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O mais belo ornamento de RomaOtávio Luiz Vieira Pinto 09 May 2012 (has links)
Resumo: esta dissertação tem por objetivo apresentar uma analise centrada na Itália ostrogótica do século VI a partir de uma compilação chancelar intitulada Variae, idealizada e organizada pelo funcionário romano Flávio Magno Aurélio Cassiodoro Senator (c. 485 - c. 590 d.C.) por volta de 540. Enquanto personagem de extração tradicional latina, Cassiodoro atuou como um importante funcionário civil sob a coroa dos ostrogodos entre 507 e c. 538: durante este período, assumiu os cargos de Questor, Cônsul, Magister Officiorum e Prefeito do Pretório e, ao final de sua carreira, reuniu uma parte de sua produção oficial e as publicou numa coleção (em 12 livros) pensada, organizada e disposta pelo próprio autor. Nos últimos anos da atuação administrativa de Cassiodoro, o então imperador em Constantinopla, Justiniano I, moveu uma campanha militar contra territórios do ocidente, com destaque para a região da Península Itálica. Este conflito trouxe instabilidade para o poder dos ostrogodos, que sofreu um forte abalo com a perda de Ravena, a capital política, para as forças do general Belisário, em 540. Com a tomada da cidade, seus habitantes mais destacados, entre eles Cassiodoro, são enviados para Constantinopla (nosso autor permaneceria no oriente até 554), e é neste ínterim que deve repousar o entendimento acerca das Variae. Tradicionalmente entendida como um documento que atesta ou uma propaganda ostrogótica ou um exercício estilístico no âmbito dos textos administrativos, tomamos aqui as Variae como parte de um projeto político-burocrático do autor, isto é, como um esforço retórico para legitimar sua atuação e, ao mesmo tempo, apresentar uma dimensão tradicional, política e estável para a máquina de gerência civil, tornando-a uma verdadeira representante do Império Romano sob qualquer tipo de vicissitude política. Para esta compreensão, investigamos essa compilação chancelar enquanto um documento geral e coeso, cuja leitura perpassa uma lógica estruturada pelo autor e guiada por uma ideia de "protagonismos retóricos", isto é, papéis discursivos atribuídos à elementos de recorrência, como o reinado dos ostrogodos ou o império do Oriente, de maneira a formar uma ideia particular, independente do caráter heterogêneo dos assuntos tratados nas cartas individualmente. Destarte, com este exercício exegético, chegamos à conclusão de que as Variae são, por parte de Cassiodoro, uma tentativa de elevar e apresentar a burocracia como a efetiva eternidade de Roma, capaz de atuar independentemente da situação política de seu momento, e por isso tal documento torna-se relevante no contexto de instabilidade em que foi publicado. Acreditamos, assim, propor uma compreensão tanto para os objetivos de Cassiodoro como para o funcionamento da administração, do passado e da tradição na Itália ostrogótica do século VI, de forma a contribuir, de maneira adequada, ao campo de estudos da Antiguidade Tardia.
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