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"Um sonho não tem preço" : uma etnografia do mercado de casamentos no Brasil

Pinho, Érika Bezerra de Meneses January 2017 (has links)
Desde a década de 1970, o número de casamentos no Brasil vem diminuindo significativamente. Novos arranjos familiares e formas de viver a conjugalidade ganharam espaço. A importância de ritualizações foi colocada em xeque por muitos casais que rejeitavam a ideia de formalizar suas uniões. O início do século XXI, no entanto, marca um renovado interesse dos casais em marcar a transição para o casamento com eventos cada vez mais elaborados, em uma tendência que já foi chamada de a "revanche do ritual" (SEGALEN, 2003). Em 2016, o investimento dos casais brasileiros em festas de casamentos rendeu cerca de 16 bilhões de reais (o equivalente a aproximadamente 5 bilhões de dólares) em ganhos para o setor de eventos, segundo o Instituto de pesquisas Data Popular. Acompanhando o crescimento desse mercado desde 2011, o Instituto vem registrando uma tendência de crescimento, mesmo em meio à crise econômica pela qual passa o país. O quadro é de um crescente interesse por complexos eventos de casamento, performados por homens e mulheres pertencentes a camadas medias urbanas. A partir de dados demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sabe-se que, nas últimas décadas, as pessoas casam-se menos. Por outro lado, a etnografia aqui apresentada permite afirmar que, quando decidem casar-se, sujeitos de camadas medias da população brasileira optam por marcar essa passagem com eventos cuja preparação exige um grande investimento de tempo e recursos financeiros. Nesta tese, apresento análises sobre este fenômeno, com base na etnografia que realizei entre os anos de 2013 e 2016, junto a sujeitos que protagonizam a organização de tais eventos. Trata-se de mulheres pertencentes a camadas médias urbanas, com formação superior e financeiramente independentes. Em vários dos casos observados, tais mulheres assumem a totalidade ou a maior parte dos gastos com o evento. A etnografia aqui apresentada se desdobrou em entrevistas em profundidade realizadas com noivas, acompanhamento de organizadoras de casamentos, observação participante em feiras do setor nas cidades de Fortaleza, Porto Alegre e São Paulo, participação em grupos virtuais de noivas e entrevistas com agentes deste mercado. Como resultado, destaco a compreensão de que os ritos contemporâneos aqui descritos nada tem de tradicionais no modo como são performatizados, mas representam novas formas de demarcar uma passagem cujos significados estão em transformação. Com os grandes eventos, os sujeitos procuram produzir lastro simbólico para suas uniões, em um momento no qual as relações são percebidas como cada vez mais voláteis. Além disso, esta tese apresenta reflexões sobre a invisibilidade dos ofícios que envolvem o cuidado, aqui representados na figura das cerimonialistas. Essas e outras questões são discutidas ao longo dos capítulos que compõem esta pesquisa sobre os ritos contemporâneos de casamento no Brasil e o mercado a eles dedicados. / Since the 1970s, marriage rates in Brazil have been decreasing significantly. New family arrangements and ways of conjugality have gained space. The importance of marriage as an institution was put in check by many young couples who rejected the idea of formalizing their relationships through a traditional wedding ceremony. However, the beginning of the 21st century was marked by a renewed interest in marriage in a trend that has been called the "revenge of ritual" (SEGALEN, 2003) specially among the urban middle class. This scenario poses an important question. Based on demographic data from the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), it is possible to affirm that in the past 40 years people tend to marry less and later in life. Still, despite Brazil’s economic crisis, in 2016 the amount invested in wedding parties was circa 16 billion Brazilian Reais - the equivalent to 5 billion Dollars - according to the Data Popular Research Institute following the total growth of the country's wedding industry since 2011. The data gathered throughout my fieldwork add to the perception that when Brazilian middle-class subjects decide to engage in marriage, they tend to mark this passage with grand scale events that demand great emotional, financial and time investment. This thesis presents an ethnographic study carried out from 2013 to 2016 among people involved in the planning, production and consumption of such events. They are wedding planners and middle class, educated and financially independent women that, in several of the observed cases, choose to finance most or even the integrality of the event. I conducted in-depth interviews with brides and relatives, collected data from Whastapp and Facebook groups, worked along side with wedding planners and visited wedding Fairs, bridal shows and exhibitions in Fortaleza, São Paulo and Porto Alegre. This ethnographic experience leads me to stress that contemporary wedding ceremonies are not necessarily traditional in the ways they are performed by wedding planners and brides to be, but represent new meanings and practices attached to modern wedding rituals. With this kind of event, subjects strive to produce symbolic ballast to anchor their formal unions in a time in which personal relationships are perceived as being increasingly volatile and not made to last. This thesis also presents a reflection on feminized labour, notably emotional labor and care work conducted by wedding planners, ceremonialists and other female professionals involved in wedding ceremonies.
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"Um sonho não tem preço" : uma etnografia do mercado de casamentos no Brasil

Pinho, Érika Bezerra de Meneses January 2017 (has links)
Desde a década de 1970, o número de casamentos no Brasil vem diminuindo significativamente. Novos arranjos familiares e formas de viver a conjugalidade ganharam espaço. A importância de ritualizações foi colocada em xeque por muitos casais que rejeitavam a ideia de formalizar suas uniões. O início do século XXI, no entanto, marca um renovado interesse dos casais em marcar a transição para o casamento com eventos cada vez mais elaborados, em uma tendência que já foi chamada de a "revanche do ritual" (SEGALEN, 2003). Em 2016, o investimento dos casais brasileiros em festas de casamentos rendeu cerca de 16 bilhões de reais (o equivalente a aproximadamente 5 bilhões de dólares) em ganhos para o setor de eventos, segundo o Instituto de pesquisas Data Popular. Acompanhando o crescimento desse mercado desde 2011, o Instituto vem registrando uma tendência de crescimento, mesmo em meio à crise econômica pela qual passa o país. O quadro é de um crescente interesse por complexos eventos de casamento, performados por homens e mulheres pertencentes a camadas medias urbanas. A partir de dados demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sabe-se que, nas últimas décadas, as pessoas casam-se menos. Por outro lado, a etnografia aqui apresentada permite afirmar que, quando decidem casar-se, sujeitos de camadas medias da população brasileira optam por marcar essa passagem com eventos cuja preparação exige um grande investimento de tempo e recursos financeiros. Nesta tese, apresento análises sobre este fenômeno, com base na etnografia que realizei entre os anos de 2013 e 2016, junto a sujeitos que protagonizam a organização de tais eventos. Trata-se de mulheres pertencentes a camadas médias urbanas, com formação superior e financeiramente independentes. Em vários dos casos observados, tais mulheres assumem a totalidade ou a maior parte dos gastos com o evento. A etnografia aqui apresentada se desdobrou em entrevistas em profundidade realizadas com noivas, acompanhamento de organizadoras de casamentos, observação participante em feiras do setor nas cidades de Fortaleza, Porto Alegre e São Paulo, participação em grupos virtuais de noivas e entrevistas com agentes deste mercado. Como resultado, destaco a compreensão de que os ritos contemporâneos aqui descritos nada tem de tradicionais no modo como são performatizados, mas representam novas formas de demarcar uma passagem cujos significados estão em transformação. Com os grandes eventos, os sujeitos procuram produzir lastro simbólico para suas uniões, em um momento no qual as relações são percebidas como cada vez mais voláteis. Além disso, esta tese apresenta reflexões sobre a invisibilidade dos ofícios que envolvem o cuidado, aqui representados na figura das cerimonialistas. Essas e outras questões são discutidas ao longo dos capítulos que compõem esta pesquisa sobre os ritos contemporâneos de casamento no Brasil e o mercado a eles dedicados. / Since the 1970s, marriage rates in Brazil have been decreasing significantly. New family arrangements and ways of conjugality have gained space. The importance of marriage as an institution was put in check by many young couples who rejected the idea of formalizing their relationships through a traditional wedding ceremony. However, the beginning of the 21st century was marked by a renewed interest in marriage in a trend that has been called the "revenge of ritual" (SEGALEN, 2003) specially among the urban middle class. This scenario poses an important question. Based on demographic data from the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), it is possible to affirm that in the past 40 years people tend to marry less and later in life. Still, despite Brazil’s economic crisis, in 2016 the amount invested in wedding parties was circa 16 billion Brazilian Reais - the equivalent to 5 billion Dollars - according to the Data Popular Research Institute following the total growth of the country's wedding industry since 2011. The data gathered throughout my fieldwork add to the perception that when Brazilian middle-class subjects decide to engage in marriage, they tend to mark this passage with grand scale events that demand great emotional, financial and time investment. This thesis presents an ethnographic study carried out from 2013 to 2016 among people involved in the planning, production and consumption of such events. They are wedding planners and middle class, educated and financially independent women that, in several of the observed cases, choose to finance most or even the integrality of the event. I conducted in-depth interviews with brides and relatives, collected data from Whastapp and Facebook groups, worked along side with wedding planners and visited wedding Fairs, bridal shows and exhibitions in Fortaleza, São Paulo and Porto Alegre. This ethnographic experience leads me to stress that contemporary wedding ceremonies are not necessarily traditional in the ways they are performed by wedding planners and brides to be, but represent new meanings and practices attached to modern wedding rituals. With this kind of event, subjects strive to produce symbolic ballast to anchor their formal unions in a time in which personal relationships are perceived as being increasingly volatile and not made to last. This thesis also presents a reflection on feminized labour, notably emotional labor and care work conducted by wedding planners, ceremonialists and other female professionals involved in wedding ceremonies.
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"Um sonho não tem preço" : uma etnografia do mercado de casamentos no Brasil

Pinho, Érika Bezerra de Meneses January 2017 (has links)
Desde a década de 1970, o número de casamentos no Brasil vem diminuindo significativamente. Novos arranjos familiares e formas de viver a conjugalidade ganharam espaço. A importância de ritualizações foi colocada em xeque por muitos casais que rejeitavam a ideia de formalizar suas uniões. O início do século XXI, no entanto, marca um renovado interesse dos casais em marcar a transição para o casamento com eventos cada vez mais elaborados, em uma tendência que já foi chamada de a "revanche do ritual" (SEGALEN, 2003). Em 2016, o investimento dos casais brasileiros em festas de casamentos rendeu cerca de 16 bilhões de reais (o equivalente a aproximadamente 5 bilhões de dólares) em ganhos para o setor de eventos, segundo o Instituto de pesquisas Data Popular. Acompanhando o crescimento desse mercado desde 2011, o Instituto vem registrando uma tendência de crescimento, mesmo em meio à crise econômica pela qual passa o país. O quadro é de um crescente interesse por complexos eventos de casamento, performados por homens e mulheres pertencentes a camadas medias urbanas. A partir de dados demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sabe-se que, nas últimas décadas, as pessoas casam-se menos. Por outro lado, a etnografia aqui apresentada permite afirmar que, quando decidem casar-se, sujeitos de camadas medias da população brasileira optam por marcar essa passagem com eventos cuja preparação exige um grande investimento de tempo e recursos financeiros. Nesta tese, apresento análises sobre este fenômeno, com base na etnografia que realizei entre os anos de 2013 e 2016, junto a sujeitos que protagonizam a organização de tais eventos. Trata-se de mulheres pertencentes a camadas médias urbanas, com formação superior e financeiramente independentes. Em vários dos casos observados, tais mulheres assumem a totalidade ou a maior parte dos gastos com o evento. A etnografia aqui apresentada se desdobrou em entrevistas em profundidade realizadas com noivas, acompanhamento de organizadoras de casamentos, observação participante em feiras do setor nas cidades de Fortaleza, Porto Alegre e São Paulo, participação em grupos virtuais de noivas e entrevistas com agentes deste mercado. Como resultado, destaco a compreensão de que os ritos contemporâneos aqui descritos nada tem de tradicionais no modo como são performatizados, mas representam novas formas de demarcar uma passagem cujos significados estão em transformação. Com os grandes eventos, os sujeitos procuram produzir lastro simbólico para suas uniões, em um momento no qual as relações são percebidas como cada vez mais voláteis. Além disso, esta tese apresenta reflexões sobre a invisibilidade dos ofícios que envolvem o cuidado, aqui representados na figura das cerimonialistas. Essas e outras questões são discutidas ao longo dos capítulos que compõem esta pesquisa sobre os ritos contemporâneos de casamento no Brasil e o mercado a eles dedicados. / Since the 1970s, marriage rates in Brazil have been decreasing significantly. New family arrangements and ways of conjugality have gained space. The importance of marriage as an institution was put in check by many young couples who rejected the idea of formalizing their relationships through a traditional wedding ceremony. However, the beginning of the 21st century was marked by a renewed interest in marriage in a trend that has been called the "revenge of ritual" (SEGALEN, 2003) specially among the urban middle class. This scenario poses an important question. Based on demographic data from the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), it is possible to affirm that in the past 40 years people tend to marry less and later in life. Still, despite Brazil’s economic crisis, in 2016 the amount invested in wedding parties was circa 16 billion Brazilian Reais - the equivalent to 5 billion Dollars - according to the Data Popular Research Institute following the total growth of the country's wedding industry since 2011. The data gathered throughout my fieldwork add to the perception that when Brazilian middle-class subjects decide to engage in marriage, they tend to mark this passage with grand scale events that demand great emotional, financial and time investment. This thesis presents an ethnographic study carried out from 2013 to 2016 among people involved in the planning, production and consumption of such events. They are wedding planners and middle class, educated and financially independent women that, in several of the observed cases, choose to finance most or even the integrality of the event. I conducted in-depth interviews with brides and relatives, collected data from Whastapp and Facebook groups, worked along side with wedding planners and visited wedding Fairs, bridal shows and exhibitions in Fortaleza, São Paulo and Porto Alegre. This ethnographic experience leads me to stress that contemporary wedding ceremonies are not necessarily traditional in the ways they are performed by wedding planners and brides to be, but represent new meanings and practices attached to modern wedding rituals. With this kind of event, subjects strive to produce symbolic ballast to anchor their formal unions in a time in which personal relationships are perceived as being increasingly volatile and not made to last. This thesis also presents a reflection on feminized labour, notably emotional labor and care work conducted by wedding planners, ceremonialists and other female professionals involved in wedding ceremonies.

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