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Vítimas ocultas das mortes escancaradas: as repercussões da morte violenta de um jovem na vida dos sobreviventes / Hidden victims of gaping deaths: the repercussions of the sudden death of a young person in the life of the survivors

Teixeira, Clodine Janny 10 October 2016 (has links)
A mortalidade na juventude ocorre, em sua maioria, por causas externas, não naturais, de forma violenta. Dentre as causas externas, os homicídios por armas de fogo são responsáveis por aproximadamente metade das mortes. Os Mapas da Violência revelam que, a cada três vítimas fatais de armas de fogo, duas eram jovens com idades entre 15 e 29 anos; 93,9% eram do sexo masculino e dois terços eram negros. As periferias das grandes metrópoles são os locais onde acontece a maioria dos homicídios. Apesar de os índices de violência estarem menores em São Paulo desde 1999, o mesmo padrão de distribuição etária, geográfica, racial e de gênero tem se mantido, e a proporção de mortes em decorrência de intervenção policial subiu de 5% em 2000 para 21% em 2014. São chamadas de mortes escancaradas as mortes violentas que ocorrem nas ruas sem chance de proteção ou preparo. Essas mortes são divulgadas pela mídia como mercadoria para atrair audiência. O objetivo deste trabalho é investigar, por meio de estudo de caso, as repercussões físicas, afetivas, econômicas, sociais, existenciais e religiosas da morte de um jovem negro morador de uma das periferias da cidade de São Paulo na vida dos sobreviventes. Os sobreviventes, ou vítimas ocultas, são as vítimas que não são reveladas numericamente pelas estatísticas, mas que têm seu cotidiano modificado pela violência extrema. Foram entrevistadas vítimas primárias sobreviventes e testemunhas do crime; vítimas secundárias pessoas que possuíam algum vínculo familiar, afetivo ou profissional com o morto; e uma vítima terciária que teve contato com a notícia do falecimento pela mídia. Como procedimentos, foram realizadas: observação participante, pesquisa documental e entrevistas abertas. A abordagem qualitativa foi adotada para coleta, compreensão e análise do material obtido. As repercussões físicas encontradas foram sequelas dos tiros, perda de peso, alteração do sono e crises de choro. Do ponto de vista afetivo, observou-se luto complicado, sentimentos de tristeza, angústia, medo, insegurança, revolta e impotência, além de sintomas de transtorno de estresse pós-traumático. No âmbito social, houve transformações no padrão de circulação e de convivência no bairro por causa da tristeza e do medo. Do ponto de vista econômico, as repercussões observadas foram a diminuição da renda com a perda do provedor e a impossibilidade de trabalhar pela necessidade constante de fuga por ser testemunha ou por medo de sair de casa no período noturno. No âmbito existencial e religioso, há o questionamento do sentido da vida e da morte, a fé traz conforto diante das perdas e do sofrimento, mas é, por vezes, questionada diante da tragédia. Foram relatados os preconceitos e as discriminações sofridos por moradores das periferias, que se expressam na maneira como se relacionam com o sistema de segurança público. A mídia é apontada como responsável pelo aumento da sensação de medo na população, gerando reações de isolamento, proteção e apoio a medidas repressivas. As principais ações identificadas para diminuir a mortalidade de jovens são a implantação de políticas públicas direcionadas aos bairros periféricos com a valorização da vida de seus moradores e mudanças no sistema de segurança pública, incluindo o policiamento comunitário e a justiça restaurativa / Youth mortality occurs, mostly due to violent external causes, not natural. Among the external causes, homicides by firearms are responsible for about half of the deaths. The Violence Maps show that in every three fatal victims by firearms, two were aged between 15 and 29, 93.9% were male and two-thirds were black. Most homicides happen in the outlying ghettos of large cities. Although the violence rates are lower in São Paulo since 1999, the same pattern of age, geographical, racial and gender distribution has remained and the proportion of deaths due to police intervention rose from 5% in 2000 to 21% in 2014. These are called gaping deaths, violent deaths that occur in the streets with no chance of protection or precaution. These deaths are disclosed by the media as a product to attract audience. The objective of this study is to investigate, through a case study, the physical, emotional, economic, social, existential and religious repercussions of the death of a young black resident of one of the outlying ghettos of São Paulo in the life of the survivors. The survivors, or hidden victims are the ones not revealed by the statistics, but have their daily routine modified by the extreme violence. Were interviewed: primary victims survivors and witnesses of the crime; secondary victims people who had any familiar, emotional or professional bond with the deceased; and one tertiary victim who had contact with the news of the death through the media. As a procedure, were performed: participant observation, documentary research and open interviews. The qualitative approach was adopted for collecting, understanding and analysis of the material obtained. Physical effects found were: after shot effect, weight loss, sleep disturbances, excessive crying. From the emotional point of view, there was: complicated grief, feelings of sadness, anxiety, fear, insecurity, anger and impotence, as well as symptoms of post-traumatic stress disorder (PTSD). In the social scope, there were changes in the circulation and living pattern in the neighborhood because of sadness and fear. From an economic point of view, the observed effects were: reduction of income due to the loss of the provider and the inability to work due to the constant need to escape for being a witness of the crime or fear of leaving the house at night. In the existential and religious scope, there is the question of the meaning of life and death, faith brings comfort when facing loss and suffering, but it is sometimes questioned when facing a tragedy. Prejudice and discrimination were reported by residents of the outlying ghettos, expressed in the way they relate to the public security system. The media is seen as responsible for increasing the sense of fear in the population, generating reactions of isolation, protection and support for repressive measures. The main actions identified to reduce mortality of young people are the implementation of public policies focused on the neighborhoods of the outlying ghettos with the appreciation of life of its residents and changes in the public security system, including community policing and restorative justice
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Vítimas ocultas das mortes escancaradas: as repercussões da morte violenta de um jovem na vida dos sobreviventes / Hidden victims of gaping deaths: the repercussions of the sudden death of a young person in the life of the survivors

Clodine Janny Teixeira 10 October 2016 (has links)
A mortalidade na juventude ocorre, em sua maioria, por causas externas, não naturais, de forma violenta. Dentre as causas externas, os homicídios por armas de fogo são responsáveis por aproximadamente metade das mortes. Os Mapas da Violência revelam que, a cada três vítimas fatais de armas de fogo, duas eram jovens com idades entre 15 e 29 anos; 93,9% eram do sexo masculino e dois terços eram negros. As periferias das grandes metrópoles são os locais onde acontece a maioria dos homicídios. Apesar de os índices de violência estarem menores em São Paulo desde 1999, o mesmo padrão de distribuição etária, geográfica, racial e de gênero tem se mantido, e a proporção de mortes em decorrência de intervenção policial subiu de 5% em 2000 para 21% em 2014. São chamadas de mortes escancaradas as mortes violentas que ocorrem nas ruas sem chance de proteção ou preparo. Essas mortes são divulgadas pela mídia como mercadoria para atrair audiência. O objetivo deste trabalho é investigar, por meio de estudo de caso, as repercussões físicas, afetivas, econômicas, sociais, existenciais e religiosas da morte de um jovem negro morador de uma das periferias da cidade de São Paulo na vida dos sobreviventes. Os sobreviventes, ou vítimas ocultas, são as vítimas que não são reveladas numericamente pelas estatísticas, mas que têm seu cotidiano modificado pela violência extrema. Foram entrevistadas vítimas primárias sobreviventes e testemunhas do crime; vítimas secundárias pessoas que possuíam algum vínculo familiar, afetivo ou profissional com o morto; e uma vítima terciária que teve contato com a notícia do falecimento pela mídia. Como procedimentos, foram realizadas: observação participante, pesquisa documental e entrevistas abertas. A abordagem qualitativa foi adotada para coleta, compreensão e análise do material obtido. As repercussões físicas encontradas foram sequelas dos tiros, perda de peso, alteração do sono e crises de choro. Do ponto de vista afetivo, observou-se luto complicado, sentimentos de tristeza, angústia, medo, insegurança, revolta e impotência, além de sintomas de transtorno de estresse pós-traumático. No âmbito social, houve transformações no padrão de circulação e de convivência no bairro por causa da tristeza e do medo. Do ponto de vista econômico, as repercussões observadas foram a diminuição da renda com a perda do provedor e a impossibilidade de trabalhar pela necessidade constante de fuga por ser testemunha ou por medo de sair de casa no período noturno. No âmbito existencial e religioso, há o questionamento do sentido da vida e da morte, a fé traz conforto diante das perdas e do sofrimento, mas é, por vezes, questionada diante da tragédia. Foram relatados os preconceitos e as discriminações sofridos por moradores das periferias, que se expressam na maneira como se relacionam com o sistema de segurança público. A mídia é apontada como responsável pelo aumento da sensação de medo na população, gerando reações de isolamento, proteção e apoio a medidas repressivas. As principais ações identificadas para diminuir a mortalidade de jovens são a implantação de políticas públicas direcionadas aos bairros periféricos com a valorização da vida de seus moradores e mudanças no sistema de segurança pública, incluindo o policiamento comunitário e a justiça restaurativa / Youth mortality occurs, mostly due to violent external causes, not natural. Among the external causes, homicides by firearms are responsible for about half of the deaths. The Violence Maps show that in every three fatal victims by firearms, two were aged between 15 and 29, 93.9% were male and two-thirds were black. Most homicides happen in the outlying ghettos of large cities. Although the violence rates are lower in São Paulo since 1999, the same pattern of age, geographical, racial and gender distribution has remained and the proportion of deaths due to police intervention rose from 5% in 2000 to 21% in 2014. These are called gaping deaths, violent deaths that occur in the streets with no chance of protection or precaution. These deaths are disclosed by the media as a product to attract audience. The objective of this study is to investigate, through a case study, the physical, emotional, economic, social, existential and religious repercussions of the death of a young black resident of one of the outlying ghettos of São Paulo in the life of the survivors. The survivors, or hidden victims are the ones not revealed by the statistics, but have their daily routine modified by the extreme violence. Were interviewed: primary victims survivors and witnesses of the crime; secondary victims people who had any familiar, emotional or professional bond with the deceased; and one tertiary victim who had contact with the news of the death through the media. As a procedure, were performed: participant observation, documentary research and open interviews. The qualitative approach was adopted for collecting, understanding and analysis of the material obtained. Physical effects found were: after shot effect, weight loss, sleep disturbances, excessive crying. From the emotional point of view, there was: complicated grief, feelings of sadness, anxiety, fear, insecurity, anger and impotence, as well as symptoms of post-traumatic stress disorder (PTSD). In the social scope, there were changes in the circulation and living pattern in the neighborhood because of sadness and fear. From an economic point of view, the observed effects were: reduction of income due to the loss of the provider and the inability to work due to the constant need to escape for being a witness of the crime or fear of leaving the house at night. In the existential and religious scope, there is the question of the meaning of life and death, faith brings comfort when facing loss and suffering, but it is sometimes questioned when facing a tragedy. Prejudice and discrimination were reported by residents of the outlying ghettos, expressed in the way they relate to the public security system. The media is seen as responsible for increasing the sense of fear in the population, generating reactions of isolation, protection and support for repressive measures. The main actions identified to reduce mortality of young people are the implementation of public policies focused on the neighborhoods of the outlying ghettos with the appreciation of life of its residents and changes in the public security system, including community policing and restorative justice

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