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Pedra e sonho: a construção do sujeito lírico na poesia de Dante Milano / Stone and dream: the construction of lyric subject in the poetic work of Dante MilanoLafalce, Luiz Camilo 26 March 2007 (has links)
Ao materializar uma específica percepção/estilização de mundo por meio das imagens, dos jogos sonoros e do ritmo, o poema formaliza, por isso mesmo, um modo de ser do enunciador, o etos do sujeito lírico, instância enunciativa que se faz na e pela linguagem. Com base nesse pressuposto, objetivou-se, neste estudo da poesia do brasileiro Dante Milano (1899-1991), identificar os índices lingüísticodiscursivos que, em sua dimensão estilística, permitissem a apreensão e a compreensão de traços do enunciador, cronotopicamente marcado, aderente à percepção que o texto lírico constrói. Assumindo-se explicitamente como poeta e, ao mesmo tempo, desqualificando o valor de sua enunciação, o eu lírico milaniano constrói, nesse paradoxo pragmático, um dos núcleos de tensão que o corporifica no discurso poético e o enlaça à modernidade. Tal procedimento converge para a identificação do eu lírico com figuras emblemáticas da marginalidade, que erram num espaço existencial de peso e opressão. Molda-se, assim, o corpo tenso e comprimido do enunciador, que, contudo, se inscreve numa expressão de altivez heróica. A existência solitária desse eu petrificado na angústia de sua contínua ruminação poética, revela também, em contraponto, outra configuração: a de um corpo volátil e expansivo. Aquele que se faz no devaneio de um olhar desejante lançado à plenitude. Mas uma plenitude que, ao formalizar-se não raras vezes numa sintaxe fragmentada e em imagens da evanescência, se torna inconsistente, vazia. Essas corporificações marcam as conjunções e as dissonâncias que essa poesia, especialmente antitética, constrói entre a carne e o espírito, o sonho e a vigília, a palavra e o silêncio, a morte e a vida... Como significantes intercambiáveis - antagônicos e, ao mesmo tempo, afins - que acionam um jogo assimétrico, indiciam a perspectiva irônica da fala desse enunciador. Uma perspectiva irônica que, entendida como um evento deflagrado na situação comunicativa, instaura a especificidade de uma percepção que incorpora na construção de sua verdade a negação dessa mesma verdade. A configuração poética do locus horrendus, a sonoridade soturna de sua poesia, o sentido especial que assume a métrica decassilábica, as imagens nucleares da pedra e da evanescência, a espacialização textual, o ritmo dispnéico de muitos de seus versos, entre outros índices que emergem da tessitura poética de sutil ironia, corporificam o etos de um enunciador que vivencia a angústia em sua trágica dimensão. / When materializing a specific world perception/stylization by means of images, sound play and rhythm, the poem formalizes, for this very reason, the enunciator\'s way of being, the lyric subject\'s ethos, an enunciation instance that is produced in and by language. Starting from this presupposition, the aim of this study of the poetic work of Brazilian poet Dante Milano (1899-1991) will be to identify the linguistic and discursive indices which, in their stylistic dimension, would allow the apprehension and comprehension of the enunciator\'s traces, chronotopically marked, adherent to the perception built by the lyrical text. Explicitly assuming itself as a poet and, at the same time, disqualifying the value of its enunciation, Milano\'s persona builds, in this pragmatic paradox, one of the tension nuclei which embodies it in the poetic discourse and which ties it to modernity. Such procedure converges on the persona\'s identification with emblematic figures of marginality, which wander in an existential space of heaviness and oppression. Thus is molded the enunciator\'s tense and compressed body, which inscribes itself in an expression of heroic pride. The solitary existence of this self, petrified in the anguish of its continuous poetic rumination, also reveals, in counterpoint, another configuration: that of a volatile and expansive body, which is made in the reverie of a desiring gaze cast into plenitude, but a plenitude which, not rarely taking shape in a fragmented syntax and in images of evanescence, becomes inconsistent and hollow. These embodiments mark the conjunctions and dissonances that this poetry, specially antithetic, builds between flesh and soul, dream and vigil, word and silence, death and life... As interchangeable signifiers - antagonistic and, at the same time, similar - which actuate an asymmetric game, they indicate the ironic perspective of this enunciator\'s speech, an ironic perspective which, understood as an event triggered in the communicative situation, establishes the specificity of a perception that incorporates in the construction of its truth the denial of this very truth. The poetic configuration of the locus horrendus, the gloomy sonority of the poetry, the special meaning assumed by the decasyllabic meter, the nuclear images of stone and evanescence, the textual spatialization, the dyspnoeic rhythm of many of the verses, among other indices which emerge from the poetic tissue of subtle irony, embody the ethos of an enunciator that experiences anguish in its tragic dimension.
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Pedra e sonho: a construção do sujeito lírico na poesia de Dante Milano / Stone and dream: the construction of lyric subject in the poetic work of Dante MilanoLuiz Camilo Lafalce 26 March 2007 (has links)
Ao materializar uma específica percepção/estilização de mundo por meio das imagens, dos jogos sonoros e do ritmo, o poema formaliza, por isso mesmo, um modo de ser do enunciador, o etos do sujeito lírico, instância enunciativa que se faz na e pela linguagem. Com base nesse pressuposto, objetivou-se, neste estudo da poesia do brasileiro Dante Milano (1899-1991), identificar os índices lingüísticodiscursivos que, em sua dimensão estilística, permitissem a apreensão e a compreensão de traços do enunciador, cronotopicamente marcado, aderente à percepção que o texto lírico constrói. Assumindo-se explicitamente como poeta e, ao mesmo tempo, desqualificando o valor de sua enunciação, o eu lírico milaniano constrói, nesse paradoxo pragmático, um dos núcleos de tensão que o corporifica no discurso poético e o enlaça à modernidade. Tal procedimento converge para a identificação do eu lírico com figuras emblemáticas da marginalidade, que erram num espaço existencial de peso e opressão. Molda-se, assim, o corpo tenso e comprimido do enunciador, que, contudo, se inscreve numa expressão de altivez heróica. A existência solitária desse eu petrificado na angústia de sua contínua ruminação poética, revela também, em contraponto, outra configuração: a de um corpo volátil e expansivo. Aquele que se faz no devaneio de um olhar desejante lançado à plenitude. Mas uma plenitude que, ao formalizar-se não raras vezes numa sintaxe fragmentada e em imagens da evanescência, se torna inconsistente, vazia. Essas corporificações marcam as conjunções e as dissonâncias que essa poesia, especialmente antitética, constrói entre a carne e o espírito, o sonho e a vigília, a palavra e o silêncio, a morte e a vida... Como significantes intercambiáveis - antagônicos e, ao mesmo tempo, afins - que acionam um jogo assimétrico, indiciam a perspectiva irônica da fala desse enunciador. Uma perspectiva irônica que, entendida como um evento deflagrado na situação comunicativa, instaura a especificidade de uma percepção que incorpora na construção de sua verdade a negação dessa mesma verdade. A configuração poética do locus horrendus, a sonoridade soturna de sua poesia, o sentido especial que assume a métrica decassilábica, as imagens nucleares da pedra e da evanescência, a espacialização textual, o ritmo dispnéico de muitos de seus versos, entre outros índices que emergem da tessitura poética de sutil ironia, corporificam o etos de um enunciador que vivencia a angústia em sua trágica dimensão. / When materializing a specific world perception/stylization by means of images, sound play and rhythm, the poem formalizes, for this very reason, the enunciator\'s way of being, the lyric subject\'s ethos, an enunciation instance that is produced in and by language. Starting from this presupposition, the aim of this study of the poetic work of Brazilian poet Dante Milano (1899-1991) will be to identify the linguistic and discursive indices which, in their stylistic dimension, would allow the apprehension and comprehension of the enunciator\'s traces, chronotopically marked, adherent to the perception built by the lyrical text. Explicitly assuming itself as a poet and, at the same time, disqualifying the value of its enunciation, Milano\'s persona builds, in this pragmatic paradox, one of the tension nuclei which embodies it in the poetic discourse and which ties it to modernity. Such procedure converges on the persona\'s identification with emblematic figures of marginality, which wander in an existential space of heaviness and oppression. Thus is molded the enunciator\'s tense and compressed body, which inscribes itself in an expression of heroic pride. The solitary existence of this self, petrified in the anguish of its continuous poetic rumination, also reveals, in counterpoint, another configuration: that of a volatile and expansive body, which is made in the reverie of a desiring gaze cast into plenitude, but a plenitude which, not rarely taking shape in a fragmented syntax and in images of evanescence, becomes inconsistent and hollow. These embodiments mark the conjunctions and dissonances that this poetry, specially antithetic, builds between flesh and soul, dream and vigil, word and silence, death and life... As interchangeable signifiers - antagonistic and, at the same time, similar - which actuate an asymmetric game, they indicate the ironic perspective of this enunciator\'s speech, an ironic perspective which, understood as an event triggered in the communicative situation, establishes the specificity of a perception that incorporates in the construction of its truth the denial of this very truth. The poetic configuration of the locus horrendus, the gloomy sonority of the poetry, the special meaning assumed by the decasyllabic meter, the nuclear images of stone and evanescence, the textual spatialization, the dyspnoeic rhythm of many of the verses, among other indices which emerge from the poetic tissue of subtle irony, embody the ethos of an enunciator that experiences anguish in its tragic dimension.
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