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O cuidado perigoso: tramas de afeto e risco na Serra Leoa (a epidemia de Ebola contada pelas mulheres, vivas e mortas) / The dangerous care: webs of affection and risk in Sierra Leone (the Ebola epidemic tod by women, alive and dead)Pimenta, Denise Moraes 15 March 2019 (has links)
Durante os anos de 2013 a 2016, a África do Oeste, mais precisamente a região do Mano River Union Libéria, Serra Leoa e Guiné-Conacri viveu sob uma das piores epidemias do vírus do ebola ocorridas desde 1976, ano do primeiro relato do vírus no antigo Zaire (atual Congo). Entendendo a epidemia como locus privilegiado para a compressão das estruturas de uma sociedade, podendo descortinar conflitos políticos e desigualdades sociais e econômicas, dediquei-me à feitura de uma etnografia na Serra Leoa, durante 9 meses, momento em que morei em Freetown, a capital do país, e também em comunidades rurais. Na medida em que a epidemia neste país matou mais mulheres do que homens, busquei entender o porquê deste fato. Para tanto, segui as histórias de três mulheres mortas por conta do vírus: Jinnah Amana da comunidade de Komende-Luyama, Isha Tullah de Devil Hole e Fatmata de John Thorpe. A partir de um intenso trabalho de campo, concluí que a maior mortandade de mulheres serra-leonenses estava diretamente relacionada ao trabalho do cuidado dispendido a seus familiares e amigos. Deste modo, a epidemia do ebola na Serra Leoa era generificada, colocando mulheres em risco por conta da pesada responsabilização destas perante a trama de parentesco e afetos. Diante disso, cunhei o termo cuidado perigoso como uma categoria boa para pensar as relações de gênero por detrás da epidemia do ebola na Serra Leoa. Portanto, esta pesquisa segue as narrativas reveladoras de mulheres, vivas e mortas, a respeito do ebola na Serra Leoa. Narrativas estas que apontaram para a impossibilidade de se entender a epidemia do Ebola ou qualquer outro fenômeno social da Serra Leoa - sem se acessar as memórias da guerra civil vivida no país durante os anos de 1991 a 2002. / From 2013 to 2016, the West Africa, more precisely the Mano River Union region Liberia, Sierra Leone and Guinea-Conakry went through one of the worst Ebola virus epidemics since 1976, the year when the virus was first reported in Zaire (now, Congo). Understanding the epidemic as a privileged locus to understand the structures of a society, revealing political conflicts and social and economic inequalities, I dedicated myself to do ethnography in Sierra Leone for 9 months, when I lived in Freetown, the capital of the country, but also in rural communities. As the epidemic in this country killed more women than men, I sought to understand why this was occurred. In this way, I followed the stories of three women killed by the virus: Jinnah Amana from Komende-Luyama community, Isha Tullah from Devil Hole and Fatmata from John Thorpe. From an intensive fieldwork, I concluded that the large number of female death in Sierra Leonean was directly related to the work of the care expended on their relatives and friends. Thus, the Ebola epidemic in Sierra Leone was gendered, placing women at risk because of their heavy accountability to the network of kinship and affections. Faced with this, I coined the term \"dangerous care\" as a good category to think about the gender relations behind the ebola epidemic in Sierra Leone. Therefore, this research follows the revealing narratives of women, alive and dead, regarding the ebola in Sierra Leone. These narratives pointed to the impossibility of understanding the Ebola epidemic - or any other social phenomena in Sierra Leone - without accessing the memories of the civil war in the country during the years 1991 to 2002.
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