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O turismo no processo de (re)produção de espaços insulares pela acumulação por despossessão – Fernando de Noronha (Pernambuco)CORDEIRO, Itamar José Dias e 21 December 2016 (has links)
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Previous issue date: 2016-12-21 / Segundo Marx, as condições iniciais que viabilizaram o surgimento do
capitalismo enquanto modo de produção estão associadas a um processo violento de
cercamentos de terras comunais e expulsão dos camponeses ao qual chama de “acumulação
primitiva”. O roubo dessas terras permitiu ao capitalista acumular os meios necessários para o
florescimento do capitalismo enquanto modo de produção, ao mesmo tempo em que forneceu
o exército industrial de reserva. Ocorre que ao contrário do que pensava Marx, esse processo
não se restringe à pré-história do capitalismo. Os estudos de Rosa Luxemburgo e,
posteriormente os de David Harvey, expandem o entendimento de Marx ao sugerirem que a
dinâmica da acumulação capitalista necessita, sistematicamente, recorrer à tomada
(geralmente violenta) dos bens alheios. É assim que surge o conceito de “acumulação por
despossessão” para explicar o processo contínuo por meio do qual o capitalismo costuma se
apoderar dos bens comuns como forma de sustentar sua expansão e de contornar suas crises
orgânicas. Buscando defender a tese segundo a qual o turismo pode ser utilizado como um
instrumento para viabilizar a acumulação por despossessão, a presente pesquisa se propõe a
explicar como esse processo de acumulação por despossessão vem ocorrendo em Fernando de
Noronha (PE), uma pequena ilha do nordeste brasileiro considerada como um dos destinos
turísticos mais desejados do país. Os resultados indicaram que as vias para a despossessão se
abrem a partir do momento em que o ilhéu se associa ou arrenda sua casa para um empresário
do continente. Verificou-se também que a atuação do Estado é decisiva na dinâmica dessa
espoliação e que, especificamente no caso de Fernando de Noronha, essa atuação é mediada
pelo dispositivo da troca de favores entre burocratas e empresariado local. Por fim, é
ressaltado que a manipulação da imagem de “paraíso” constitui um elemento fundamental na
produção do espaço e na lógica da despossessão a partir do momento em que promove a
legitimação da atuação dos burocratas. / According to Marx, the process that enabled the initial conditions for the emergence of capitalism as a mode of production is associated with a violent process of
enclosures of communal lands and expulsion of the peasantry, which he calls "primitive accumulation." The appropriation of these lands allowed capitalists to accumulate the
necessary means for the development of capitalism as a mode of production, while providing an industrial army of reserves. To the contrary of what Marx's thought, this
process is not restricted to the prehistory of capitalism. The work of Rosa Luxemburg and later of David Harvey expand Marx's understanding by suggesting that the dynamics
of capitalist accumulation need systematically to resort to the (often violent) taking of the goods of others. This is how the concept of "accumulation by dispossession" arises to
explain the continuous process by which capitalism usually seizes common goods as a way of sustaining its expansion and bypassing its organic crises. Seeking to defend the
thesis that tourism can be used as an instrument to enable accumulation by dispossession, this research aims to explain how this process of accumulation has been
taking place in Fernando de Noronha (PE), a small island located at the Brazilian Northeast, and considered as one of the most desired tourist destinations in the country.
Our findings indicated that the ways that lead to dispossessions are opened from the moment the islander associates or leases his house to a businessman from the
Continent. We could also verify that the action of the State is decisive in the dynamics of this spoliation and that, specifically in the case of Fernando de Noronha, this action is
mediated by the device of the exchange of favors between bureaucrats and local entrepreneurs. Finally, we emphasized that the manipulation of the image of "paradise"
constitutes a fundamental element in the production of space and the logic of dispossession from the moment in which it promotes the legitimacy of the action of the
bureaucrats.
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