[pt] A dissertação tem como objetivo investigar o uso do termo instauração na obra de Tunga e a singularidade de sua experimentação. Pensar a instauração em Tunga leva a repensar noções como autoria, espaço e imersão. O primeiro capítulo focalizará a presença do corpo como lugar da experimentação na obra de Tunga, e possíveis conexões com as obras de Lygia Clark, Hélio Oiticica e Artur Barrio, que surgem a partir da produção poética desses artistas. O segundo capítulo é dedicado a instauração na obra de Tunga e às ressonâncias desse procedimento na obra de artistas da cena contemporânea do Rio de Janeiro. / [fr] Cette étude a l objectif d interroger l usage du terme instauration dans l oeuvre de Tunga ainsi que la singularité de son experimentation. Penser l instauration chez Tunga nous conduit a réfléchir sur les notions d auteur, d espace et d immersion. Le premier chapitre est dedié a la presence du corps comme lieux de l experimentation dans l oeuvre de Tunga, et les conections possibles avec les oeuvres de Lygia Clark, Hélio Oiticica et Artur Barrio, qui emergent de la production poétique de ces artistes. Le deuxième chapitre est dedié à l instauration dans l oeuvre de Tunga et les ressonances de cette estrategie dans l oeuvre des artistes de la scène contemporaine à Rio.

[pt] Este trabalho se propõe a investigar o conceito de instauração, proposto pelo artista brasileiro Tunga na década de 90, como uma resposta artística ao estado de anestesia apontado por Susan Buck-Morss em seu texto Estética e anestética: o ensaio sobre a obra de arte de Walter Benjamin reconsiderado (1996). Benjamin, utilizando-se da teoria dos choques proposta por Sigmund Freud, pensou como a modernidade modificou o aparato sensível dos indivíduos. Susan Buck-Morss acrescenta a essa reflexão o conceito de um sistema sinestético que, devido ao excesso de estímulos tecnológicos, atua para proteger o corpo de traumas físicos e a consciência de choques perceptuais. Com o aumento dessas estimulações e a necessidade de preservar o indivíduo, esse sistema passou a ter um mau funcionamento e se tornou produtor de anestesia. Inicialmente, nos anos 1930, Benjamin apontava a politização da arte como uma possível maneira para reverter essa situação. A presente dissertação analisa as instaurações como uma prática artística capaz de operar tal mudança e re-estesiar os corpos. Por isso, foi realizada uma investigação sobre as produções artísticas de Tunga, especialmente em seu modo de trabalho com instaurações. Nele, foi possível identificar o estranhamento como característica responsável por ativar um funcionamento do sistema sinestético com seu potencial de re-estesiamento. Novamente, pensamos junto a Sigmund Freud quando ele reflete sobre o infamiliar. Por fim, busca-se compreender tal conceito nas obras de Tunga. / [fr] Ce travail vise à étudier le concept d instauration, proposé par l artistebrésilien Tunga dans les années 90, comme une réponse artistique à l étatd anesthésie signalé par Susan Buck-Morss dans son texte Esthétique etanesthésique: l essai sur l oeuvre d art de Walter Benjamin reconsidéré (1996).En utilisant la théorie du choc proposée par Sigmund Freud, Benjamin réfléchit àla façon dont la modernité a changé l appareil sensible des individus. SusanBuck-Morss ajoute à cette réflexion le concept d un système synesthésique qui, enraison d une stimulation technologique excessive, agit pour protéger le corps destraumatismes physiques et la conscience de chocs perceptuels. Avecl augmentation de ces stimulations et la nécessité de préserver l individu, cesystème a commencé à mal fonctionner et est devenu producteur d anesthésie.Initialement, dans les années 1930, Benjamin soulignait la politisation de l artcomme un moyen possible de renverser cette situation. Cette thèse analyse lesinstaurations comme une pratique artistique capable d opérer un tel changement etresthésier les corps. De ce fait, on a réalisé une investigation sur lespropositions artistiques de Tunga, notamment sur la façon dont il travaille avecdes instaurations. Dans son travail, il a été possible d identifier l étrangeté commecaractéristique responsable d activer un fonctionnement du système synesthésique avec son potentiel de resthésiement. Encore une fois, nous réfléchissonsensemble avec Sigmund Freud quand il pensé à propos de l inconnu. Enfin, oncherche à comprendre ce concept dans les œuvres de Tunga.

[pt] Neste trabalho investigo o erotismo na monstruosidade, tomando como objetos de sustentação obras e artistas que operam por misturas libidinais de diferentes matérias. Os principais são: o artista e escritor Tunga, algumas de suas narrativas e obras plásticas; o romance-ideia Catatau de Paulo Leminski, sobretudo sua personagem Occam, um monstro semiótico; e obras visuais e textuais da artista e evangelizadora transgênera Ventura Profana. Dialogo com as reflexões sobre Eros e o erotismo de Anne Carson e Georges Bataille, como base teórica para articular vínculos possíveis entre o erotismo e a monstruosidade. Filio-me à constelação de provocações que partem das formas monstruosas como meios de transgressão, não como indicativo de interditos, e proponho uma contribuição: a hipótese de uma erótica da monstruosidade. Em companhia de narrativas, especulações e modos de criação que operam por misturas, fusões, composições de coisas heterogêneas, construo uma reflexão sobre o jogo entre Eros e a monstruosidade. É a partir do movimento paradoxal do erotismo, com toda a sua doçura amarga, sua capacidade de aliar dor e prazer, limite e deslimite, vida e morte, e com base no feixe de criações artísticas singulares que reúno aqui, que proponho pensar a monstruosidade não somente como um aspecto, mas como um modo, um meio de criação, uma operação na qual engendramos acoplamentos, junções, cópulas, amálgamas, misturas, costuras, composições, fusões, mesclas, cruzamentos, mestiçagens, mixórdias; é o encontro e a contaminação de coisas heterogêneas num corpo, num corpus, num ato, numa existência, no mundo. Uma experiência erótica. / [es] En este trabajo, investigo el erotismo en la monstruosidad, tomando como objetos obras y artistas que operan a través de mezclas libidinales de diferentes materiales. Los principales son: el artista y escritor Tunga, algunas de sus narrativas y obras plásticas; la novela-idea Catatau, de Paulo Leminski, especialmente su personaje Occam, un monstruo semiótico; y obras visuales y textuales del artista y evangelista transexual Ventura Profana. Dialogo con las reflexiones de Anne Carson y Georges Bataille sobre Eros y erotismo como base teórica para articular posibles vínculos entre erotismo y monstruosidad. Me junto a una constelación de provocaciones que parten de las formas monstruosas como medio de transgresión, no como indicio de interdicciones, y propongo una contribución: la hipótesis de una erótica de la monstruosidad. En compañía de narrativas, especulaciones y modos de creación que operan a través de mezclas, fusiones, composiciones de cosas heterogéneas, construyo una reflexión sobre el juego entre Eros y monstruosidad. Es a partir del movimiento paradójico del erotismo, con toda su amarga dulzura, su capacidad de combinar dolor y placer, límite e ilimitación, vida y muerte, y sobre la base del conjunto de creaciones artísticas únicas que reúno aquí, propongo pensar la monstruosidad no sólo como un aspecto, sino como un modo, un medio de creación, una operación en la que engendramos acoplamientos, uniones, cópulas, amalgamas, mezclas, costuras, composiciones, fusiones, mezclas, cruces, mestizajes, mixordias; es el encuentro y la contaminación de cosas heterogéneas en un cuerpo, en un corpus, en un acto, en una existencia, en el mundo. Una experiencia erótica.