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A prática de silenciar lembrando: uma análise da administração política da memória na Comissão Nacional da VerdadeCampos, Lucas Pacheco 06 June 2017 (has links)
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Dissertação - Lucas Pacheco Campos.pdf: 1843534 bytes, checksum: bf583bc68ba62d77a0dd20d355edfdc4 (MD5) / Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior / Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ / Este trabalho se localiza no campo de disputas e de construção de narrativas sobre o mais recente período ditatorial brasileiro, fincado entre os anos de 1964 e 1985. Elegeu-se um locus específico de pesquisa: a relação entre a gestão “oficial” realizada pelo Estado sobre o material memorialístico nacional e os espaços subterrâneos da memória. De um lado, foram estudados os resultados produzidos pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), enquanto política “pública” de memória. De outro, investigaram-se as memórias de operários navais sobre o período do golpe e da ditadura, assim como suas percepções sobre as políticas de memória empreendidas ao longo dos governos pós-85. Com o objetivo de contribuir para a avaliação das atuais formas de gestão estatal sobre as memórias de grupos atingidos pelo terrorismo de Estado, o trabalho pretendeu responder uma pergunta central: como as memórias subterrâneas da ditadura foram tratadas no relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV)? Para responder essa pergunta, buscou-se estabelecer o decisivo nexo entre memórias específicas e totalidade histórica, entre particularidade e universalidade. Assim, foi possível construir uma interpretação histórica sobre esse passado a partir tanto de dados bibliográficos consolidados quanto das lembranças dos entrevistados. Percebeu-se que a combinação entre o modus operandi de terror – operacionalizada, principalmente, mas não exclusivamente pelas forças militares – e os interesses do capital – evidenciados pelo aprofundamento de um projeto dependente-associado fundado na superexploração da força de trabalho – materializaram o que chamamos aqui de ditadura empresarial-militar.
Ao mesmo tempo, foi necessário estabelecer uma conexão teórica entre memória, esquecimento e gestão, a qual sintetizamos na definição de administração política da memória. Nessa etapa, refletimos mais apropriadamente sobre as funções histórico-sociais do Estado, da democracia liberal e das próprias políticas “públicas”. Realizadas tais necessárias digressões, pôde-se avaliar os resultados produzidos pela CNV, enquanto materialização de uma administração política de memórias (e também de esquecimentos). Foi possível inferir que o relatório final intensificou, intencionalmente ou não, uma espécie de apaziguamento das memórias de grupos que foram atingidos pelo terror do Estado durante a ditadura. Ao que parece, a CNV contribuiu assim para a valorização das perspectivas do consenso, da conciliação, dos acordos, as quais já vinham sendo colocadas. / This research is located in the dispute field and narratives construction about the latest Brazilian dictatorial period, between 1964 and 1985. A specific research locus has been elected: the relationship between State “official” management on the national memorial material and the subterranean spaces of memory. On one hand, the results produced by the National Truth Commission were studied as a “public” policy of memory. On the other hand, it was investigated the naval workers memories during the coup and the dictatorship, as well as their perceptions about memory policies launched during the post-85 governments. Therefore, aiming to contribute to an evaluation of the current forms of state management about memories of groups hit by State terrorism, the present work intended to answer a central question: how did the National Truth Commission final report deal with the subterranean memories of the dictatorship? To answer this question, we tried to establish a crucial link between specific memories and historical totality, between particularity and universality. It had allowed us to build a historical interpretation of that past, using consolidated bibliographic data and the memories of the workers interviewed here. The combination of the modus operandi of terror – operationalized mainly but not exclusively by the military forces - and the capital's interests – evidenced by the deepening of a dependent-associated project based on the super exploitation of labor force – materialized what we call as corporate-military dictatorship. At the same time, it was necessary to establish a connection between theoretical memory, oblivion and management, which was synthetized by the definition of political administration of memories. At this stage, it was possible to think appropriately on the historical and social functions of the state, liberal democracy and the "public" policies. Made these necessary digressions, it was possible to evaluate the results produced by the CNV, as materialization of memory and oblivion policy administration. It is possible to infer that the final report intensified, intentionally or not, a type of appeasement memory narrative of groups that were affected by state terrorism during the dictatorship. Apparently, the CNV contributed to the appreciation of perspectives of consensus, conciliation, agreements, which have already been practiced by different post- 85 civil governments. However, we suggest something else. On our view, the CNV has advanced these "official" forms of management memories and forgetfulness, featured by a sophisticated strategy to silence while remembering.
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