[pt] Este trabalho busca fazer um estudo da polêmica no campo expandido das artes, como ato performativo e lugar de potência. Ao contrário da ideia recorrente de polêmica como algo depreciado e carregado de negatividade, - ideia essa reforçada pelos meios de comunicação como desacordo improdutivo-, a polêmica é tratada aqui como fenômeno discursivo e motor de movimentação cultural. A tese investiga a genealogia da polêmica por meio da análise de sua manifestação em diferentes contextos dentro do campo cultural: como gênero amplamente difundido nos periódicos do final do século XIX até os anos 1920; como performance, radicalização estética e fenômeno midiático. A parte final da tese é dedicada à análise dos principais obstáculos para a convivência no dissenso, e a possíveis caminhos de coexistência, recolocando a polêmica não apenas como motor da democracia mas como uma das condições para sua manutenção. / [en] The aim of this thesis is to study polemics, or public controversy, in the expanded field of art, as a performative act and a place of strength. Contrary to the recurrent idea of polemics as something depreciated and filled with negativity - an idea reinforced by the media of controversy as an unproductive disagreement -, polemics, or public controversy is approached here as a discourse phenomenon and as a means, an engine, for cultural movement. The thesis investigates the genealogy of polemics through the analysis of its occurrence in different contexts within the cultural field: as a literary genre largely spread in periodicals of the late 19th century until the 1920 s; as performance and aesthetic radicalization; and as a media phenomenon. The final part of the thesis is dedicated to the analysis of the main obstacles for coexistence in dissensus, and possible ways to overcome them, replacing polemics not only as an engine to democracy but as a condition for its existence.

[pt] Esta dissertação tem por objetivo pensar o feminismo como política dissensual, a partir do filósofo Jacques Rancière, considerando a política como um desentendimento com a ordem hegemônica – nesse caso, o patriarcado. No século XIX a entrada na cena pública das mulheres como agentes, apesar de não serem autorizadas a fazê-lo, promoveu um dano que fez aquilo que era ruído se tornar palavra. Palavra essa que abriu espaço para sensibilidades que não estavam dadas de antemão. Apesar de Rancière não falar diretamente de feminismo, é possível fazer seus conceitos, tais como dissenso, parte dos sem parte e emancipação, operarem em diálogo com uma epistemologia feminista. Ademais, entendendo que a política, nesses termos, é vinculada a um campo sensível, há nela uma dimensão estética. Quando pensamos em estética como arte assumimos que, para Rancière, no Regime Estético, há uma condição de indeterminação nela, na arte, que abre um campo de possibilidades para tornar algo visível ou dizível. Nesse sentido, a pesquisa também se desdobra para pensar o feminismo nas artes e o modo como estética e política se entrelaçam. / [en] This dissertation aims to think feminism as a dissensual politics, from philosopher Jacques Rancière s theory, considering politics as a disagreement with the hegemonistic order - in this case, patriarchy. In the 19th century women entering the public scene as agents, although not allowed to, promoted a wrong that made what was noise to become a word. A word which opened space for sensibilities that were not given beforehand. Even though Rancière did not speak directly about feminism, it is possible to make his concepts, such as dissensus, part of those who have no part and emancipation, operate in dialogue with a feminist epistemology. Furthermore, understanding that politics, in these terms, is connected to an invisible field, there is an aesthetic dimension in it. While we think of aesthetics as art, we assume that, for Rancière, in the Aesthetic Regime there is a condition of indetermination in art, which opens a field of possibilities to turn something visible or sayable. In this sense, this research also develops to think feminism in art and the way aesthetics and politics intertwine.