Esta pesquisa investigou histórias de vida e trabalho de costureiras autônomas das classes populares. O objetivo foi conhecer e analisar suas histórias de vida e trajetórias profissionais, em particular seus saberes do trabalho, na perspectiva de saber como se tornaram costureiras. Participaram da pesquisa quatro costureiras moradoras do município de Esteio, RS, com mais de 60 anos de idade, que trabalham há mais de quarenta anos com costura, confeccionando peças por encomenda, de forma autônoma e no espaço doméstico. Para tal, foi realizado um percurso metodológico inspirado nas histórias de vida e biografias formadoras, entrevista narrativa e entrevista reflexiva. Serviram de base, para este estudo os referenciais da ergologia sobre o debate de normas, os usos de si e os saberes Schwartz (2000, 2003), o conceito de artífice, Sennet (2013) e, sobre trajetórias profissionais, Franzoi (2006). Foram realizadas entrevistas narrativas com cada uma das costureiras. O estudo mostrou trajetórias profissionais marcadas por questões de classe e de gênero, pelo distanciamento da educação formal e do espaço industrial de produção e suas formas. A formação e o processo de se tornar uma profissional da costura - uma costureira - se deu através do aprendizado com outras mulheres e diretamente na atividade de trabalho. A curiosidade, a necessidade de subsistência e o reconhecimento do trabalho, pela outra pessoa e por si mesma, foram fundamentais no seu processo de profissionalização. A costura como autônoma, realizada no espaço doméstico, foi responsável por grande parte, senão toda, do orçamento familiar. As entrevistas demonstraram uma invisibilidade dos saberes do trabalho para as próprias trabalhadoras que, ao longo da sua vida de trabalho, convocaram e renormalizaram seus conhecimentos de forma inconsciente. Saberes tão complexos transmitidos pelas mulheres, aprendidos, produzidos e mobilizados na atividade de trabalho são naturalizados e pouco valorizados de forma explícita por elas. Percebeu-se uma relação muito íntima e indissociável entre a execução e a concepção na atividade de trabalho e muitas aproximações com o trabalho artesanal e com a ideia de artífice: “fazer é pensar”. A criatividade, as renormalizações, certa autonomia sobre o trabalho, estão muito presentes na atividade dessas costureiras autônomas, além de se verificar uma diversidade e quantidade de saberes que estão além daqueles que formalmente (CBO) identificam uma costureira. São histórias de vida duras e de muito trabalho. Dar voz a essas histórias de vida e trabalho, socializar estas experiências, significa visibilizar saberes do trabalho, a história de aprender o ofício da costura e outros saberes que fazem parte da vida de muitas mulheres no espaço privado. São saberes e potências que podem e devem ser compartilhados e visibilizados visando ampliar autorreconhecimento, emancipação e empoderamento das mulheres. / This study investigated story of life and work of independent seamstresses from popular classes. The objective was to understand and analyze their life stories and professional careers, particularly their work knowledge, trying to know how they become seamstresses. The participants were four seamstresses residents of Esteio, RS, with an average age of 62 years, acting as seamstresses for over forty years, working independently and from home. To achieve it, a methodological approach inspired by the stories of life and forming biographies, narrative interview and reflective interview was conducted. The basis for this study are the ergology’s references about the rules debate, uses of self and knowledge from Schwartz (2000, 2003), the concept of craftsman, Sennet (2013) and professional careers, Franzoi (2006). Narrative interviews were conducted with each of the seamstresses. The study found professional careers marked by class and gender issues and the distance from the formal education and from industrial production space. The formation and the process of becoming a sewing professional - a seamstress - was through learning from other women and directly in the work activity. Curiosity, the need for livelihoods and recognition of the work by others and for their self, were instrumental in their professionalization process. The sewing as an independent, held in the home, was responsible for much, if not all, of the family budget. Interviews demonstrated the invisibility of knowledge of work for the own workers who, throughout their working life, used and renormalized their knowledge unconsciously. So complex knowledge transmitted by women, learned, produced and mobilized in work activity are naturalized and undervalued. It was realized a very intimate and inseparable link between the implementation and design in the work activities and many approaches with craftsman and with the idea of architect: "make is think". Creativity, the renormalizations, certain autonomy on the job, are very present in the activity of these independent seamstresses, in addition to assessing a variety and quantity of knowledge that are beyond those formally (CBO) identify a seamstress. Are stories of hard living and a lot of work. Give voice to the stories of life and work, socialize these experiences means making visible that work knowledge, the history of learning the craft of sewing and other knowledge that are part of life for many women in the private space. Are knowledge and powers that can and should be shared aimed to increase the self-recognition, emancipation and empowerment of women.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume56.ufrgs.br:10183/131017 |
Date | January 2015 |
Creators | Barbosa, Carla Melissa |
Contributors | Fischer, Maria Clara Bueno |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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