fewer problem behaviours for the same group. Similarly, stressors were positively correlated with behavioural problems in G2. Finally, greater frequency of positive parental practices, in particular those reflecting sensitivity to others, were related to fewer behavioural problems in G2. These results point to the presence of multiple adversities in a family environment of maternal depression, which characterizes a context of cumulative risk. However, social support emerged as a protective factor for these families. These results can inform the design of intervention and prevention strategies in the context of maternal and infant mental health.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-28052015-181814 |
Date | 09 April 2015 |
Creators | Ana Paula Casagrande Silva |
Contributors | Sonia Regina Loureiro, Evely Boruchovitch, Edna Maria Marturano |
Publisher | Universidade de São Paulo, Medicina (Saúde Mental), USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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