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Dinheiro e poder social : um estudo sobre o bitcoinSantana Junior, Edemilson Cruz 20 June 2018 (has links)
Tese (doutorado)—Universidade de Brasília, Instituto de Ciências Sociais, Departamento de Sociologia, 2018. / Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). / Buscando analisar o dinheiro como relação social nas sociedades que têm no capitalismo seu modo de reprodução, organização e gestão da vida socioprodutivas, a presente tese aborda os encadeamentos entre dinheiro, Estado e poder social na conjuntura presente. Para tanto, lança mão de um estudo interdisciplinar e multidimensional, tomando como caso ilustrativo os novos fenômenos monetários, como as criptomoedas e, em particular, o Bitcoin. Objetivando superar os problemas e limitações dos paradigmas dominantes nas ciências sociais e econômica sobre o dinheiro, bem como a divisão do trabalho intelectual operante entre esses, questionamo-nos: no contexto do capitalismo neoliberal e financeirizado, de que modo a teoria (marxista) do dinheiro nos ajuda a entender fenômenos monetários como o Bitcoin e, na volta, como a análise de um objeto como o Bitcoin nos permite (re) pensar o que é (teoricamente) entendido por dinheiro? Em meio a este esforço, o estudo procede inicialmente a uma pesquisa teórica, resgatando, para tanto, os debates em torno da natureza do dinheiro, assim como do Estado e da ideologia – a partir dos elos de correspondências entre tais dimensões – nos trabalhos de Karl Marx e de marxistas subsequentes, com especial dedicação às contribuições contemporâneas. Em seguida, parte-se para uma análise abrangente do Bitcoin como artefato técnico e monetário, incluindo sua economia política, antecedentes históricos, ideias-força e condições de possibilidade. Vê-se, assim, que, assentado na utopia tecnocrática de um dinheiro apolítico, o Bitcoin pode ser compreendido como um paradoxal “filho rebelde” do neoliberalismo – o que serve para nos revelar seu conteúdo ideológico. No entanto, é incapaz de se estabelecer enquanto alternativa ao sistema monetário vigente por não cumprir requisitos elementares do dinheiro, menosprezados pela ideologia de matriz liberal que o sustenta. A despeito de sua busca manifesta por uma substituição do dinheiro mundial, por estabilidade monetária contra a suposta “instabilidade” do dinheiro estatal e pela “despolitização”, descentralização e desconcentração do poder de emissão e gestão monetárias, o que se observa empiricamente é justamente o oposto: baixo volume e alcance de circulação, grande instabilidade frente ao dinheiro estatal e maior concentração relativa de poder político e econômico entre seus usuários. Finalizado o percurso de investigação, o não cumprimento das aspirações neoliberais que constituem o Bitcoin evidenciam que a tentativa, pretendida por seus criadores e entusiastas, de se esvaziar de conteúdo social, i.e., neutralizar, o dinheiro no capitalismo não é factível. / Seeking to analyze money as a social relation in capitalist societies, the present dissertation approaches the intersections between money, state and social power in the present conjuncture. To this end, it proceeds to an interdisciplinary and multidimensional study, taking as illustrative case the new monetary phenomena, such as the cryptocurrencies and, in particular, Bitcoin. In order to overcome the problems and limitations of the dominant paradigms in economics and social sciences about money, as well as the division of the intellectual labour among them, we ask: in the context of neoliberal and financialised capitalism, how (Marxist) theory of money helps us to understand monetary phenomena like Bitcoin, and on the way back, how does the analysis of an object like Bitcoin allow us to (re) think what is (theoretically) understood by money? In the midst of this effort, the study initially proceeds to a theoretical research, thereby rescuing the debates around the nature of money, as well as the state and ideology – from the correspondences between such dimensions – in the work of Karl Marx and subsequent marxists, with a particular dedication to contemporary contributions. It then moves on to a comprehensive analysis of Bitcoin as a technical and monetary artefact, including its political economy, historical background, strength ideas, and conditions of possibility. It is thus seen that, based on the technocratic utopia of apolitical money, Bitcoin can be understood as a paradoxical “rebellious son” of neoliberalism – which serves to reveal its ideological content. However, it is unable to establish itself as an alternative to the current monetary system because it does not meet elementary requirements of money, despised by the neoliberal ideology that sustains it. Despite its declared search for a substitution of world money, for monetary stability against the supposed “inflationary” state money and for “depoliticization”, decentralization and deconcentration of monetary power, what is empirically observed is precisely the opposite: low volume and range of circulation, great instability against state money and greater relative concentration of political and economic power among its users. At the end, the non-fulfilment of the neoliberal aspirations of Bitcoin shows that the attempt by its creators and enthusiasts of emptying money of its social content, i.e., to “neutralize” it, in capitalism, is not feasible. / Cette thèse analyse l’argent comme rapport social dans le capitalisme en tant que mode de reproduction, organisation et gestion de la vie socio-productive, en saisissant les enchaînements entre les concepts d’argent, d’Etat et de pouvoir social, dans la conjuncture actuelle. Elle présente une discussion interdisciplinaire et multidimensionnelle, en prenant comme étude de cas les nouveaux phénomènes monétaires des cryptomonnaies, en particulier, le Bitcoin. Afin de surmonter les problèmes et les limites des paradigmes dominants en sciences sociales et économiques sur l’argent, ainsi que la division du travail intellectuel entre eux, nous nous demandons, dans le contexte du capitalisme néolibéral et de la financiarisation, comment la théorie marxiste de l’argent aide à comprendre les phénomènes monétaires tels que le Bitcoin, et comment l’analyse d’un tel objet permet de penser l’argent théoriquement ? Dans cet effort, l’étude fait d’abord une recherche théorique, en reprenant les débats sur la nature de l’argent, ainsi que de l’État et de l’idéologie dans les oeuvre de Karl Marx et des marxistes subséquents, avec un intérêt spécial dans les contributions contemporaines. Ensuite, il procède à une analyse holistique du Bitcoin comme un artefact monétaire et technique, son économie politique, son contexte historique, et les idées et conditions de possibilité de son existence. En ce faisant, la thèse montre que le Bitcoin repose sur l’utopie technocratique d’un argent apolitique, pouvant être compris comme un paradoxal « fils rebelle » du néolibéralisme – utile à révéler son contenu idéologique. Cependant, il ne peut pas se présenter comme une alternative au système monétaire en vigueur, puisqu’il ne satisfait pas les príncipes élémentaires de l’argent, príncipes méprisés par l’idéologie neolibérale qui le soutient. Malgré avoir l’intention de remplacer la monnaie mondiale, garantissant la stabilité monétaire en opposition à ce qu’ils pensent être l’instabilité de l’argent de l’Etat; ainsi que de prendre position en faveur de la «des-politisation», la décentralisation et la déconcentration des émissions monétaires et de sa gestion, ce qu’on observe empiriquement est précisément l’opposé: faible volume et circulation, gros instabilité par rapport à l’argent de l'Etat et une plus grande concentration relative du pouvoir politique et économique. La conclusion, à la fin, montre le non-respect du Bitcoin aux aspirations néolibérales, montrant l’échec de la tentative de renoncer au contenu social de la monnaie et de la rendre « neutre », tel que le souhaitent ses enthousiastes.
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