A partir de estudos que constatam uma forte presença de disciplinas de caráter psicológico e sociológico nos currículos atuais dos cursos de Pedagogia, utiliza-se a ferramenta genealógica de Michel Foucault para mostrar, ao longo da história recente brasileira, que condições históricas deram possibilidades para que o curso de Pedagogia atual apresentasse essa configuração. Ao analisar as relações da Pedagogia com os acontecimentos sociopolíticos e econômicos, e com os discursos que fundaram a ciência moderna, pode-se ver que a criação dos cursos de Pedagogia no Brasil, na década de 1930, aspirava uma educação que modernizasse o país, tal como demandava o modelo de capitalismo recém- instaurado. Uma das estratégias adotadas foi a transposição de teorias tidas como inovadoras na Europa e nos Estados Unidos, as quais atravessaram a formação de professores com vistas à constituição de sujeitos modernos. Nesse sentido, o uso das ciências sociais e da psicologia foi fundamental como estratégia de governo, ou seja, de normatização e de adequação da educação aos princípios liberais. Com todas as transformações da sociedade brasileira e com as diversas reformas curriculares por que passou o curso de Pedagogia, o cunho psicológico e sociológico continuou a ser a base da Pedagogia, sendo que a Psicologia tem assumido, nas últimas décadas, uma posição cada vez mais relevante, tornando-se hegemônica nos currículos do Curso. Essa hegemonia corresponde e atende, efetivamente, aos princípios neoliberais do Estado brasileiro, cujas políticas educacionais favoreceram, desde o final da década de 1990, a produção dos “sujeitos autônomos, auto-disciplinados e flexíveis” de que o sistema político-econômico necessita. Apesar de toda a retórica pedagógica salvacionista, que se reduz a proclamar e denunciar a má qualidade da educação, mostra-se o curso de Pedagogia como também fazendo parte de uma lógica que contribui para o fracasso escolar e, portanto, para a manutenção das desigualdades sociais, mesmo tendo sido garantida a universalização do acesso à escola. Sendo assim, o curso de Pedagogia que forma nossos professores é visto muito mais, mesmo que não somente, como um efeito do poder exercido pelas políticas educacionais neoliberais, a fim de adequar à educação aos seus princípios ultra liberal, ainda que, paradoxalmente, possa ser visto também, e simultaneamente, ao mesmo tempo, como promotor de melhorias sociais. / Based on studies that indicate a strong presence of subjects with psychological and sociological content in current curriculums of Pedagogy courses, this work uses Michel Foucault’s genealogical method to demonstrate, along Brazilian recent history, that historical conditions made it possible for the Pedagogy course to present such configuration. By analyzing relationships between Pedagogy and sociopolitical, socioeconomic events, and also its connections to discourses that founded modern science, it is possible to verify that the implementation of Pedagogy courses in Brazil in the 1930s aimed an education that would modernize the country, just as it was demanded by the model of capitalism recently established at the time. One of the strategies adopted was the transposition of theories which were regarded as innovative in Europe and in the United States; such theories were part of teachers’ education having as goal the constitution of modern subjects. Thus, the use of Social Sciences and Psychology was fundamental as regulation tools, that is, tools which would provide norms and suitability of schools to liberal principles. Having in view all the transformations in Brazilian society and the several curriculum changes that the Pedagogy course has been through since then, both the psychological and the sociological contents remained being the foundation of Pedagogy; Psychology, for that matter, in recent decades, has gained an increasingly relevant position in the curriculums of the course, having a hegemonic presence. Such hegemony effectively corresponds to and serves to neoliberal principles of the Brazilian State, whose educational policies have favored, since the late 1990s, the formation of “autonomous, self-disciplined and flexible subjects” who are needed by the politicaleconomic system. Despite the entirely savior-like pedagogical rhetoric, which reduces itself in proclaiming and denouncing the poor quality of education, this work highlights the fact that the Pedagogy course is also part of a logic that contributes to the failure of school and, therefore, also contributes to the maintenance of social disparities, even when guaranteed the universal access to school. Thus, the Pedagogy course that constitutes our teachers is much more – and not only – seen as an effect of the power of neoliberal educational policies, an attempt to adequate education to ultraliberal principles. Paradoxically, the course may also be seen, simultaneously, at the same time, as an agent intended to promote social development.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume.ufrgs.br:10183/131901 |
Date | January 2015 |
Creators | Schineider, Suzana |
Contributors | Marzola, Norma Regina |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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