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[pt] IMAGENS PARA O COLAPSO ECOLÓGICO: A NEGAÇÃO COMO SENSIBILIDADE MODERNA / [en] IMAGES FOR THE ECOLOGICAL COLLAPSE: DENIAL AS A MODERN SENSIBILITYRACHEL PIRES DO REGO 11 October 2022 (has links)
[pt] A presente dissertação percorre a exposição Zonas Críticas: observatório
para políticas terrestres, com curadoria de Bruno Latour e Peter Weibel (2020), que
aborda a oposição entre as ideias de Globo e de Zona Crítica –, apontando para
formas distintas de pertencimento e agência no contexto do colapso ecológico. A
partir da exposição e das imagens por ela mobilizadas ao longo de seis seções,
analiso o modo como a incongruência entre o que Latour chama de os territórios
dos quais dependemos e aqueles nos quais de fato vivemos existe não apenas como
um sintoma de desconexão, insensibilidade ou indiferença, como argumenta o
autor, mas também como resultado de um profundo investimento psíquico, afetivo
e desejante dos sujeitos modernos que mediam suas relações com o mundo através
do privilégio da negligência e da falta de cuidado com as condições que possibilitam
suas existências, minimizando inseguranças e incômodos na busca por estabilidade.
Proponho que essa desconexão é uma forma particular de negação, que não
representa uma inflexão ou ponto fora da curva da trajetória moderna, mas antes
nos mantém apegados à fantasia dessa modernidade como horizonte de
possibilidades. Nesse sentido, investigo os entraves ao movimento de aterragem
proposto pela exposição e a falta de perspectivas futuras não como consequências
de uma incapacidade imaginativa ou paralisia, mas como uma insistência em
direcionar os nossos desejos e sensibilidades para soluções supostamente fáceis,
que na verdade inviabilizam o luto e o desapego dos vínculos que nos prendem a
um mundo já em ruínas – cujo apelo ainda parece irresistível. Ficar com a negação,
no sentido mobilizado por Donna Haraway ao afirmar que devemos ficar com o
problema, aparece enquanto estratégia para reconhecermos as contradições que
atravessam os sujeitos, a fim de não mais suprimi-las, e sim, compreender como
elas têm sido mobilizadas politicamente enquanto oportunidades de corroborar
fantasias de ordem e estabilidade que seguem, paradoxalmente, retardando o
enfrentamento do colapso ecológico. / [en] This dissertation walks through the exhibition Critical Zones: observatory
for land politics, curated by Bruno Latour and Peter Weibel (2020), which addresses
the opposition between the ideas of Globe and Critical Zone - pointing to distinct
forms of belonging and agency in the context of ecological collapse. Drawing on
the exhibition and the images it mobilizes over six sections, I analyze how the
incongruence between what Latour calls the territories we depend on and those in
which we actually live exists not only as a symptom of disconnection, insensitivity,
or indifference, as the author argues but also as a result of a deep psychic, affective,
and desiring investment of modern subjects who mediate their relations with the
world through the privileging of neglect and lack of care for the conditions that
make their existence possible, minimizing insecurities and discomforts in the search
for stability. I propose that this disconnection is a particular form of denial, which
does not represent an inflection or a point outside the curve of the modern trajectory,
but rather keeps us attached to the fantasy of this modernity as a horizon of
possibilities. In this sense, I investigate the impediments to the grounding
movement proposed by the exhibition and the lack of future prospects not as
consequences of an imaginative incapacity or paralysis, but as an insistence on
directing our desires and sensibilities toward supposedly easy solutions that
actually make it impossible to mourn and detach from the bonds that bind us to an
already crumbling world-whose appeal still seems irresistible. Staying with the
denial, in the sense mobilized by Donna Haraway when she says that we should
stay with the problem, appears as a strategy to recognize the contradictions that
cross the subjects, in order to no longer suppress them, but to understand how they
have been politically mobilized as opportunities to corroborate fantasies of order
and stability that continue, paradoxically, delaying the confrontation of ecological
collapse.
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