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Impactos da modernidade sobre as pulsões autodestrutivas: ciências sociais e intervenção psiquiátrica

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas. / Made available in DSpace on 2012-10-20T09:53:36Z (GMT). No. of bitstreams: 0 / Replicamos a pesquisa ecológica de Émile Durkheim na situação brasileira, comparando-a com a de outros países e fazendo correlações com a transição demográfica e epidemiológica, nas duas últimas décadas do século XX. Organizamos uma epidemiologia dos óbitos auto-infligidos no Brasil, por sexo, faixas etárias, regiões e estados. Citamos as linhas de pesquisa acadêmicas, em torno do suicídio, prevalecentes nas ciências humanas, na psiquiatria e na biologia. Encontramos na polifonia do tema um efeito da modernidade tardia, que requer o uso de abordagens interdisciplinares. O suicídio na modernidade é pensado como um problema individual, familiar, social e estatal. É mensurado pela epidemiologia, como incidência em intensificação e como taxa social. Na sociologia funcionalista se explica, na maior parte das vezes, pela anomia, pelo egoísmo e por envolvimentos grupais que cobram posturas sacrificiais altruístas. A taxa, tida como um indicador de miséria moral, mostra aspectos quantificadores de elementos subjetivos presentes na sociedade, designados pela psicanálise como o mal-estar na cultura. Sofre impactos do desenvolvimento, da urbanização e de fatores culturais envolvidos. Pode sofrer incremento pela velocidade do espaço-tempo, na seqüência das transformações que desfiguram os referenciais culturais, em especial na constituição de cidades modernas às custas da migração de pessoas que viviam no campo ou em pequenas aldeias. Medicamente o suicídio na modernidade se decifra pelos transtornos psiquiátricos - mormente depressão, esquizofrenia e toxicomanias - que tornam algumas pessoas mais vulneráveis à idéia de autodestruição e mais suscetíveis a tais impulsos. Há um denodo em lutar contra a morte voluntária e há uma força a favor dela, mostrada nas taxas sociais e nos discursos. O suicídio pode, nos albores do século XXI, ser estudado em detalhes, da cartografia à bioquímica. Nos últimos duzentos anos saiu dos discursos leigos e ingressou no campo reificado dos especialistas. Sua abordagem foi delegada a saberes peritos, em detrimento dos campos jurídico e religioso. Abrigou-se na medicina, mais especificamente na psiquiatria. Encontrou explicação subjetiva na psicanálise. Porém, não há mais metanarrativas todo-abrangentes do suicídio. A modernidade incorpora discursos de níveis diferentes, fragmentados e ambivalentes. Durante o século XX, o tema do suicídio assumiu, na filosofia, um papel importante no interior da discussão sobre a contingência e a existência. O problema shakespeareano de "ser ou não ser", cuja colocação se confunde, na história, com o nascimento da modernidade, é o sinal da abertura para uma ambivalência, que se espraia por todos os aspectos da vida, marcando a construção do sujeito moderno. O suicídio continua sendo um tabu, mas um tabu contestado. Eventualmente manifesta-se como fenômeno altruísta, inalcançável pela psiquiatria. Ao profissional que trabalha com estas situações-limites é fundamental compreender as fronteiras da intervenção sobre a vida humana, evitando o sentimento de onipotência. O sucesso das terapias dependerá do vínculo terapêutico que se puder estabelecer, além da capacidade de correlacionar o saber teórico. Os esforços de esclarecimento popular, pela mídia de massa, são facas de dois gumes capazes de aumentar a circulação de discursos tanáticos, cujo poder de despertar forças incontroláveis é imprevisível.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:repositorio.ufsc.br:123456789/84499
Date January 2003
CreatorsSerrano, Alan Indio
ContributorsUniversidade Federal de Santa Catarina, Lago, Mara Coelho de Souza, Leis, Héctor Ricardo
PublisherFlorianópolis, SC
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Format630 f.| il., grafs., tabs.
Sourcereponame:Repositório Institucional da UFSC, instname:Universidade Federal de Santa Catarina, instacron:UFSC
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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