A interface entre a linguagem e demais funções cognitivas tem sido objeto de estudo e a ampla e extensa distribuição dos circuitos neuronais torna o tema bastante complexo. A dificuldade em avaliar o desempenho cognitivo de afásicos faz com que estes pacientes sejam excluídos em estudos que buscam descrever alterações cognitivas após AVE. A avaliação de linguagem, isoladamente, não permite predizer o desempenho em outras habilidades cognitivas. Além disso, o processamento da linguagem se apóia nas habilidades de atenção, memória e funções executivas. A literatura nacional é escassa neste tema. Este trabalho teve como objetivos: avaliar o desempenho dos indivíduos afásicos em tarefas cognitivas não linguísticas (atenção, memória verbal e não verbal, funções executivas e habilidades visuoespaciais), comparar o desempenho dos afásicos e não afásicos nestas tarefas e relacionar o desempenho dos afásicos nas tarefas cognitivas não linguísticas com a gravidade da afasia. Participaram da pesquisa 47 indivíduos, maiores de 18 anos, de ambos os gêneros, com escolaridade mínima de dois anos, e diagnóstico de primeiro episódio de AVE, confirmado por TC de crânio. Aplicada a seguinte bateria de testes: Protocolo de Praxias Gestuais (TBDA), Fluência verbal semântica (animais) e Fonológica (FAS), Teste de Trilhas A e B, Teste de Cancelamento, Aprendizado de Palavras (CERAD), Aprendizado de Figuras (BBRC-Edu), Praxias construtivas (CERAD), Extensão de Dígitos (ED) e Desenho do Relógio (TDR). A amostra foi dividida em três grupos: afásicos (AF, n=21), não afásicos com lesão em hemisfério esquerdo (NAF E, n = 17) e não afásicos com lesão em hemisfério direito (NAF D, n = 9). O grupo de afásicos foi também subdividido em grupos grave (AFg) e leve (AFl). Não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos nas provas de Cancelamento, Teste de Trilhas, Praxias Construtivas. Os afásicos apresentaram pior desempenho, em comparação aos grupos NAF E e NAF D, nas provas de fluência semântica, praxias gestuais, ED (ordens direta e inversa), Aprendizado de Palavras, Evocação das Praxias Construtivas (pontuação total), Aprendizado de Figuras e TDR. Na prova de extensão de dígitos, ordem direta, constatou-se pior desempenho do grupo AFg, em comparação ao AFl. Foi encontrada correlação entre a gravidade da afasia e o desempenho no teste de extensão de dígitos em ordem direta (rho=0,860, p=0,0001) e ordem inversa (rho=0,543, p=0,0152), e nas provas de praxias gestuais, especialmente nas praxias bucofaciais e respiratórias (rho=0,708, p=0,016). Constatou-se pior desempenho dos grupos AF e NAF E, em comparação ao grupo NAF D, nas provas de reconhecimento de palavras, Aprendizado de Figuras e TDR. Fatores como prejuízo na expressão oral e hemiparesia interferiram no desempenho dos sujeitos afásicos. A literatura aponta e o estudo confirma que os afásicos demonstram grande variabilidade no desempenho. Mostram-se necessários instrumentos mais adequados para a avaliação das habilidades não linguísticas em afásicos, além de estudos que possam ser replicados em diferentes populações. A avaliação do afásico que não considere somente as habilidades linguísticas, mas também outras funções cognitivas, pode auxiliar na elaboração de planejamentos terapêuticos mais adequados e, aumentar a eficácia da terapia de linguagem / The interface between language and other cognitive functions has been studied and the broad and extensive distribution of neural circuits has made the theme become very complex. The difficulty in assessing cognitive performance in aphasic patients excludes these patients from studies describing post-stroke cognitive deficits. Language assessment itself does not allow predicting the performance in other cognitive skills. Furthermore, language processing is supported by other cognitve abilities such as attention, memory, and executive functions. The literature about this theme in Brazil is scarce. This study aimed to evaluate the performance of aphasic patients in non-linguistic cognitive tasks (attention, verbal memory, non-verbal memory, executive functions and visuospatial skills), to compare the performance of aphasic and non-aphasic patients in non-linguistic cognitive tasks, and to correlate the performance of aphasic patients in nonlinguistic cognitive tasks and the aphasia severity. Forty seven individuals over 18 years old were enrolled in this research, both male and female, with minimum schooling level of two years, and diagnosis of first episode of stroke confirmed by CT brain scan. The following battery of tests was applied: Gesture Praxis Protocol (BDAE), Semantic (animals) and Phonemic (FAS) verbal fluency, Trail Making Test A and B, Cancellation Test, Word List Memory (CERAD), Figure Learning (BCB-Edu), Constructional Praxis (CERAD), Digit Span (DS) and Clock Drawing Test (CDT). The sample was divided in three groups: aphasic (AP,n=21), non-aphasic with left hemisphere lesion (NAP E, n = 17), and non-aphasic with right hemisphere lesion (NAP D, n = 9). The group of aphasic patients was also subdivided in severe (APs) and mild (APm). There was no significant statistical difference between the groups in the Cancellation Test, in the Trail Making test, and in the Constructional Praxis. The aphasic presented worse performance in comparison to groups NAP E and NAP D in Semantic fluency task, gesture praxis, DS (forward and backward), Word List Memory, Constructional Praxis recall (total score), Figure Learning, and CDT. In the Digit Span test, forward order, it was observed worse performance of group APs, in comparison to APm. It was verified a correlation between the aphasia severity and the performance in the DS test, forward order (rho=0,860, p=0,0001) and backward order (rho=0,543, p=0,0152), and in the Gesture Praxis test mainly in bucco-facial and respiratory praxis (rho=0,708, p=0,016). It was observed worse performance of groups AP and NAP E, in comparison to group NAP D, in the Word Recognition task, Figure Learning and CDT. The impairment of oral expression and hemiparesis interfered in the performance of aphasic patients. Literature points, and the study confirms, that aphasic patients show great variability in the performance. More adequate instruments for the assessment of non-linguistic skills in aphasic patients are necessary, besides studies that may be replicated in different populations. The assessment oof aphasic patients considering not only linguistic skills, but also other cognitive functions may help in the elaboration of more appropriate therapeutic planning and increase the efficacy of language therapy
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-02062010-163239 |
Date | 23 April 2010 |
Creators | Bonini, Milena Vaz |
Contributors | Radanovic, Marcia |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | Dissertação de Mestrado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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