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A experiência dos Tinyanga, médicos-sacerdotes, ao sul de Moçambique : identidades, culturas e relações de poder (C. 1937-1988) / The experience of Tinyanga, doctors priests in south of Mozambique : cultures, identities and power relations (C. 1937-1988)Santana, Jacimara Souza, 1966- 12 October 2014 (has links)
Orientador: Robert Wayne Andrew Slenes / Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas / Made available in DSpace on 2018-08-26T17:02:57Z (GMT). No. of bitstreams: 1
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Previous issue date: 2014 / Resumo: Esta pesquisa investiga, entre os anos 1937 - 1988, como Tinyanga, médicos sacerdotes, ao sul de Moçambique conseguiram garantir a sobrevivência de seu grupo social num contexto político de intensas mudanças decorrentes dos processos de colonização e independência daquele país. No século XIX, Tinyanga exerciam considerável influência no poder político e militar do Estado, bem como na vida pública e particular dos povos africanos, lugar social que lhes foi negado com o advento da colonização portuguesa. Após a conquista, aquele grupo social foi submetido a uma política de Estado que visou o seu descrédito e a sua marginalização. Nos primeiros anos após a independência, tal conflito entre o Estado e o grupo de Tinyanga ainda teve lugar. Embora o novo governo demonstrasse interesse pelo uso das ervas na cura ministrada por seus membros, a maioria dos Tinyanga continuou impedida de exercer suas funções, além de permanecer sujeito ao desprestígio público e a estigmas, como a pecha de atraso ao desenvolvimento. Através do uso de fontes orais e escritas, este estudo examina as estratégias utilizadas por Tinyanga em confronto com as interdições impostas a eles, ou seja, analiso os fatores que os levaram a manter controle sobre os seus próprios recursos de cura, a sua legitimidade como promotores de saúde e bem-estar social, e seu retorno à arena pública. Supomos que a interdição ao trabalho dos Tinyanga foi marcada por ambiguidades. Ao mesmo tempo em que os governos tentaram impor coerção a seu coletivo, recorreram a ou se mostraram coniventes com o seu exercício. Apesar da propaganda contrária à utilidade de seus serviços, Tinyanga continuaram a ser requisitados por seu público usuário, em especial devido ao enraizamento cultural de sua assistência. O costume concedia legitimidade ao seu exercício, embora a maioria de suas atividades permanecesse ilegal por ordem do Estado. Na clandestinidade, aquele grupo social manteve suas escolas de formação e recrudesceu em número, demarcando no cotidiano a sua própria existência como figuras indispensáveis ao funcionamento da sociedade. Para assegurar isso, desenvolveram diferentes estratégias e as ações ordinárias jogaram um papel importante no momento em que a atenção estrangeira ou nacional convergiu para o reconhecimento daquele grupo social. As mulheres e o fator da migração tiveram importância fundamental nesse processo. A organização da categoria profissional e o uso plural dos saberes endógenos de cura africanos e ocidental foram uma prática anterior às discussões propostas pela Organização Mundial de Saúde e governos africanos após as independências - uma iniciativa protagonizada por alguns médicos europeus, enfermeiros africanos, Tinyanga e seus clientes. Meu interesse é destacar a relevância do costume e suas reinvenções nos processos de contestação social movidos por coletivos subalternizados, inclusive no campo ritual, que aqui é visto como espaço político e de transformação social, ao invés de meios de controle social e de acomodação de conflitos. Tal análise segue caminhos teóricos já apontados por outros pesquisadores como Paul Thompson, Eric Hobsbawn e Terence Ranger, John Janzen e Rijk van Dijk / Abstract: This research investigates how Tinyanga doctors priests in south of Mozambique between the years 1937-1988 were able to ensure the survival of their social group in a context of intense political changes resulting from the processes of colonization and independence in that country. In the nineteenth century, Tinyanga exerted considerable influence on the political and military power of the African states as well as in the public and private life of the African people. That social place was denied to them with the advent of Portuguese colonization. After the conquest, the Tinyanga were subjected to State policies, aimed at discrediting and marginalizing them. In the early years after independence, such a conflict between the State and Tinyanga group continued. Although the new government showed interest in the use of the herbs applied in the therapies of the Tinynaga, the majority of these doctor-priests continued to be prohibited to exercise, and remained subject to public discredit and to the stigma of delaying development. Through the use of oral and written sources, this study examines the strategies of Tinyanga in confronting the interdictions imposed on them: that is, it analyzes the factors that led them to retain control over their own healing resources, their legitimacy as promoters of health care and social welfare, and their return to the public arena. We assume that the ban on the therapeutic work of Tinyanga was marked by ambiguity. At the same time that governments tried to impose coercive controls on the Tinyanga group, they resorted to, or were complicit with, the exercise of the latter¿s services. Despite the propaganda against the effectiveness of their therapy, Tinyanga continued to be resorted to by their clients, particularly because their services had deep cultural roots. Custom gave legitimacy to their work, even though the majority of their activities was declared illegal by the State. In secret, these doctor-priests maintained their schools for the formation of new members and increased their numbers, demarcating in daily life their own existence as indispensable figures for the functioning of society. To insure this, they developed diverse strategies, to the point that their every-day actions came to play an important role at the moment when foreign and national attention converged in favor of the recognition of their value as a group. Female Tinyanga and the phenomenon of migration (to and from neighboring colonies/countries) were highly important in this process. The organization of a professional category of doctor-priests and the combined use, by this group, of endogenous African and European therapeutic knowledges ¿ initiatives led by some European doctors, African nurses, Tinyanga and their clients ¿ occurred in practice before the discussions about these questions that were proposed by the World Health Organization and the African governments following Independence. My aim is to highlight the relevance of custom and its reinventions for the social and political challenges posed by subaltern groups, including those made within the ritual field, which is seen here as a political and transformative social space rather than a means for the control and resolution of conflicts. Such an approach follows theoretical paths opened up by other researchers, such as Paul Thompson, Eric Hobsbawm and Terence Ranger, John Janzen and Rijk van Dijk / Doutorado / Historia Social / Doutora em História
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