Esta pesquisa etnográfica focaliza a produção do tecnobrega, uma modalidade de música eletrônica considerada de "mau gosto" estético, associada às periferias da cidade de Belém (Capital do Pará, no norte do Brasil) e a indivíduos/grupos sociais pertencentes a esses espaços urbanos. Consiste basicamente no resultado de manipulações computacionais de timbres, ritmos e melodias realizadas em estúdios por produtores musicais, ainda que o tecnobrega não se encontre relacionado exclusivamente à síntese digital sonora. O seu surgimento/assentamento local, nos anos 2000, remonta o estabelecimento do brega no Brasil, a partir da década de 1960, como um tipo de música alçada ao plano do "povo" através de um discurso midiático nacional de distinção sociocultural concebido no seio das classes médias urbanas emergentes. Igualmente ao brega, o tecnobrega (uma techno-versão do brega, pelo que o próprio nome sugere) também se destaca como música estigmatizada, tanto quanto personagens ligados ao universo da produção musical local carregam o estigma de ser "brega". Por outro lado, produtores, cantores, compositores, entre outros atores sociais que integram a cena musical brega de Belém do Pará se servem da condição de estigmatizados para erigir o tecnobrega como música de resistência, ao mesmo tempo (e ambiguamente) contestando a cultura "dominante" e nela se espelhando. De dentro do campo desta música, busco nesta tese apontar e discutir a re-significação daquilo que no país se vulgarizou como música "degradada", partindo da hipótese de que o tecnobrega consiste em expressão de caráter cosmopolita, assim como a sua produção é conseqüência de um ser/agir cosmopolita refletido em comportamentos, práticas culturais/musicais e no discurso sonoro. A noção de cosmopolitismo, teorizada neste trabalho em termos de tempos e espaços entrecruzados, bem como a dupla acepção do estigma e a relativização da idéia de música de e para a periferia, são analisadas com base na observação de espaços urbanos, em "trajetórias individuais" de artistas brega, em performances e na produção musical, multimídia e tecnológica que caracteriza o tecnobrega. Cosmopolitismo e globalização, mídias e tecnologias, regionalismo e construção de identidades aparecem como questões tratadas dentro de um campo teórico amplo que intersecta a Etnomusicologia, a Sociologia e a Antropologia Social. / This ethnographic research focuses on the production of tecnobrega, a type of electronic music which is considered to be of "bad aesthetic taste" associated to the outskirts of Belém (the capital city of Pará, a state in northern Brazil) as well as to the individuals/social groups belonging to these urban spaces. Tecnobrega consists of computer-manipulated studio-based timbers, rhythms, and melodies, though tecnobrega is not exclusively linked to digital media. Its emergence/local record in the 2000's resorts to the establishment of the brega (tacky) music in Brazil throughout the 1960's, as a type of music led to the sphere of the "populace" through a national mediated discourse of sociocultural distinction conceived within the emerging urban middle classes. As with the brega music, tecnobrega (a technology-based version of brega, as the name itself indicates) is also a stigmatized music in as much as the social actors related to its local production carry the stigma of being "tacky". On the other hand, producers, singers, composers and other social actors related to the brega scene in Belém do Pará make use of this stigmatization in order to establish tecnobrega as resistance music (ambiguously) contesting the mainstream culture whereas mirroring itself in the mainstream. From inside this scenario, I attempt to point out and discuss the re-signification of what in Brazil has been vulgarized as a "degraded" musical style departing from the hypothesis that tecnobrega is an artistic expression of a cosmopolitan character and its production is the consequence of acting/being cosmopolitan which is reflected in behaviors, cultural/musical practices and in its sound discourse. The notion of cosmopolitanism (here theorized as intercrossed time and space), stigma and the relativization of the idea of music of and for the periphery are analyzed on the grounds of the observation of urban spaces, of 'individual trajectories' of brega artists in performances and music production, multimedia and technologies that characterize tecnobrega. Cosmopolitanism and globalization, media and technologies, localism and identity construction are treated within a theoretical perspective which juxtaposes Ethnomusicology, Sociology, and Social Anthropology.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume56.ufrgs.br:10183/17305 |
Date | January 2009 |
Creators | Amaral, Paulo Murilo Guerreiro do |
Contributors | Lucas, Maria Elizabeth da Silva |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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