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Vico e a fratura moderna: o principio do verum-factum e a idéia de história na Ciência Nova

Pereira Filho, Antônio José January 2004 (has links)
O princípio moderno de que só podemos conhecer aquilo que fazemos ( verum factum convertuntur) assume na obra de Vico um sentido peculiar. De início, aproximando-se e distanciando se dos filósofos pós-cartesianos, Vico toma o princípio do verum-factum como eixo argumentativo para empreender uma revisão das teses cartesianas frente às criticas céticas. O resultado é a reivindicação de um espaço legítimo de conhecimento no qual o homem torna-se senhor de seus próprios objetos. Na obra mais madura, porém, Vico toma este princípio para se pensar uma “ciência do mundo humano” na sua dimensão própria – a história. É impossível não reconhecer o tom prometeico desta conversão. Porém, diferentemente de outros filósofos modernos, Vico não se vale do princípio do verum-factum como critério de planificação do mundo históricocivil.Aqui topamos com a outra ponta do fio da idéia viquiana de história: a noção de “providência”. Como conciliar as duas afirmações? Se a história é fruto de Deus e não dos homens, com que direito pode-se almejar conhecê-la, uma vez que só se pode conhecer aquilo que se faz? Trata-se de uma contradição flagrante ou de um sinal de prudência? Devemos concluir que Vico afim de salvar o conhecimento histórico, cai numa visão mistificadora, na qual o filósofo que reflete sobre a história, identificando-se plenamente coma mente divina torna-se uma espécie de Deus, sendo capaz de abarcar a história na sua totalidade e, ao mesmo tempo, fazer prognósticos sobre nossa condição futura? Qual o significado do termo “providência” em Vico e em que sentido “os homens fazem a história”? Tem sentido considerar Vico um “filósofo da história” no sentido moderno do termo? O que dizer da separação entre história “sagrada” e “profana” efetuada pelo autor? Teria Vico dado um passo atrás em relação ao processo de laicização moderno? Ou, ao contrário, ele antecipou criticamente as dicotomias deste processo? A fim de responder estas questões, veremos que na verdade as ambivalências de Vico fazem parte de uma estratégia argumentativa que parece encarnar o primeiro movimento em que a modernidade revê seus próprios pressupostos, realiza uma autocrítica, sem contudo abrir mão de uma idéia de humanidade e de razão. Nossa leitura terá como pano de fundo o contexto filosófico da tradição renascentista, da qual Vico é considerado o herdeiro tardio, e as discussões em torno da fundamentação do saber na passagem do século xvii para o século xviii. É entre estes dois momentos que Vico tenta imprimir sem sucesso suas idéias, que não por acaso só frutificariam muito tempo depois. _________________________________________________________________________________________ ABSTRACT: The modern principle according to which we can know what we create ( verum factum convertuntur) has a singular meaning in Vico’s works. In his early works, sometimes far and sometimes close to the post-Cartesian philosophers, Vico takes the principle of verum-factum as the argumentative center to make a review of the Cartesian theses in face of the skeptical critiques. The result is the vindication of a legitimate place for knowledge in which man is the master of his own objects. In his late works, however, Vico considers this principle as the setting-off for thinking about a “science of the human world in its own dimension – history. One cannot help noticing the Promethean route of this conversion. However, differently from other modern philosophers, Vico does not take the principle of verum-factum to be the criterion for planning the civil historical world. Here we find the other part of the Viconian idea of history: the idea of “providence”. How to join these two ideas? If history is God’s act not man’s, how can we wish to know it, since one can only know what one makes? Is it remarkable contradiction or a mark of prudence? Shall we conclude that Vico, in order to protect the historical knowledge, falls into a mystifying view, in which the philosopher, as it identifies himself to the divine mind, becomes a sort of God, being capable to embrace the whole history, and at the same time make prognostics of our future condition? What “providence” stands for, according to Vico ? In which sense “men make history”? Is there a sense in considering Vico as a “philosopher of history” in the modern sense of term? What can we say about the distinction of the “sacred” history and the “profane history” made by the author? Did Vico make a drawback regarding the modern process of laicization? Or, contrary, did he advance critically the dichotomies of this process? In order to answer these questions we shall see that, in fact, Vico’s ambivalences are part of an argumentative strategy that seems to engender the first moment in which modernity make the review of its own assumptions, enacts an auto-critique, without giving up of an idea of humanity an for reason. Our work shall have, as its background, the philosophical context of renaissance, of which Vico is considered a late heir, and the debate of the foundation of knowledge between XVIIth an the XVIIth century. It is between these two moments that Vico manages to establish successfully his ideas, which would bear fruits much later.
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O Despertar da Presença: a Tensão Epistemológica na Filosofia da História de Gumbrecht

BRITO, T. V. 25 July 2014 (has links)
Made available in DSpace on 2016-08-29T14:12:13Z (GMT). No. of bitstreams: 1 tese_5869_Thiago Brito Correta - dissertação completa.pdf: 804544 bytes, checksum: f6c66d627c280f35df2c73b61e6f90a5 (MD5) Previous issue date: 2014-07-25 / Essa pesquisa investiga a obra de Hans-Ulrich Gumbrecht e tenta produzir a partir de então, uma biográfica intelectual do autor. A partir daí proponho uma interpretação do lugar que Gumbrecht ocupa nas humanidades atualmente, apresentando suas influências e produções de conceitos originais, tais como presença e stimmung. Destaco também as possibilidades teóricas que sua obra oferece ao trabalho do historiador como reflexão no campo da filosofia da história, além de verificar qual a natureza da tensão epistemológica presente também nas obras de Gumbrecht. Por fim tento esboçar uma arqueologia de sua singular compreensão sobre a temporalidade pós-moderna
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O heroísmo na poética de Platão : uma biografia filosófica no drama dos diálogos /

Carvalho, Rafael Virgílio de. January 2018 (has links)
Orientadora: Andrea Lúcia Dorini de Oliveira Carvalho Rossi / Banca: Ivan Esperança Rocha / Banca: Germano Miguel Favaro Esteves / Banca: Nelson de Paiva Bondioli / Banca: Amanda Giacon Parra / Resumo: Para interpretar historicamente o pensamento de Platão é preciso, inicialmente, fazer uma pergunta essencial: quem foi Platão? A resposta tende a ser múltipla quando dada por um historiador que vive o cotidiano da Pós-Modernidade. Assim, pode-se dizer que Platão foi um grego que viveu de 429 a. C. a 348 a. C., membro de uma família aristocrática que descendia do legislador Sólon, cidadão de Atenas, filósofo e discípulo de Sócrates, escritor que compôs inúmeros diálogos socráticos e chefe de um thiasos filosófico chamado Academia. Porém, esses aspectos só ficam claros se Platão for visto como um sujeito histórico, o que implica compreender o seu pensamento como ação recortada por práticas socioculturais que o sujeitavam, fazendo-o incorporar certas disposições que lhe permitia transitar por entre os diferentes campos da sociedade. Para tanto, os diálogos platônicos terão que ser lidos com preocupações historiográficas, mediante pressupostos teóricos, que consigam projetá-los como meio pelo qual este sujeito se relacionava com o campo literário de Atenas. Com o objetivo de reconstruir a biografia de Platão, a análise tem que ser direcionada para a materialidade que determina a sintaxe através da qual a filosofia platônica foi enunciada, isto é, a sua prática de escrita. A dramaticidade, sob a forma do heroísmo socrático, torna-se ponto de convergência da investigação dado que indica as escolhas peculiares vividaspor um sujeito e efetivadas em meio às regras socioculturais que definiam o campo literário no qual Platão escreveu os seus diálogos / Abstract: To interpret Plato's thought historically, one must first ask an essential question: who was Plato? The answer tends to be multiple when given by a historian who lives the daily postmodernity. Thus it can be said that Plato was a Greek who lived from 429 BC. C. to 348 a. C., member of an aristocratic family that descended from the legislator Solón, citizen of Athens, philosopher and disciple of Sócrates, writer that composed numerous Socratic dialogues and head of a philosophical thiasos called Academy. However, these aspects are only clear if Plato is seen as a historical subject, which implies understanding his thought as an action cut by sociocultural practices that subjected him, making him incorporate certain provisions that allowed him to move through the different fields of society . For this, the Platonic dialogues will have to be read with historiographical concerns, by means of theoretical presuppositions, that can project them as a means by which this subject was related to the literary field of Athens. In order to reconstruct Plato's biography, the analysis has to be directed to the materiality that determines the syntax by which Platonic philosophy was enunciated, that is, its writing practice. Dramaticity, in the form of Socratic heroism, becomes a point of convergence of inquiry, since it indicates the peculiar choices lived by a subject and made effective in the midst of the sociocultural rules that defined the literary field in which Plato wrote his dialogues / Doutor
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Progresso moral na filosofia da história de Kant entre 1781 e 1788

II, João Roberto Barros 20 December 2006 (has links)
Made available in DSpace on 2015-03-04T21:01:06Z (GMT). No. of bitstreams: 0 Previous issue date: 20 / Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior / A pesquisa tem como foco principal ressaltar os pontos de contato dos textos de Filosofia da História com os textos do considerado período crítico, 1781 a 1788, de Immanuel Kant (1704-1784). Para tanto, é feita uma explanação introdutória a respeito do tratamento dado por Kant aos conceitos de dever, liberdade, imortalidade da alma e Deus, pertinentes a sua Ética nos textos Crítica da Razão Pura, Crítica da Razão Prática e Fundamentação da Metafísica dos Costumes, acrescentado uma reflexão sobre a noção de progresso. Em um segundo momento, é feita uma transição do campo da moral para a Filosofia da História, salientando o papel da espécie humana como noção que sobrepõe e desempenha com maior eficiência o papel antes delegado ao conceito da imortalidade da alma; nesta parte também se procura explorar o conceito de insociável sociabilidade. A partir dessa fase, a pesquisa é direcionada a uma análise das Quarta, Quinta, Sexta e Sétima proposições de Idéia Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita, erigindo-a ao
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O problema da apreensão dos principios no Livro II dos Segundos Analiticos de Aristoteles

Terra, Carlos Alexandre 22 February 2006 (has links)
Orientador: Lucas Angioni / Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciencias Humanas / Made available in DSpace on 2018-08-05T22:11:42Z (GMT). No. of bitstreams: 1 Terra_CarlosAlexandre_M.pdf: 705013 bytes, checksum: 7ba5888677695541a639f5bd834d8087 (MD5) Previous issue date: 2006 / Resumo: Pretendemos estudar a solução apontada por Aristóteles, no livro II dos Segundos Analíticos, para o problema da apreensão dos princípios da ciência. Atentamos para as relações entre os conceitos de indução (epagoge) e inteligência (nous) presentes no capítulo 19, que parecem confirmar que a aquisição dos princípios se dá por meio de um processo de observação empírica. Examinamos o método proposto, nos capítulos 13 a 17, para a correta formulação de definições, o que parece atribuir à dialética a tarefa de descobrir os princípios. Aristóteles parece, assim, indicar dois métodos ¿ de um lado, a observação empírica coroada pela inteligência dos princípios, e, de outro lado, a dialética ¿ para a apreensão dos princípios. Pretendemos estudar possíveis soluções para o problema da concorrência entre esses dois métodos de modo a refutar tanto uma leitura estritamente empirista quanto uma leitura estritamente dialética / Abstract: Our purpose is to study Aristotle¿s solution, in the second book of the Posterior Analytics, for the problem of the apprehension of the principles of science. We attend to the relations between the concepts of induction (epagoge) and intelligence (nous) found in the chapter 19, which seems to confirm that the acquisition of the principles is reached by a process of empirical observation. We examine the method, proposed in chapters 13 to 17, for the right formulation of definitions, which seems to attribute to dialectics the task of finding the principles. Aristotle seems to indicate two different methods ¿ on one hand, the empirical observation followed by intelligence, on other, the dialectics ¿ for the apprehension of the principles. Our purpose is to study possible solutions for the problem of the concurrence between these two methods in order to refute as much a strictly empiricist interpretation as a strictly dialectical one / Mestrado / Mestre em Filosofia
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O conceito de História em Oswald Spengler / The concept of History in Oswald Spengler

Gomes, Augusto Patrini Menna Barreto 12 March 2014 (has links)
A dissertação que se segue trata de investigar as concepções teóricas de Oswald Spengler acerca da história, publicadas em seu livro A Decadência do Ocidente (Der Untergang des Abendlandes), pensando suas implicações para a questão da constituição do conhecimento histórico. Nessa investigação de cunho teórico são importantes, além do conceito de história, também os conceitos de cultura, civilização, vida, decadência e Estado, compreendidos por meio de seu principal texto teórico, assim como seus livros menos conhecidos, sobretudo Socialismo e Prussianismo (Preußentum und Sozialismus) (1920). A Obra de Oswald Spengler, O Declínio do Ocidente (1918/22), é um imbricado ensaio histórico que reúne em seu conteúdo ao mesmo tempo as áreas econômica, política, matemática, artística e cultural, para debatê-las sob uma ótica histórica. O foco deste trabalho encontra-se no conceito de história spengleriano, mas também na sua relação com o problema da identidade alemã, e na necessidade de uma parcela de intelectuais alemães em negar o progresso e a ciência. Desde o movimento Sturm und Drang esses intelectuais procuraram negar as ciências objetivas e os princípios do Iluminismo, procurando alternativas anti-iluministas para a História, para a filosofia e para as ciências. É nesse movimento que se inscreve a tentativa de Oswald Spengler de definir o modo de funcionamento da decadência na estrutura da História, assim como suas tentativas de negar princípios políticos e filosóficos dos iluministas. / The following essay investigates Oswald Spenglers theoretical concepts about history, which were published in his book The Decline of the West (Der Untergang des Abendlandes). It reflects about his implications for the matter of the historical knowledge constitution. In this investigation of theoretical nature, not only the concept of history, but the concepts of culture, civilization, life, decline and State are important. These concepts are understood through his main theoretical text and least popular books, such as Prussiandom and Socialism (Preußentum und Sozialismus) (1920). The work of Oswald Spengler, The Decline of the West (1918/22), is an imbricated historical essay which gathers in its content, areas such as economics, politics, mathematics, art and culture, in order to discuss them through a historical point of view. This research aims at the spenglerian concept of history, its relationship with the German identity issue, and the necessity of an amount of German intellectuals to deny the progress and science. Since the moment Sturm und Drang, these intellectuals had been denying the objective sciences and the Enlightenment principles, searching for anti-illuminist alternatives for History, philosophy and sciences. It is in this movement that Oswald Spenglers attempt to establish the operating way of the decline in Historys structure enrolls, just like his attempts to deny illuminists political and philosophical principles.
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Franz Kafka e Walter Benjamin: contar do tempo interrompido / Franz Kafka and Walter Benjamin: telling the interrupted time

Izabel, Tomaz Amorim Fernandes 03 October 2018 (has links)
Esta pesquisa tem como objeto ler as obras de Franz Kafka e Walter Benjamin a partir dos modos de contar o tempo na Modernidade e de sua relação específica com a interrupção. A tese tenta encontrar gestos de interrupção e repetição na estrutura temporal das histórias curtas, contidas em Contemplação e Um médico rural, da novela A metamorfose e dos romances Amerika ou o Desaparecido, O processo e O castelo de Franz Kafka, assim como na crítica de juventude, na Crítica da violência, na Origem do Drama Barroco alemão, em alguns ensaios da década de 1930, em alguns cadernos das Passagens e nas teses Sobre o conceito de história de Walter Benjamin, buscando estabelecer assim uma relação histórica mais ampla com a sensibilidade moderna do tempo e as possibilidades, interrompidas ou não, do seu contar, como tendência ampla que se lança até a contemporaneidade. Tenta-se mostrar, sobretudo, a maneira com que a interrupção surge nestas obras ao mesmo tempo como cura e sintoma da Modernidade, objetivo a ser alcançado e obstáculo ao seu cumprimento. / This research aims to read the works of Franz Kafka and Walter Benjamin from the perspective of the ways of telling time in Modernity and their specific relation to interruption. The thesis attempts to find gestures of interruption and repetition in the temporal structure of Kafkas short stories, contained in \"Contemplation\" and \"A rural doctor\", the novella \"The metamorphosis\" and the novels \"Amerika or The disappeared\", \"The trial\" and \"The castle\", as well as in Benjamins youth criticism, in \"The critique of violence\", in \"The origin of German Tragic Drama\", in some essays of the 1930s, in the \"Passages\" work and in the theses \"On the concept of History\", seeking to establish a broader historical relationship with the modern sensibility of time and the possibilities, interrupted or not, of its telling, as a broad tendency that spreads to the present. The thesis tries to point, above all, the manner in which the interruption arises in these works as, at the same time, a cure and symptom of Modernity, a goal to be achieved and an obstacle to its own fulfillment.
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Juízo moral, história e revolução em Kant e Fichte / Moral judgement, History and Revolution in Kant and Fichte

Cunha, João Geraldo Martins da 04 April 2008 (has links)
Como julgar um evento político? Com o advento da Revolução Francesa duas perspectivas se abriram aos intelectuais alemães diante desta pergunta: uma em nome da prudência, fundada na história empírica; outra em nome da liberdade, fundada na moral. Na primeira perspectiva, Rehberg, inspirado em Burke, acusou os revolucionários de aplicarem uma \"teoria pura\" na prática política e, por isso mesmo, confundirem a vontade de todos, conceito empírico, com a vontade geral, conceito teórico e puro. Na segunda perspectiva, dois filósofos se opuseram, Kant e Fichte, assumindo como pressuposto comum que a política deve ser julgada à luz do sentido moral da história. Para tanto, partiram de uma ligação estreita entre vontade e razão a partir da qual os conceitos de liberdade e finalidade deveriam ser pensados juntos numa espécie de escatologia moral. Mas, ao transporem a política da Historie para a Weltgeschichte, do plano dos eventos empíricos para o plano do sentido necessário da história, uma segunda questão se pôs: a política deve ser corrigida em nome da moral por meio de reforma ou por meio de revolução? Embora Kant tenha visto a Revolução Francesa como signo histórico do progresso moral da humanidade, isto não o impediu de condená-la juridicamente em nome do princípio da publicidade - que, segundo ele, toda revolução contra o poder constituído acaba por violar. Fichte, por outro lado, ora defende o direito de revolução dos indivíduos contra o estado despótico, ora defende certo despotismo estatal, no que diz respeito ao funcionamento da economia, tolhendo o arbítrio individual dos cidadãos. Posições contraditórias e ao sabor das circunstâncias? Não creio. Sustento que a diferença entre estes dois juízos políticos de Fichte não impede que eles mantenham certa identidade de base. Mas se é sempre em nome da liberdade que a política deve ser julgada, certamente não é a liberdade dos indivíduos que conta do ponto de vista da razão, e sim a libertação da espécie - porquanto cada indivíduo só pode assumir sua identidade no confronto e reconhecimento recíproco com os outros. Ao pretender erigir um \"sistema da liberdade\", fundar a razão numa atividade livre de autodeterminação, a Doutrina-da-ciência abriu caminho para que a liberdade moral se transformasse em libertação social e para que o \"reino dos fins\" chegasse à Terra - mediante uma \"escatologia da imanência\" que operou uma reforma da revolução. / How can one judge a political event? The French Revolution opened up two perspectives for the German intellectuals of the period to answer such question: one under the token of prudence, grounded on empirical history; the other brandishing the flag of liberty, grounded on morals. From the former,A. W. Rehberg, inspired by E. Burke, charged the revolutionaries of applying a \"pure theory\" to political practice, and, due to the same reason, of confusing the will of all, an empirical concept, with the general will, a pure and theoretical concept. From the latter perspective, Kant and Fichte, mutually opposed, assumed as a common premise that politics ought to be judged under the light of the moral meaning of history. In order to accomplish this, they both started from a close link between will and reason from which the conceptions of liberty and finality ought to be thought in connection in a kind of moral Eschatology. However, when they transposed politics from Historie to Weltgeschichte, that is, from the domaine of empirical events to the one of the necessary meaning of history, a second question had to be answered: should politics be corrected for the sake of morals by means of a reformation or of a revolution? Even though Kant saw French Revolution as a historical sign of the moral progress of humanity, such a fact didn\'t prevent him from issuing a legal condemnation of it in defense of the principle of publicity - a principle which, in his view, every revolution fledged against established sovereignty comes to violate. Fichte, on the other hand, sometimes defends the right of individuals to rise revolutionarily against the despotic state, but also seems to approve of certain forms of despotic guidance, concerning the working out of the economy, in the restriction of the individual will of the citizens. Could these be contradictory postions, suggested only by the vicissitudes of the circumstances? I don\'t believe so. I maintain that the difference that lie between these diverse Fichtean political judgments does not hinder the fact that they maintain a certain fundamental identity. But if it is always for the sake of liberty that politics ought to be judged, from the standpoint of reason it certainly is not the liberty of the individuals that counts, but rather the liberation of the species - for each individual can only assume his or her identity in contrast with and through reciprocal recognition of the others. By intending to build up a \"system of liberty\" and to ground reason on an activity free of self-determination, the Doctrine of Science opened up the road for the transformation of moral liberty into social liberation and for the \"kindom of ends\" to come to Earth - by means of a \"Eschatology of immanence\" that operated a reformation of the revolution.
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Progresso e moral na filosfia da história de Kant / Progress and morality in Kant\'s philosophy of history

Nadai, Bruno 07 December 2011 (has links)
Esta tese busca reconstruir a filosofia da história de Kant a partir de duas perspectivas distintas. A primeira delas é de ordem sistemática e procura mostrar o lugar da filosofia da história no interior do sistema da filosofia crítica kantiana, indicando como Kant justifica (por razões teóricas e práticas) a sua concepção teleológica segundo a qual a história pode ser concebida como um progresso jurídico-político e moral da espécie humana. A segunda perspectiva busca reconstruir como Kant expõe o curso do progresso histórico, indicando que o desenvolvimento cultural, civilizatório e político deve ser entendido como condição preparatória ou facilitadora do progresso moral. / This work intends to reconstruct Kants philosophy of history according to two different perspectives. The first perspective is of systematic order and intends to show the place of Kants philosophy of history inside the system of critical philosophy, showing how Kant justifies (through theoretical and practical reasons) his teleological conception according to which the history can be conceived as a political and moral progress of human species. The second perspective intends to reconstruct how Kant exposes the course of historical progress, suggesting that the cultural, civilizing and political development can be understood as a preparatory condition of the moral progress.
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Crítica imanente como práxis: apresentação e investigação no ensaio lukacsiano sobre a reificação / Immanent critique as praxis: presentation and research in Lukác\'s reification essay

Medeiros, Jonas Marcondes Sarubi de 07 March 2013 (has links)
Esta pesquisa trata da originalidade do modo de apresentação do ensaio Reificação e consciência do proletariado, núcleo do livro História e consciência de classe de Georg Lukács. Por meio da análise estrutural do texto e da leitura de sociólogos e filósofos clássicos alemães, de comentadores e de tradutores, concluiu-se que cada uma das três seções do ensaio sobre a reificação porta um andamento específico. A 1ª seção, O fenômeno da reificação, localiza a gênese histórica do comportamento reificado, contemplativo, em processos de racionalização formal. Já a 2ª seção, As antinomias do pensamento burguês, objetiva estabelecer um comportamento prático, não-contemplativo, por meio de um estudo literário do idealismo alemão que se estrutura como uma apresentação propriamente dialética, na qual figuras se sucedem umas às outras, em meio a interversões e viradas em direção a novos princípios. Por fim, na 3ª seção, O ponto de vista do proletariado, a história da filosofia se transforma em filosofia da história; Lukács realiza um estudo histórico centrado na categoria de possibilidade objetiva, inspirado por um procedimento weberiano; trata-se da apresentação de um juízo de imputação causal da práxis o comportamento prático, não-reificado à situação de classe do proletariado, por meio de uma tipologia comparativa que aponta semelhanças estruturais e diferenças cruciais nos modos como cada uma das situações sociais que compõem o modo capitalista de produção vivenciam a reificação. Nas Considerações finais, busca-se, então, esboçar, em linhas muito gerais, um futuro programa de pesquisa que almeja a atualização do método dialético de Lukács, entendido aqui não como modo dialético de apresentação, mas exclusivamente como modo dialético de investigação. / This research deals with the originality of the presentation of the Essay Reification and the Consciousness of the Proletariat, the core of Georg Lukács History and Class Consciousness. Through structural analysis of text and reading of classical German sociologists and philosophers, commentators and translators, it was concluded that each of the three sections of the Reification Essay carries a specific pace/progress. The 1st section, The Phenomenon of Reification, locates the historical genesis of reified, contemplative behavior in formal processes of rationalization. The 2nd section, The Antinomies of Bourgeois Thought, aims to establish a practical, non-contemplative behavior by a literary study of German idealism which is structured as a properly dialectical presentation, in which figures succeed each other by means of interversions and turns toward new principles. Finally, in the 3rd section, The Standpoint of the Proletariat, the history of philosophy becomes philosophy of history; Lukacs conducts a historical study centered in the category of objective possibility, inspired by a weberian procedure; it is the presentation of a judgment of causal attribution of praxis the practical, non-reified behavior to the proletariats class situation, through a comparative typology that points to structural similarities and crucial differences in the ways each of the social situations that comprise the capitalist mode of production experience reification. In Final Considerations, one seeks to sketch, in very general terms, a future research program that aims to update Lukács dialectical method, understood here not as dialectical mode of presentation, but exclusively as dialectical mode of research.

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