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O testemunho de Maryan: limites e possibilidades na expressão do trauma / The testimony of Maryan: limits and possibilities in the expression of traumaOsmo, Alan 24 August 2016 (has links)
Este trabalho tem como objeto os desenhos do pintor Maryan S. Maryan, que foram produzidos na ocasião de seu tratamento psicanalítico. Maryan foi um pintor da segunda metade do século XX, de origem judia polonesa. Ele era um adolescente quando aconteceu a ocupação nazista da Polônia em 1939. Maryan passou por diversos campos de concentração e acabou sendo o único membro de sua família que sobreviveu. Em 1971, o pintor buscou um tratamento psicanalítico, mas, diante de sua grande dificuldade em falar, seu analista sugeriu que ele desenhasse para se expressar. Maryan preencheu ao todo nove cadernos durante um ano de tratamento psicanalítico. Seus desenhos são um material muito rico que pode ser explorado de distintas formas. Uma delas é vê-los como um poderoso testemunho relacionado às terríveis experiências traumáticas pelas quais o pintor passou em sua vida. A expressão desse tipo de violência tem grande complexidade, tendo em vista que sua lembrança é bastante dolorosa. A proposta deste trabalho é um olhar interdisciplinar para os desenhos de Maryan, que articula concepções da psicanálise, reflexões teóricas desenvolvidas a respeito do testemunho, e também textos literários da chamada literatura de testemunho. A psicanálise tem contribuições teóricas para esse debate, por exemplo, por meio da ideia de trauma. Entretanto, esse conceito, por vezes, traz problemas para se pensar violências como as que passaram sujeitos que sobreviveram a um genocídio, como Maryan. Neste trabalho, a escolha teórica é por desenvolver a ideia de trauma a partir da obra de Sándor Ferenczi, autor que permite uma compreensão em que é enfatizada uma dimensão social. O segundo momento de sua concepção de trauma, que é comumente chamado de desmentido, diz respeito a uma reação inadequada do meio quando um sujeito tenta se expressar sobre uma situação de violência. Outra contribuição interessante de Ferenczi é a ideia de identificação com o agressor, que permite uma compreensão para a complexa dinâmica que envolve vítima e agressor em situações de violência. Nicolas Abraham e Maria Torok são autores que fizeram desdobramentos interessantes ao pensamento de Ferenczi, através das ideias de cripta e de fantasma. Além desses conceitos psicanalíticos, são utilizadas, para a reflexão dos desenhos de Maryan, discussões em torno da ideia de testemunho, desenvolvidas em um campo interdisciplinar, por autores como Márcio Seligmann-Silva, Shoshana Felman, Dori Laub, Annette Wieviorka, entre outros. Foram utilizados, também, textos literários da chamada de literatura de testemunho de autores como Primo Levi, Imre Kertész e Ruth Klüger. Esses autores são, como Maryan, sobreviventes do Holocausto, que, através de seus livros, relatam as experiências terríveis que viveram / This work has as object the drawings of Maryan S. Maryan, which were produced on the occasion of his psychoanalytic treatment. Maryan was a painter of the second half of twentieth century, of Polish Jewish origin. He was a teenager at the time of the Nazi occupation of Poland, in 1939. Maryan went through several concentration camps and ended up being the only member of his family who survived. In 1971, the painter sought psychoanalytic treatment, but, due to his great difficulty in speaking, his analyst suggested him to draw to express himself. Maryan filled a total of nine sketchbooks during one year of psychoanalytic treatment. His drawings are a very rich material that can be researched in distinct ways. One of them is to see them as a powerful testimony related to the terrible traumatic experiences which the painter went through during his life. The expression of such violence has a great complexity, given that its remembrance is quite painful. The purpose of this work is an interdisciplinary look at Maryans drawings, which articulates concepts of psychoanalysis, theoretical reflections about the testimony, and also literary texts of the called testimonial literature. Psychoanalysis has theoretical contributions to this debate, for example, through the idea of trauma. However, this concept sometimes brings problems when thinking about violent experiences as those endured by subjects who survived genocide, as Maryan. In this work, the theoretical choice is to develop the idea of trauma from the writings of Sándor Ferenczi, an author that allows an understanding in which a social dimension is emphasized. The second moment of his conception of trauma, that is commonly called denial, concerns an inadequate reaction of the environment when a subject tries to express a situation of violence. Another interesting contribution of Ferenczi is the idea of identification with the aggressor, which allows an understanding of the complex dynamics involving victim and aggressor in situations of violence. Nicolas Abraham and Maria Torok are authors who have made interesting developments to Ferenczis thought, through the ideas of crypt and phantom. For the reflection on Maryans drawings, in addition to these psychoanalytic concepts, are also used discussions around the idea of testimony developed in an interdisciplinary field by authors such as Márcio Seligmann-Silva, Shoshana Felman, Dori Laub, Annette Wieviorka, among others. Also literary texts of the called testimonial literature were used, from authors such as Primo Levi, Imre Kertész and Ruth Klüger. As Maryan, these authors were also Holocaust survivors, who reported through their books the terrible experiences that they lived
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O testemunho de Maryan: limites e possibilidades na expressão do trauma / The testimony of Maryan: limits and possibilities in the expression of traumaAlan Osmo 24 August 2016 (has links)
Este trabalho tem como objeto os desenhos do pintor Maryan S. Maryan, que foram produzidos na ocasião de seu tratamento psicanalítico. Maryan foi um pintor da segunda metade do século XX, de origem judia polonesa. Ele era um adolescente quando aconteceu a ocupação nazista da Polônia em 1939. Maryan passou por diversos campos de concentração e acabou sendo o único membro de sua família que sobreviveu. Em 1971, o pintor buscou um tratamento psicanalítico, mas, diante de sua grande dificuldade em falar, seu analista sugeriu que ele desenhasse para se expressar. Maryan preencheu ao todo nove cadernos durante um ano de tratamento psicanalítico. Seus desenhos são um material muito rico que pode ser explorado de distintas formas. Uma delas é vê-los como um poderoso testemunho relacionado às terríveis experiências traumáticas pelas quais o pintor passou em sua vida. A expressão desse tipo de violência tem grande complexidade, tendo em vista que sua lembrança é bastante dolorosa. A proposta deste trabalho é um olhar interdisciplinar para os desenhos de Maryan, que articula concepções da psicanálise, reflexões teóricas desenvolvidas a respeito do testemunho, e também textos literários da chamada literatura de testemunho. A psicanálise tem contribuições teóricas para esse debate, por exemplo, por meio da ideia de trauma. Entretanto, esse conceito, por vezes, traz problemas para se pensar violências como as que passaram sujeitos que sobreviveram a um genocídio, como Maryan. Neste trabalho, a escolha teórica é por desenvolver a ideia de trauma a partir da obra de Sándor Ferenczi, autor que permite uma compreensão em que é enfatizada uma dimensão social. O segundo momento de sua concepção de trauma, que é comumente chamado de desmentido, diz respeito a uma reação inadequada do meio quando um sujeito tenta se expressar sobre uma situação de violência. Outra contribuição interessante de Ferenczi é a ideia de identificação com o agressor, que permite uma compreensão para a complexa dinâmica que envolve vítima e agressor em situações de violência. Nicolas Abraham e Maria Torok são autores que fizeram desdobramentos interessantes ao pensamento de Ferenczi, através das ideias de cripta e de fantasma. Além desses conceitos psicanalíticos, são utilizadas, para a reflexão dos desenhos de Maryan, discussões em torno da ideia de testemunho, desenvolvidas em um campo interdisciplinar, por autores como Márcio Seligmann-Silva, Shoshana Felman, Dori Laub, Annette Wieviorka, entre outros. Foram utilizados, também, textos literários da chamada de literatura de testemunho de autores como Primo Levi, Imre Kertész e Ruth Klüger. Esses autores são, como Maryan, sobreviventes do Holocausto, que, através de seus livros, relatam as experiências terríveis que viveram / This work has as object the drawings of Maryan S. Maryan, which were produced on the occasion of his psychoanalytic treatment. Maryan was a painter of the second half of twentieth century, of Polish Jewish origin. He was a teenager at the time of the Nazi occupation of Poland, in 1939. Maryan went through several concentration camps and ended up being the only member of his family who survived. In 1971, the painter sought psychoanalytic treatment, but, due to his great difficulty in speaking, his analyst suggested him to draw to express himself. Maryan filled a total of nine sketchbooks during one year of psychoanalytic treatment. His drawings are a very rich material that can be researched in distinct ways. One of them is to see them as a powerful testimony related to the terrible traumatic experiences which the painter went through during his life. The expression of such violence has a great complexity, given that its remembrance is quite painful. The purpose of this work is an interdisciplinary look at Maryans drawings, which articulates concepts of psychoanalysis, theoretical reflections about the testimony, and also literary texts of the called testimonial literature. Psychoanalysis has theoretical contributions to this debate, for example, through the idea of trauma. However, this concept sometimes brings problems when thinking about violent experiences as those endured by subjects who survived genocide, as Maryan. In this work, the theoretical choice is to develop the idea of trauma from the writings of Sándor Ferenczi, an author that allows an understanding in which a social dimension is emphasized. The second moment of his conception of trauma, that is commonly called denial, concerns an inadequate reaction of the environment when a subject tries to express a situation of violence. Another interesting contribution of Ferenczi is the idea of identification with the aggressor, which allows an understanding of the complex dynamics involving victim and aggressor in situations of violence. Nicolas Abraham and Maria Torok are authors who have made interesting developments to Ferenczis thought, through the ideas of crypt and phantom. For the reflection on Maryans drawings, in addition to these psychoanalytic concepts, are also used discussions around the idea of testimony developed in an interdisciplinary field by authors such as Márcio Seligmann-Silva, Shoshana Felman, Dori Laub, Annette Wieviorka, among others. Also literary texts of the called testimonial literature were used, from authors such as Primo Levi, Imre Kertész and Ruth Klüger. As Maryan, these authors were also Holocaust survivors, who reported through their books the terrible experiences that they lived
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