Este trabalho busca desenvolver uma leitura \"desautomatizada\" do romance Helena (1876), de Machado de Assis. A proposta é realizar uma análise interpretativa em que não se tenha em perspectiva a produção posterior do autor, iniciada grosso modo com Memórias Póstumas de Brás Cubas, de 1881. Buscaremos apresentar uma leitura em que se resgate o horizonte de expectativas dos leitores, críticos e autores contemporâneos à publicação do romance. Com isso, veremos que a obra realiza dentro desse horizonte um movimento a contrapelo em relação a seus pares. Além disso, naquele momento se definem, e disputam espaço, dois projetos de literatura nacional: o primeiro, representado por Helena, estabelece uma literatura em sintonia com o romance popular e cosmopolita produzido na Europa; o segundo, representado por O Cabeleira, é parte de um processo de formação da identidade nacional por meio da literatura. Veremos também que há presente dentro do espaço ficcional de Helena uma tensão entre local e universal, representado tanto pela citação direta de romances como Manon Lescaut e Paulo e Virgínia, como pela incorporação dos arquétipos representados pelo romance-folhetim em seu tecido narrativo. Formalmente, ao condensar e retrabalhar referências literárias tanto nacionais como estrangeiras, a prosa machadiana desse período critica alguns princípios norteadores da produção literária brasileira, questionando modelos de literatura e refletindo sobre eles. / This masters thesis aims to develop a non-automated interpretation of the Machado de Asis romance, Helena (1876). The objective is to formulate an interpretative analysis independent of any subsequent work, which can be said to have initiated in 1881 with the publication of Memórias Póstumas de Brás Cubas. Also, it is envisaged the presentation of a novel interpretation that rescues the expectations of the public, critics and authors contemporary to the romance. As such, the thesis demonstrates that this masterpiece flows contrary to the movement characterized by its generation. Where, defined at that time, two distinct projects within the Brazilian literature struggle for popularity: the first, represented by Helena, establishes a literature movement in accordance with popular and cosmopolitan romance produced in Europe; the second, represented by O Cabeleira, is part of a national process of identity creation driven by the literature. In addition, it is established that within Helena there is a constant tension between local and universal, which is explained by both, the incessant references to pieces authored by Manon Lescaut e Paulo e Virgínia, as well as the incorporation of examples that represent the romanfeuilleton within its narrative structure. Formally, by condensing and reworking national and international references, it is noted that the Asis´s prose criticizes some of the critical principles of the Brazilian literature, evidenced by regular questioning of literature´ models and reflections upon them.

Este trabalho busca desenvolver uma leitura \"desautomatizada\" do romance Helena (1876), de Machado de Assis. A proposta é realizar uma análise interpretativa em que não se tenha em perspectiva a produção posterior do autor, iniciada grosso modo com Memórias Póstumas de Brás Cubas, de 1881. Buscaremos apresentar uma leitura em que se resgate o horizonte de expectativas dos leitores, críticos e autores contemporâneos à publicação do romance. Com isso, veremos que a obra realiza dentro desse horizonte um movimento a contrapelo em relação a seus pares. Além disso, naquele momento se definem, e disputam espaço, dois projetos de literatura nacional: o primeiro, representado por Helena, estabelece uma literatura em sintonia com o romance popular e cosmopolita produzido na Europa; o segundo, representado por O Cabeleira, é parte de um processo de formação da identidade nacional por meio da literatura. Veremos também que há presente dentro do espaço ficcional de Helena uma tensão entre local e universal, representado tanto pela citação direta de romances como Manon Lescaut e Paulo e Virgínia, como pela incorporação dos arquétipos representados pelo romance-folhetim em seu tecido narrativo. Formalmente, ao condensar e retrabalhar referências literárias tanto nacionais como estrangeiras, a prosa machadiana desse período critica alguns princípios norteadores da produção literária brasileira, questionando modelos de literatura e refletindo sobre eles. / This masters thesis aims to develop a non-automated interpretation of the Machado de Asis romance, Helena (1876). The objective is to formulate an interpretative analysis independent of any subsequent work, which can be said to have initiated in 1881 with the publication of Memórias Póstumas de Brás Cubas. Also, it is envisaged the presentation of a novel interpretation that rescues the expectations of the public, critics and authors contemporary to the romance. As such, the thesis demonstrates that this masterpiece flows contrary to the movement characterized by its generation. Where, defined at that time, two distinct projects within the Brazilian literature struggle for popularity: the first, represented by Helena, establishes a literature movement in accordance with popular and cosmopolitan romance produced in Europe; the second, represented by O Cabeleira, is part of a national process of identity creation driven by the literature. In addition, it is established that within Helena there is a constant tension between local and universal, which is explained by both, the incessant references to pieces authored by Manon Lescaut e Paulo e Virgínia, as well as the incorporation of examples that represent the romanfeuilleton within its narrative structure. Formally, by condensing and reworking national and international references, it is noted that the Asis´s prose criticizes some of the critical principles of the Brazilian literature, evidenced by regular questioning of literature´ models and reflections upon them.

Ce travail étudie des espaces littéraires ignorés. La littérature sentimentale de grande consommation du premier tiers du XXe siècle, souvent mal classée, concentre à la fois deux de ces zones. D’abord, la littérature sentimentale produite pour un public masculin était souvent associée à l’obscénité et à la pornographie, et a été soumise à des jugements moraux rigoureux. Deuxièmement, parce que les systèmes de validation littéraire n’ont pas encore trouvé un ajustement approprié pour la littérature de grande consommation. Paradoxalement, la meilleure littérature de masse, écrite avec des ambitions esthétiques, est souvent la plus ignorée. Il faudrait établir les frontières entre ses différents aspects pour comprendre la raison pour laquelle certaines de ces œuvres ont été considérées obscènes ou pornographiques, et pourquoi elles ont été exclues de leurs systèmes littéraires. La comparaison révèle que les processus de la condamnation des deux systèmes, moral et esthétique, sont analogues. Finalement, notre travail vise à analyser la présence de ce genre de roman sentimental masculin dans la littérature catalane —qui avait un marché littéraire et un système canonique tout à fait différent de ceux des autres littératures européennes. Nous pouvons trouver un bon exemple de cette manifestation dans les œuvres de Josep Maria Francès, surtout dans ses romans sentimentaux écrits à l’entre-deux-guerres, La rossa de mal pèl (1929) et Marasme (1938). Cette thèse n’a pas pour but d’analyser en profondeur les œuvres de Francès, mais d’offrir des outils qui puissent permettre une nouvelle compréhension de son travail : le catalogue complet de ses articles de presse, une édition minutieuse de Marasme, roman inédit, et la définition de l’espace occupé par ses romans sentimentaux aussi bien que du genre qu’ils représentent. / This is a thesis about ignored literary spaces. The mass-consumption sentimental literature of the first third of the 20th century, often poorly classified, concentrates both of these areas. First, the sentimental literature produced for men was often associated with obscenity and pornography, and was subjected to severe moral sentences. Secondly, because the literary validation systems have not yet found a suitable fit for consumption literature. Paradoxically, the best mass literature, written with aesthetic ambitions, is the most frequently ignored. It would be necessary to separate some different aspects to understand why some of these works were considered obscene or pornographic, and why they have been excluded from their literary systems. The comparison reveals that the processes of condemnation of both moral and aesthetic systems are analogous. Finally, our work aims to analyze the presence of this kind of sentimental novel for men in the Catalan literature —which had a literary market and a canonical system quite different from the other European literatures. We can find a good example of this manifestation at the works of Josep Maria Francès, mainly his sentimental novels written during the interwar period, La rossa de mal pèl (1929) and Marasme (1938). This thesis does not aim to provide a deep analysis of Francès’ works, but to offer tools that may allow reading it under a different, richer point of view: the complete catalogue of his newspaper articles, a thorough edition of the unpublished novel Marasme and the definition of the ambits occupied by his sentimental novels and of the genre they represent. / Aquesta tesi tracta d’uns espais literaris ignorats. La literatura sentimental de consum del primer terç del segle XX, sovint mal classificada, concentra dos d’aquests àmbits. Primer, perquè la literatura sentimental produïda per a homes s’associava sovint amb l’obscenitat i la pornografia, i estava sotmesa a severes condemnes d’ordre moral. Després, perquè els sistemes de validació literària encara no han trobat un encaix adient per a la literatura de consum. Paradoxalment, la millor literatura de masses, feta amb pretensions estètiques, és la més ignorada. Convindria, tanmateix, separar algunes coses: entendre per què es consideraven pornogràfiques o immorals algunes d’aquestes obres, i per què han estat excloses dels seus sistemes literaris. La comparació revela que els processos de condemna d’ambdós sistemes, moral i estètic, són anàlegs. Finalment, volem analitzar la presència d’aquest tipus de noveŀla sentimental masculina a la literatura catalana —que comptava amb un mercat editorial i un sistema canònic força distint del de les altres literatures europees. En trobem un exemple adient a l’obra de Josep Maria Francès, principalment en dues de les seves noveŀles d’entreguerres, La rossa de mal pèl (1929) i Marasme (1938). L’objectiu principal d’aquesta tesi no és pas fer una lectura profunda de l’obra de Francès, sinó oferir unes eines que possibilitin avaluar-la sota un altre prisma: el buidatge complet dels seus articles periodístics, una edició curosa de Marasme —noveŀla fins ara inèdita— i la definició dels espais que les seves noveŀles sentimentals ocupen i del gènere a què corresponen.