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[pt] CONFLITO TRABALHO-FAMÍLIA E INTERSECCIONALIDADE: EXPERIÊNCIAS ARTICULADAS DE MULHERES EM CIRCUITOS DE CUIDADO INFANTIL / [en] WORK-FAMILY CONFLICT AND INTERSECTIONALITY: ARTICULATED EXPERIENCES OF WOMEN IN CHILD CARE CIRCUITSPAULA FURTADO H DE Q MONTEIRO 03 October 2024 (has links)
[pt] Esta tese teve como objetivo compreender, por meio de uma análise de
narrativa temática interseccional, as experiências de conciliação trabalho-família
das diferentes mulheres que compõem circuitos de cuidado infantil. Para atingir
esse objetivo, foram realizadas entrevistas com quatro mulheres que realizam a
atividade de cuidado em domicílio, de forma remunerada ou não, a crianças de 0 a
6 anos de idade e que fazem parte dos diferentes elos de um circuito de cuidado.
Para análise dos depoimentos recolhidos, foi utilizado o método análise de narrativa
temática reflexiva, proposto por Braun e Clarke (2022), junto a um modelo analítico
de narrativa interseccional, sugerido pela autora deste estudo. Os resultados
encontrados foram apresentados em três grandes temas: 1) Peculiaridades
Individuais Inseridas em Conjunturas Sociais de Opressão; 2) Configurações e
Estratégias em um Circuito de Cuidado; e 3) Conflito Trabalho-Família e
Interseccionalidade no Trabalho de Cuidado. Diante da análise de um perfil de
entrevistadas heterogêneo, inicialmente, as peculiaridades individuais de cada uma
foram apresentadas, e colaboraram para dar visibilidade ao contexto social, que foi
pano de fundo para a análise dos outros grandes temas. Em seguida, a análise das
configurações do circuito de cuidado (Guimarães, 2020) pesquisado demonstrou o
entrelaçamento das diferentes interações que constituem a estrutura de cuidado
infantil - destacando quem realiza a atividade de cuidado, qual significado atribui
ao trabalho, qual o tipo de relação social é estipulado para realização do trabalho
(mercantil ou não mercantil) e qual o modo de retribuição (monetária ou não) está
envolvida nessa relação. Foi identificado que as diferentes relações sociais que são
tecidas na organização do cuidado infantil garantem que mulheres que são mães e
que trabalham fora conciliem as suas demandas de cuidado e profissionais. Nesse
sentido, constatou-se que dependente do trabalho de cuidado não é só a criança que
é cuidada, mas também quem depende do trabalho de cuidado executado por outras
pessoas para trabalhar. Além disso, este estudo ratifica que são as mulheres negras
e pobres que realizam a maior parte do trabalho de cuidado no Brasil. Em relação
aos resultados do terceiro grande tema, Conflito Trabalho-Família e
Interseccionalidade no Trabalho de Cuidado, foram demonstrados os motivos
individuais que levam as entrevistadas a vivenciar o conflito trabalho-família, que
foram agrupados em três temas: 1) O Acúmulo de Atividades e o Sentimento de
Culpa; 2) Barreiras da Vida Familiar; e 3) Obstáculos Ligados ao Trabalho
Remunerado. Esses temas surgiram com base na leitura prévia sobre o assunto, mas
dois subtemas foram desvelados à posteriori. São eles: 1) Afetos e Desafetos com
a Trabalhadora de Cuidado Remunerado, que destacou os conflitos vivenciados
pela patroa em relação a trabalhadora de cuidado profissional, que impactam a sua
vida profissional; e 2) Os des(Acordos) e os Efeitos do Trabalho Informal,
referindo-se aos conflitos experimentados pela trabalhadora doméstica que afetam
a sua vida familiar e demonstram a falta de valorização e reconhecimento desse
ofício. A análise de narrativas temática interseccional permitiu identificar, de forma
relacional, as diferentes relações de poder que estão presentes em um circuito de
cuidado, que moldam a forma como as mulheres diversas que o compõem
equilibram as demandas do trabalho e da família. Desta maneira, constatou-se que
o patriarcado, o racismo e a desigualdade econômica são fatores interligados que
privilegiam determinados grupos em detrimento de outros e mantém viva a
exploração das trabalhadoras de cuidado (remuneradas ou não). Desvelar esta
complexa relação que se estabelece de forma invisível aos que olham, mas é
presente aos que a experimentam, as possíveis causas da criação e manutenção das
desigualdades sociais são destacadas e se torna possível iniciar um processo de
justiça social. Nesse sentido, o presente estudo buscou contribuir : 1) para as
organizações, relações de trabalho e estudos de gênero, ao analisar as experiências
das diferentes mulheres que realizam atividades de cuidado no seu cotidiano, as
relações sociais as quais se envolvem e que as permitem se engajar no mercado de
trabalho, os fatores geradores do conflito trabalho-família vivenciado por elas e que
impactam o bom desempenho organizacional e, diante disso, criticar a lógica
patriarcal dominante responsável pela manutenção da divisão sexual do trabalho; e
2) para a sociedade, com um maior entendimento acerca das experiências desiguais
vivenciadas por essas mulheres, provocando uma conscientização acerca do papel
das relações individuais, organizacionais e do Estado na organização do cuidado e
sua incidência na apropriação do tempo de trabalho e energia das mulheres. Por
fim, o estudo buscou explicitar a necessária disponibilização de serviços públicos,
tais como: creches públicas, proteção social e acesso à previdência às donas de casa,
e garantia de direitos que impeçam a exploração do trabalho doméstico e de
cuidado. / [en] This thesis aimed to understand, through an intersectional thematic narrative analysis, the experiences of work-family reconciliation of the different women who make up child care circuits. To achieve this objective, interviews were carried out with four women who provide home care, paid or unpaid, to children aged 0 to 6 years old and who are part of the different links of a care circuit. To analyze the statements collected, the reflective thematic narrative analysis method, proposed by Braun and Clarke (2022), was used, along with an analytical model of intersectional narrative, suggested by the author of this study. The results found were presented in three major themes: 1) Individual Peculiarities Inserted in Social Conjunctures of Oppression; 2) Configurations and Strategies in a Care Circuit; and 3) Work-Family Conflict and Intersectionality in Care Work. Faced with the analysis of a heterogeneous profile of interviewees, initially, the individual peculiarities of each one were presented, and they collaborated to give visibility to the social context, which was the backdrop for the analysis of the other major themes. Next, the analysis of the configurations of the care circuit (Guimarães, 2020) researched demonstrated the intertwining of the different interactions that constitute the child care structure - highlighting who carries out the care activity, what meaning they attribute to work, what type of relationship social is stipulated for carrying out the work (commercial or non-commercial) and what form of retribution (monetary or not) is involved in this relationship. It was identified that the different social relationships that are woven into the organization of child care ensure that women who are mothers and who work outside the home can reconcile their care and professional demands. In this sense, it was found that dependent on care work is not only the child who is cared for, but also those who depend on care work carried out by other people to work. Furthermore, this study confirms that it is poor black women who carry out the majority of care work in Brazil. In relation to the results of the third major theme, Work-Family Conflict and Intersectionality in Care Work, the individual reasons that lead interviewees to experience work-family conflict were demonstrated, which were grouped into three themes: 1) The Accumulation of Activities and the Feeling of Guilt; 2) Barriers to Family Life; and 3) Obstacles Linked to Paid Work. These themes emerged based on previous reading on the subject, but two subthemes were revealed afterwards. They are: 1) Affections and Disaffections with the Paid Care Worker, which highlighted the conflicts experienced by the employer in relation to the professional care worker, which impact her professional life; and 2) Disagreements and the Effects of Informal Work, referring to the conflicts experienced by domestic workers that affect their family life and demonstrate the lack of appreciation and recognition of this job. The analysis of intersectional thematic narratives allowed us to identify, in a relational way, the different power relations that are present in a care circuit, which shape the way in which the diverse women who make up it balance the demands of work and family. In this way, it was found that patriarchy, racism and economic inequality are interconnected factors that privilege certain groups to the detriment of others and keep the exploitation of care workers (paid or unpaid) alive. By unveiling this complex relationship that is established invisibly to those who look, but is present to those who experience it, the possible causes of the creation and maintenance of social inequalities are highlighted and it becomes possible to initiate a process of social justice. In this sense, the present study sought to contribute: 1) to organizations, work relations and gender studies, by analyzing the experiences of different women who carry out care activities in their daily lives, the social relationships in which they engage and that allow them to engage in the labor market, the factors that generate the work-family conflict experienced by them and that impact good organizational performance and, in light of this, criticize the dominant patriarchal logic responsible for maintaining the sexual division of labor; and 2) for society, with a greater understanding of the unequal experiences lived by these women, raising awareness about the role of individual, organizational and State relationships in the organization of care and their impact on the appropriation of work time and energy of women. women. Finally, the study sought to clarify the necessary provision of public services, such as: public daycare centers, social protection and access to social security for housewives, and guaranteeing rights that prevent the exploitation of domestic and care work.
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