Return to search

No reino do quero-quero

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Florianópolis, 2009 / Made available in DSpace on 2012-10-24T21:10:58Z (GMT). No. of bitstreams: 1
270323.pdf: 3962992 bytes, checksum: 8823cd04086fae35737c0cf1f04c0f30 (MD5) / Esta tese, ao postular como problema antropológico contemporâneo a mecanização do corpo e a humanização da máquina, objetivou investigar a relação corpo e máquina, técnica e ciência no centro de treinamento de um clube da primeira divisão do futebol brasileiro, tomando como horizonte de análise o ciborgue e o ser-no-mundo. Através do método etnográfico, um trabalho de campo foi realizado entre abril de 2006 e fevereiro de 2007, quando observei a estrutura e organização do clube, a vida cotidiana e os sistemas de treino, além dos agenciamentos da tecnociência e da biomedicina por parte dos especialistas # médicos, fisioterapeutas, técnicos e auxiliares, fisiologista, preparadores físicos, nutricionista... # sobre os corpos dos atletas no centro de treinamento. Este trabalho está dividido em três partes. Na primeira, após discutir teórico-metodologicamente a tese, descrevo o espaço físico e social que o clube ocupa na cidade e as relações vividas pelos atletas numa instituição que guarda características semelhantes às de uma #instituição total#. Ademais, procurei compreender a lógica que preside as relações quando estas são mediadas pela equivalência abstrata do dinheiro. A anatomopolítica e o liberalismo econômico, entre outras questões, estão no fundamento destas primeiras análises. A segunda parte da tese apresenta os procedimentos planejados e realizados pela biomedicina e a tecnociência; analisa a maquinaria agenciada pelos especialistas já referidos e interpreta, a partir das teses da normalização da espécie e do biopoder, como os atletas convivem com as máquinas que escrevem e inscrevem verdades ao investir sobre o corpo seus esforços perscrutadores. Para tanto, etnografei as práticas édico-fisioterápicas, o trabalho do fisiologista e dos preparadores físicos, o treinamento técnico e tático, além da nutrição. O ciborgue, fruto da técnica # que desencobre aquilo que está disponível # e da ciência, vê-se entrelaçado ao conjunto maquínico do CT através da incorporação dos
procedimentos, dos dispositivos e objetos que tal maquinaria põe em ação. Tal incorporação, entretanto, já anuncia a terceira parte da tese, na qual a incomensurabilidade do corpo (do humano) foi tratada. Deslocando o enfoque da relação saber/poder foucaultiana para o ser-no-mundo fenomenológico, discuto, considerando a #indeterminação essencial da existência,# os imponderáveis e a incomensurabilidade do corpo próprio: esta abertura passível de agenciamento pelos atletas. Retomando a reflexão sobre o corpo-máquina, sustento que a dor, a illusio e o se-movimentar estão inscritos neste espaço incontrolável do mundo que habitamos e que tais ordens do vivido estão no campo da mimesis, da poiesis e da esthesis, ou seja, constituem-se em tempo-espaço de criação, de invenção, no qual o novo pode brotar e as relações sociais institucionalizadas numa estrutura em #equilíbrio instável# podem ser substituídas por momentos de comunnitas. Tais aspectos, ainda, destarte a fragmentação do corpo e das práticas através dos procedimentos tecnocientíficos, sugerem também os termos nos quais uma experiência, no sentido benjaminiano, surge como devir possível, haja vista a unidade fundamental corpomundo, esta que o se-movimentar traduz em diálogo através da intercorporeidade e da intersubjetividade. Concluo, por fim, afirmando a tese de que a natureza do corpo próprio é o ponto de partida e o limite da relação corpo-máquina, assim como a ancoragem que possibilita o ciborgue, este ser que incorporou a tecnociência.
Esta tese, ao postular como problema antropológico contemporâneo a mecanização do corpo e a humanização da máquina, objetivou investigar a relação corpo e máquina, técnica e ciência no centro de treinamento de um clube da primeira divisão do futebol brasileiro, tomando como horizonte de análise o ciborgue e o ser-no-mundo. Através do método etnográfico, um trabalho de campo foi realizado entre abril de 2006 e fevereiro de 2007, quando observei a estrutura e organização do clube, a vida cotidiana e os sistemas de treino, além dos agenciamentos da tecnociência e da biomedicina por parte dos especialistas # médicos, fisioterapeutas, técnicos e auxiliares, fisiologista, preparadores físicos, nutricionista... # sobre os corpos dos atletas no centro de treinamento. Este trabalho está dividido em três partes. Na primeira, após discutir teórico-metodologicamente a tese, descrevo o espaço físico e social que o clube ocupa na cidade e as relações vividas pelos atletas numa instituição que guarda características semelhantes às de uma #instituição total#. Ademais, procurei compreender a lógica que preside as relações quando estas são mediadas pela equivalência abstrata do dinheiro. A anatomopolítica e o liberalismo econômico, entre outras questões, estão no fundamento destas primeiras análises. A segunda parte da tese apresenta os procedimentos planejados e realizados pela biomedicina e a tecnociência; analisa a maquinaria agenciada pelos especialistas já referidos e interpreta, a partir das teses da normalização da espécie e do biopoder, como os atletas convivem com as máquinas que escrevem e inscrevem verdades ao investir sobre o corpo seus esforços perscrutadores. Para tanto, etnografei as práticas médico-fisioterápicas, o trabalho do fisiologista e dos preparadores físicos, o treinamento técnico e tático, além da nutrição. O ciborgue, fruto da técnica # que desencobre aquilo que está disponível # e da ciência, vê-se entrelaçado ao conjunto maquínico do CT através da incorporação dos procedimentos, dos dispositivos e objetos que tal maquinaria põe em ação. Tal incorporação, entretanto, já anuncia a terceira parte da tese, na qual a incomensurabilidade do corpo (do humano) foi tratada. Deslocando o enfoque da relação saber/poder foucaultiana para o ser-no-mundo fenomenológico, discuto, considerando a #indeterminação essencial da existência,# os imponderáveis e a incomensurabilidade do corpo próprio: esta abertura passível de agenciamento pelos atletas. Retomando a reflexão sobre o corpo-máquina, sustento que a dor, a illusio e o se-movimentar estão inscritos neste espaço incontrolável do mundo que habitamos e que tais ordens do vivido estão no campo da mimesis, da poiesis e da esthesis, ou seja, constituem-se em tempo-espaço de criação, de invenção, no qual o novo pode brotar e as relações sociais institucionalizadas numa estrutura em #equilíbrio instável# podem ser substituídas por momentos de comunnitas. Tais aspectos, ainda, destarte a fragmentação do corpo e das práticas através dos procedimentos tecnocientíficos, sugerem também os termos nos quais uma experiência, no sentido benjaminiano, surge como devir possível, haja vista a unidade fundamental corpomundo, esta que o se-movimentar traduz em diálogo através da intercorporeidade e da intersubjetividade. Concluo, por fim, afirmando a tese de que a natureza do corpo próprio é o ponto de partida e o limite da relação corpo-máquina, assim como a ancoragem que possibilita o ciborgue, este ser que incorporou a tecnociência. / This thesis, by postulating the mechanization of the body and the humanization of the machine as a contemporary anthropological problem, aimed to investigate the relationship between body and machine, science and technique at a training center of a first division Brazilian soccer team, considering as horizon of analysis the cyborg and the being-in-theworld. Through the ethnographic method, a fieldwork was conducted from April 2006 to February 2007, when I could observe the structure and organization of the club, the everyday life and the training systems, as well as, the some experts agencies of technoscience and biomedicine - doctors, physiotherapists, coaches and coach assistants, physiologist, physical trainers, nutritionists ... # about the bodies of athletes in the training center. This work is divided into three parts. In the first part, after discussing theoretical and methodological aspects of the thesis, I describe the physical and social space that the club occupies in the city and the relationships experienced by athletes at an institution that has characteristics similar to those of a "total institution". Also, I tried to understand the logic that governs the relationship when they are mediated by the abstract equivalence of money. The anatomo-policy and economic liberalism, among other issues, are the basis of these initial analyses. The second part of the thesis presents the procedures designed and made by biomedicine and technoscience; analyses the agencied machinery by the experts already cited and interprets, from the thesis of normalization of the species and the biopower, how the athletes live with the machines that write and form truths to invest their efforts investigated in the body. Thus, I ethnographied the physiotherapeutic and the medical practices, the work of the physiologist and the physical trainers, the technical and tactical training, and, the nutrition. The cyborg, the result of the technique - which discovers what is available - and of the science, is seen as linked to the machines of the training center by incorporating the procedures, the devices and objects that such machinery puts in action. This incorporation, however, announces the third part of the
thesis, in which the incommensurability of the body (the human) is treated. Removing the focus of Foucault´s knowledge/power for the phenomenological being-in-the-world, I discuss, considering the "essential indeterminacy of the existence", the imponderables and the incommensurability of the body itself: this is likely to opening agency by the athletes. Back to the reflection about the body-machine, I say that the pain, the ilusio and the selfmoviment are enrolled in this inscribed area of the world that we live and that such orders of the experienced world are in the field of mimesis, of poiesis and esthesis, in other words, constitute themselves in time and space of creation, invention, in which what is new can germinate and the institutionalized social relationship in a structure in "unstable equilibrium" can be replaced by moments of comunnitas. Those aspects also suggests the fragmentation of the body and the practices through the technoscientific procedures, the terms in which an experience in Benjaminian sense, appear as a possible becoming, in view of considering the fundamental unit body-world, that the self-movement results in a dialogue through intercorporality and intersubjectivity. Finally, I conclude this supporting the thesis that the nature of the body itself is the starting point and the limit of the bodymachine relationship, as well as the anchorage that allows the cyborg, this being that incorporated the technoscience.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:repositorio.ufsc.br:123456789/93367
Date24 October 2012
CreatorsBitencourt, Fernando Gonçalves
ContributorsUniversidade Federal de Santa Catarina, Rial, Carmen Silvia
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
Format1v| il.
Sourcereponame:Repositório Institucional da UFSC, instname:Universidade Federal de Santa Catarina, instacron:UFSC
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

Page generated in 0.0029 seconds