Return to search

Vico e a fratura moderna: o principio do verum-factum e a idéia de história na Ciência Nova

O princípio moderno de que só podemos conhecer aquilo que fazemos ( verum
factum convertuntur) assume na obra de Vico um sentido peculiar. De início,
aproximando-se e distanciando se dos filósofos pós-cartesianos, Vico toma o
princípio do verum-factum como eixo argumentativo para empreender uma
revisão das teses cartesianas frente às criticas céticas. O resultado é a
reivindicação de um espaço legítimo de conhecimento no qual o homem torna-se
senhor de seus próprios objetos. Na obra mais madura, porém, Vico toma este
princípio para se pensar uma “ciência do mundo humano” na sua dimensão
própria – a história. É impossível não reconhecer o tom prometeico desta
conversão. Porém, diferentemente de outros filósofos modernos, Vico não se vale
do princípio do verum-factum como critério de planificação do mundo históricocivil.Aqui
topamos com a outra ponta do fio da idéia viquiana de história: a noção
de “providência”. Como conciliar as duas afirmações? Se a história é fruto de
Deus e não dos homens, com que direito pode-se almejar conhecê-la, uma vez que
só se pode conhecer aquilo que se faz? Trata-se de uma contradição flagrante ou
de um sinal de prudência? Devemos concluir que Vico afim de salvar o
conhecimento histórico, cai numa visão mistificadora, na qual o filósofo que
reflete sobre a história, identificando-se plenamente coma mente divina torna-se
uma espécie de Deus, sendo capaz de abarcar a história na sua totalidade e, ao
mesmo tempo, fazer prognósticos sobre nossa condição futura? Qual o significado
do termo “providência” em Vico e em que sentido “os homens fazem a história”?
Tem sentido considerar Vico um “filósofo da história” no sentido moderno do
termo? O que dizer da separação entre história “sagrada” e “profana” efetuada
pelo autor? Teria Vico dado um passo atrás em relação ao processo de laicização
moderno? Ou, ao contrário, ele antecipou criticamente as dicotomias deste
processo? A fim de responder estas questões, veremos que na verdade as
ambivalências de Vico fazem parte de uma estratégia argumentativa que parece
encarnar o primeiro movimento em que a modernidade revê seus próprios
pressupostos, realiza uma autocrítica, sem contudo abrir mão de uma idéia de
humanidade e de razão. Nossa leitura terá como pano de fundo o contexto
filosófico da tradição renascentista, da qual Vico é considerado o herdeiro tardio,
e as discussões em torno da fundamentação do saber na passagem do século xvii
para o século xviii. É entre estes dois momentos que Vico tenta imprimir sem
sucesso suas idéias, que não por acaso só frutificariam muito tempo depois. _________________________________________________________________________________________ ABSTRACT: The modern principle according to which we can know what we create ( verum
factum convertuntur) has a singular meaning in Vico’s works. In his early works,
sometimes far and sometimes close to the post-Cartesian philosophers, Vico takes
the principle of verum-factum as the argumentative center to make a review of the
Cartesian theses in face of the skeptical critiques. The result is the vindication of a
legitimate place for knowledge in which man is the master of his own objects. In
his late works, however, Vico considers this principle as the setting-off for
thinking about a “science of the human world in its own dimension – history. One
cannot help noticing the Promethean route of this conversion. However,
differently from other modern philosophers, Vico does not take the principle of
verum-factum to be the criterion for planning the civil historical world. Here we
find the other part of the Viconian idea of history: the idea of “providence”. How
to join these two ideas? If history is God’s act not man’s, how can we wish to
know it, since one can only know what one makes? Is it remarkable contradiction
or a mark of prudence? Shall we conclude that Vico, in order to protect the
historical knowledge, falls into a mystifying view, in which the philosopher, as it
identifies himself to the divine mind, becomes a sort of God, being capable to
embrace the whole history, and at the same time make prognostics of our future
condition? What “providence” stands for, according to Vico ? In which sense
“men make history”? Is there a sense in considering Vico as a “philosopher of
history” in the modern sense of term? What can we say about the distinction of
the “sacred” history and the “profane history” made by the author? Did Vico
make a drawback regarding the modern process of laicization? Or, contrary, did
he advance critically the dichotomies of this process? In order to answer these
questions we shall see that, in fact, Vico’s ambivalences are part of an
argumentative strategy that seems to engender the first moment in which
modernity make the review of its own assumptions, enacts an auto-critique,
without giving up of an idea of humanity an for reason. Our work shall have, as
its background, the philosophical context of renaissance, of which Vico is
considered a late heir, and the debate of the foundation of knowledge between
XVIIth an the XVIIth century. It is between these two moments that Vico
manages to establish successfully his ideas, which would bear fruits much later.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:ri.ufs.br:riufs/1406
Date January 2004
CreatorsPereira Filho, Antônio José
ContributorsSouza, Maria das Graças de
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis
Sourcereponame:Repositório Institucional da UFS, instname:Universidade Federal de Sergipe, instacron:UFS
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

Page generated in 0.0031 seconds