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Significados e práticas de prevenção do câncer cervicouterino entre mulheres de bairros populares de Salvador, Brasil e Buenos Aires, Argentina.

Rico, Ana Maria 27 May 2016 (has links)
Submitted by Maria Creuza Silva (mariakreuza@yahoo.com.br) on 2017-03-10T11:52:54Z No. of bitstreams: 1 Tese Ana María Rico. 2016.pdf: 3536220 bytes, checksum: bf1a7e3599c10d4177ec589250bde262 (MD5) / Approved for entry into archive by Maria Creuza Silva (mariakreuza@yahoo.com.br) on 2017-03-10T13:38:48Z (GMT) No. of bitstreams: 1 Tese Ana María Rico. 2016.pdf: 3536220 bytes, checksum: bf1a7e3599c10d4177ec589250bde262 (MD5) / Made available in DSpace on 2017-03-10T13:38:48Z (GMT). No. of bitstreams: 1 Tese Ana María Rico. 2016.pdf: 3536220 bytes, checksum: bf1a7e3599c10d4177ec589250bde262 (MD5) / Apesar de ser evitável e curável se for detectado de forma oportuna, o câncer cervicouterino (CCU) ainda constitui um importante problema de saúde pública. Refletindo a iniquidade em saúde, a doença concentra-se em países de baixa e média renda, afetando especialmente mulheres de setores sociais desfavorecidos. Os programas de prevenção na Argentina, no Brasil e no Peru organizam-se em torno ao Papanicolaou. Porém, a cobertura insuficiente do exame, praticado de forma oportunística, dificulta a diminuição do impacto da doença. Problemas de cobertura do Papanicolaou vinculam-se a barreiras de acessibilidade aos serviços de saúde e a elementos socioculturais referentes aos significados da doença e sua prevenção; questões que devem ser consideradas para elaborar estratégias preventivas eficazes destinadas aos grupos mais expostos à enfermidade. O objeto desta tese é compreender como as práticas preventivas do câncer cervicouterino estão inseridas em contextos morais específicos que condicionam as formas com que as mulheres se vinculam com a sexualidade e a feminilidade. Com o propósito de analisar os valores que subjazem à prevenção do câncer cervical abordamos, em dois cenários específicos, 21 mulheres de um bairro popular de Salvador e 15 migrantes peruanas morando em um assentamento de Buenos Aires. Trata-se em ambos os casos de mulheres de baixa renda, fator de risco agravado em Salvador pela ausência de instituições de saúde locais. Em Buenos Aires, o fator migratório constituiu o indicador de maior vulnerabilidade à doença. A abordagem qualitativa de pesquisa permitiu nos aproximarmos às redes semânticas que sustentam os significados e as práticas preventivas do CCU. Utilizou-se como técnica principal de produção de dados a entrevista semiestruturada, complementada com observações e conversas informais registradas em um diário de campo. Também foram realizadas observações e entrevistas com profissionais de instituições de saúde próximas aos cenários estudados. Os dados obtidos são apresentados através de três artigos empíricos. O primeiro mostra que o gênero, como organizador das assimetrias de poder entre homens e mulheres, interfere nas trajetórias migratórias e nos modelos de atenção à saúde sexual e reprodutiva de mulheres peruanas residentes em Buenos Aires. Os resultados indicam que embora a migração não modifique estereótipos de gênero, ela propicia transformações na organização familiar que impactam no cuidado da saúde. Articulado com práticas tradicionais, o acesso à atenção biomédica é valorizado como uma “oportunidade” a ser aproveitada. Indica-se a necessidade de transcender noções que equiparam a saúde sexual feminina à reprodução. O segundo artigo aborda os significados e as práticas preventivas do câncer cervicouterino entre essas mulheres, salientando que valores de gênero perpassam o modelo explicativo da doença, as práticas preventivas, e as concepções do corpo feminino e do risco perante a enfermidade, evidenciando que tanto o sistema médico andino como o biomédico contribuem para a legitimação de assimetrias de gênero. O terceiro artigo procura mostrar as valorações morais que subjazem aos significados e às práticas preventivas do CCU em um bairro popular em Salvador. Destaca-se a valorização negativa da sexualidade e a afirmação do cuidado e da limpeza como atributos femininos. Perante dificuldades de acesso à atenção biomédica, práticas tradicionais e religiosas apresentam-se como substitutos, permitindo que mulheres que não realizam o Papanicolaou se considerem “direitas” diante do risco de serem assinaladas como incorretas em função de práticas sexuais e de cuidado julgadas negativamente pela moral sexual dominante. Conclui-se que os significados e as práticas preventivas do câncer de colo do útero estão inseridos em contextos morais locais, refletindo valores e expectativas sociais relativos à feminilidade e à sexualidade. Estes conteúdos singulares devem ser contemplados para o desenho de estratégias preventivas eficazes orientadas a grupos específicos, transcendendo a oferta padronizada e descontextualizada do Papanicolaou.

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