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[pt] TRADUÇÃO COMO TO MPEY: TENTATIVAS DE REPARAÇÃO DAS HISTÓRIAS, DAS IDENTIDADES E DAS NARRATIVAS INDÍGENAS / [en] TRANSLATION AS TO MPEY: ATTEMPTS TO RETHINK INDIGENOUS PEOPLES HISTORIES, IDENTITIES AND NARRATIVES

PATRICK DE REZENDE RIBEIRO 10 February 2020 (has links)
[pt] Há mais de cinco séculos, desde o achamento das Américas, o Ocidente vem escrevendo uma história que apaga, silencia e estereotipa as sociedades indígenas. Estudos da tradução de natureza historiográfica nos mostram que a tradução e os tradutores estão intimamente relacionados aos contínuos processos colonizadores de silenciamento dos ameríndios e de suas formações e produções discursivas. Trazendo como referencial teórico estudos da tradução pós-estruturalistas e estudos pós-coloniais, o objetivo central da presente tese é pensar a tradução como reparação (v. Paul Bandia 2008) e, em particular, como to mpey – conceito de vida do povo indígena Canela que significa algo como tornar bonito, resolver um problema, reparar algo –, ou seja, como forma de repensar e reparar não apenas as histórias, identidades e culturas das sociedades indígenas, mas de toda esta nação brasileira que vem se constituindo por matizes híbridos e que ainda enxerga nos povos autóctones um exotismo distante e tribal. O conceito de tradução utilizado implica a ampliação conceitual iniciada por Roman Jakobson ([1959]1975) e, sobretudo, o entendimento de reescrita proposto por André Lefevere ([1982]1992). Tendo como motivação primeira a Série Kotiria – coleção de livros que retoma algumas narrativas do povo Kotiria –, formamos um corpus com outros dois conjuntos de reescritas de narrativas indígenas publicados na atualidade. Foram analisados os paratextos presentes nessas coleções, de modo a verificar em que medida esses projetos se apresentaram como espaços de produção discursiva efetivamente indígena; ou seja, estivemos atentos a possíveis indicações de que essas reescritas podem constituir ou não exemplos ou casos atuais do velho processo colonial linguístico que insiste em ocidentalizar os indígenas. Por fim, valendo-nos de concepções de escrita e oralidade que desconstroem sua tradicional dicotomização, formuladas por estudiosos como Daniel Munduruku (s.d.) e Souza (2017), e considerando a emergência de literaturas indígenas, propomos essas reescritas como um potencial sistema literário contra-hegemônico. / [en] For more than five centuries, since the invasion of the Americas by Europeans, the West has been writing a history that erases, silences and stereotypes indigenous societies. Translation studies of a historiographical nature shows us that translation and translators are closely related to the continuous colonizing processes of silencing the Amerindians and their discursive productions and formations. Having post-structuralist translation studies and postcolonial studies as theoretical references, the main objective of this dissertation is to think translation as reparation (see Paula Bandia 2008) and, in particular, as to mpey – a life concept from the Canela indigenous people, meaning something as to make beautiful, to solve a problem, to mend something -, that is to say, as a way of rethinking and repairing not only the histories, identities and cultures of indigenous societies, but of this whole Brazilian nation that has been constituted by hybrid hues and that still sees in indigenous peoples a distant and tribal exoticism. The concept of translation used implies the conceptual extension initiated by Roman Jakobson ([1959] 1975) and, above all, the understanding of rewriting proposed by André Lefevere ([1982] 1992). Having as our first motivation the Kotiria Series - a collection of books that retakes some narratives of the Kotiria people -, we formed a corpus with two other sets of rewritings of indigenous narratives published recently. The paratexts presented in these collections were analyzed, in order to verify to what extent these projects appeared as spaces of indigenous discursive production; in other words, we were aware of possible indications that these rewritings may or may not constitute examples or actual cases of the linguistic colonization that insists on westernizing indigenous peoples. Finally, relying on concepts of writing and orality that deconstruct its traditional dichotomization, formulated by scholars such as Daniel Munduruku (sd) and Souza (2017), and considering the emergence of indigenous literatures, we propose these rewritings as a potential counter-hegemonic literary system.

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