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Narrativas de mães ouvintes de crianças surdas: oralidade, metáfora e poesia / Hearing mothers of deaf children narratives: orality, metaphor and poetry

Digiampietri, Maria Carolina Casati 08 October 2009 (has links)
O objetivo deste trabalho é realizar uma análise lingüística de narrativas de mães ouvintes acerca da experiência de nascimento e criação de um filho surdo. No Brasil, calcula-se que 95% das pessoas que nascem surdas ou que se tornam surdas nos primeiros anos de vida são provenientes de famílias ouvintes que, normalmente, demoram alguns anos para perceber a falta de audição de seus filhos. Muitos pais ouvintes não têm um histórico de surdez na família e, por vezes, nunca tiveram contato com uma pessoa surda. Desconhecem, portanto, as particularidades da surdez e, na maioria das vezes, a enxergam como uma deficiência. Para agravar a situação, grande parte da comunidade médica, talvez inadvertidamente, enfatiza para os pais uma visão patológica da surdez ao centrar-se na questão da perda da audição. Sem informações e acreditando que seus filhos são deficientes, muitos pais ouvintes deixam de interagir com as crianças; ou restringem sua interação à satisfação de algumas necessidades básicas da criança, usando sinais caseiros para expressar que está na hora de comer, dormir ou brincar, por exemplo. Ainda que muitos estudos (Crocker, 2004; Gregory & Knight, 1998; Lane, Hoffmeister & Bahan, 1996) descrevam o chamado período de luto período no qual as mães ouvintes descobrem a surdez dos filhos e se comportam como se o filho que esperavam tivesse, de fato, morrido o presente trabalho se concentra nas estratégias que as mães ouvintes desenvolvem para sair desse período e se relacionar com seus filhos. As principais referências metodológicas utilizadas nesta pesquisa foram os estudos sobre narrativas desenvolvidos por Bruner (1990, 1995, 2004), Gee (1985, 1989, 2005), Labov (1967, 1997, 2001) e Ong (2006). Além disso, também embasaram este trabalho estudos desenvolvidos na Lingüística Cognitiva que se referem ao uso de metáforas no discurso cotidiano (Lakoff & Johnson,1980; Oakley, 2005; Talmy, 2000). Para a formação do corpus desta pesquisa, foram realizadas entrevistas com mães ouvintes de crianças surdas, seguindo os procedimentos de história oral propostos por Meihy (1991, 2005, 2007). Considerando asparticularidades da língua oral, as narrativas que compõem o corpus desta pesquisa foram transcritas de modo a ressaltar os ritmos, intermitências e estruturas, característicos do discurso oral e divididas em unidades entoacionais (Chafe, 1994), estrofes (Gee, 1989) e grandes histórias (Bell, 1988). Essa transcrição originou um modelo de apresentação de narrativas orais que buscou privilegiar os contornos da língua oral e enfatizar a interação entre pesquisador e entrevistado presente na situação particular da entrevista. A análise das narrativas mostrou que as mães ouvintes se valem de metáforas a fim de atribuir significados à sua experiência. A análise também mostrou a eficácia do modelo desenvolvido no que tange à evidenciação da estrutura dada pelas entrevistadas às suas narrativas, bem como no que diz respeito à interação e aos processos de negociação de tomada de turnos de fala entre os participantes da entrevista. / This research proposes a linguistic analysis of narratives by hearing mothers about their experience of giving birth to and raising a deaf child. In Brazil around 95% of people being born deaf or who become deaf at early ages come from hearing families, who often do not notice the deafness of their children for some time. Most hearing parents have no deafness in their families and have never had contact with deaf people. Therefore, they do not know the specificities of deafness and tend to see it as disability. One thing that can make this situation even worse is that most doctors give parents a pathological view of deafness by focusing only on the hearing handicap. Because of the lack of information and the belief that their children are disabled, many hearing parents stop interacting with them or constrain their interaction to the use of home signs expressing things like time to eat, time to go to bed or time to play. Even though much research (Crocker, 2004; Gregory & Knight, 1998; Lane, Hoffmeister & Bahan, 1996) describes the so-called mourning period when hearing mothers find out their childrens deafness and behave as if their child whom they had been expecting, indeed, died this research focus on the strategies developed by hearing mothers to overcome this period and start relating to their child. The main references for this research were studies on narratives developed by Bruner (1990, 1995, 2004), Gee (1985, 1989, 2005), Labov (1967, 1997, 2001) e Ong (2006) and studies on metaphors of everyday language developed within the Cognitive Linguistics framework. In order to constitute the corpus of the present study, interviews with hearing mothers of a deaf child were conducted following the procedures of oral history proposed by Meihy (1991, 2005, 2007). Taking into account the peculiarities of oral language, the narratives which make up the corpus of this research were transcribed to reflect the rhythms and structures typical of oral speech, and divided into intonational units (Chafe, 1994), strophes (Gee, 1989) and stories (Bell, 1988). This transcription gave origin to a model of oral narrative presentation that highlights the peculiarities of oral speech and emphasizes the interaction between the researcher/interviewer and the person interviewed. The analysis of the narratives showed that hearing mothers use metaphors in order to give meaning to their experience. This analysis also showed the effectiveness of the model developed for this study in relation to both the observation of structure built into the narration by the interviewee and the interaction and processes of negotiation of turn-takings between the participants of the interview.
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Narrativas de mães ouvintes de crianças surdas: oralidade, metáfora e poesia / Hearing mothers of deaf children narratives: orality, metaphor and poetry

Maria Carolina Casati Digiampietri 08 October 2009 (has links)
O objetivo deste trabalho é realizar uma análise lingüística de narrativas de mães ouvintes acerca da experiência de nascimento e criação de um filho surdo. No Brasil, calcula-se que 95% das pessoas que nascem surdas ou que se tornam surdas nos primeiros anos de vida são provenientes de famílias ouvintes que, normalmente, demoram alguns anos para perceber a falta de audição de seus filhos. Muitos pais ouvintes não têm um histórico de surdez na família e, por vezes, nunca tiveram contato com uma pessoa surda. Desconhecem, portanto, as particularidades da surdez e, na maioria das vezes, a enxergam como uma deficiência. Para agravar a situação, grande parte da comunidade médica, talvez inadvertidamente, enfatiza para os pais uma visão patológica da surdez ao centrar-se na questão da perda da audição. Sem informações e acreditando que seus filhos são deficientes, muitos pais ouvintes deixam de interagir com as crianças; ou restringem sua interação à satisfação de algumas necessidades básicas da criança, usando sinais caseiros para expressar que está na hora de comer, dormir ou brincar, por exemplo. Ainda que muitos estudos (Crocker, 2004; Gregory & Knight, 1998; Lane, Hoffmeister & Bahan, 1996) descrevam o chamado período de luto período no qual as mães ouvintes descobrem a surdez dos filhos e se comportam como se o filho que esperavam tivesse, de fato, morrido o presente trabalho se concentra nas estratégias que as mães ouvintes desenvolvem para sair desse período e se relacionar com seus filhos. As principais referências metodológicas utilizadas nesta pesquisa foram os estudos sobre narrativas desenvolvidos por Bruner (1990, 1995, 2004), Gee (1985, 1989, 2005), Labov (1967, 1997, 2001) e Ong (2006). Além disso, também embasaram este trabalho estudos desenvolvidos na Lingüística Cognitiva que se referem ao uso de metáforas no discurso cotidiano (Lakoff & Johnson,1980; Oakley, 2005; Talmy, 2000). Para a formação do corpus desta pesquisa, foram realizadas entrevistas com mães ouvintes de crianças surdas, seguindo os procedimentos de história oral propostos por Meihy (1991, 2005, 2007). Considerando asparticularidades da língua oral, as narrativas que compõem o corpus desta pesquisa foram transcritas de modo a ressaltar os ritmos, intermitências e estruturas, característicos do discurso oral e divididas em unidades entoacionais (Chafe, 1994), estrofes (Gee, 1989) e grandes histórias (Bell, 1988). Essa transcrição originou um modelo de apresentação de narrativas orais que buscou privilegiar os contornos da língua oral e enfatizar a interação entre pesquisador e entrevistado presente na situação particular da entrevista. A análise das narrativas mostrou que as mães ouvintes se valem de metáforas a fim de atribuir significados à sua experiência. A análise também mostrou a eficácia do modelo desenvolvido no que tange à evidenciação da estrutura dada pelas entrevistadas às suas narrativas, bem como no que diz respeito à interação e aos processos de negociação de tomada de turnos de fala entre os participantes da entrevista. / This research proposes a linguistic analysis of narratives by hearing mothers about their experience of giving birth to and raising a deaf child. In Brazil around 95% of people being born deaf or who become deaf at early ages come from hearing families, who often do not notice the deafness of their children for some time. Most hearing parents have no deafness in their families and have never had contact with deaf people. Therefore, they do not know the specificities of deafness and tend to see it as disability. One thing that can make this situation even worse is that most doctors give parents a pathological view of deafness by focusing only on the hearing handicap. Because of the lack of information and the belief that their children are disabled, many hearing parents stop interacting with them or constrain their interaction to the use of home signs expressing things like time to eat, time to go to bed or time to play. Even though much research (Crocker, 2004; Gregory & Knight, 1998; Lane, Hoffmeister & Bahan, 1996) describes the so-called mourning period when hearing mothers find out their childrens deafness and behave as if their child whom they had been expecting, indeed, died this research focus on the strategies developed by hearing mothers to overcome this period and start relating to their child. The main references for this research were studies on narratives developed by Bruner (1990, 1995, 2004), Gee (1985, 1989, 2005), Labov (1967, 1997, 2001) e Ong (2006) and studies on metaphors of everyday language developed within the Cognitive Linguistics framework. In order to constitute the corpus of the present study, interviews with hearing mothers of a deaf child were conducted following the procedures of oral history proposed by Meihy (1991, 2005, 2007). Taking into account the peculiarities of oral language, the narratives which make up the corpus of this research were transcribed to reflect the rhythms and structures typical of oral speech, and divided into intonational units (Chafe, 1994), strophes (Gee, 1989) and stories (Bell, 1988). This transcription gave origin to a model of oral narrative presentation that highlights the peculiarities of oral speech and emphasizes the interaction between the researcher/interviewer and the person interviewed. The analysis of the narratives showed that hearing mothers use metaphors in order to give meaning to their experience. This analysis also showed the effectiveness of the model developed for this study in relation to both the observation of structure built into the narration by the interviewee and the interaction and processes of negotiation of turn-takings between the participants of the interview.

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