[pt] A pesquisa visa compreender o significado da privatização da Embratel nos
anos 1990 para empregados e ex-empregados, mais de 20 anos depois do
ocorrido, e se enquadra nas discussões dos estudos organizacionais históricos e
dos estudos de memória organizacional. É utilizada a abordagem teórico metodológica
da história oral, voltada tanto à experiência vivida dos indivíduos
face a eventos históricos quanto ao significado dessa experiência, por meio do
estudo da memória individual. A pesquisa inova nos estudos organizacionais ao
incorporar a perspectiva de history-telling (Portelli, 1991; 1997), que une
storytelling com pesquisa histórica e que entende as falhas, silêncios e erros da
memória como significativas da experiência dos indivíduos. A Embratel, Empresa
Brasileira de Telecomunicações, é um locus interessante para o estudo da
memória nos estudos organizacionais. Hoje marca fantasia para o segmento
corporativo do grupo Claro S.A., a empresa teve sua criação prevista pela Lei
4.117 de 1962 durante o governo de João Goulart, mas sua criação efetiva se deu
apenas durante a ditadura militar, em 1965. Sua importância se insere em um
contexto de política nacional-desenvolvimentista iniciada por Getúlio Vargas e
aprofundada pelo governo militar, quando a administração indireta, em especial as
empresas estatais, passaram a servir como instrumento de desenvolvimento
econômico. Para isso, essas empresas foram dotadas de maior autonomia
gerencial em relação à administração direta, operando de forma semelhante às
empresas privadas. As telecomunicações e a Embratel se destacaram no projeto
militar tanto por motivos econômicos, pela necessidade de uma rede de
comunicações que interligasse as diversas capitais do país para o crescimento
empresarial, quanto por motivos geopolíticos, já que essa integridade territorial
fazia parte da estratégia militar para a construção de uma nação soberana. Ao
longo de sua trajetória, com a redemocratização do país em 1985, os objetivos
iniciais de integração nacional cumpridos e as mudanças tecnológicas, a Embratel
aos poucos perde sua importância como instrumento de política industrial e passa
a se enquadrar cada vez mais como prestadora de serviços, culminando em sua
privatização no ano de 1998, em um contexto de ascensão das ideias neoliberais
nos planos econômico e político. Assim, sua privatização se torna emblemática
por representar o fim de uma era de nacional-desenvolvimentismo no plano
nacional, de globalização no plano internacional e de inserção de conceitos como
o gerencialismo dentro da esfera pública. Como os funcionários da Embratel
interpretam, elaboram e significam, no presente, a privatização da empresa foi a
pergunta que guiou a conversa e a análise das narrativas de 57 empregados e ex empregados
da empresa, totalizando 188 horas de gravação posteriormente
transcritas. A análise, segmentada por grupo geracional, mostra como a memória e
o entendimento sobre a privatização é múltipla, dependente das experiências
particulares e coletivas dos indivíduos e especialmente dos contextos sociais nos
quais se localizam. A pesquisa mostra ademais como a interpretação particular
sobre o início da privatização é um dos indicadores do significado da experiência
para os narradores. / [en] This study examines the meaning of Embratel s privatization in the 1990s
for its employees and former employees, more than 20 years after the event, and
fits into broader discussions of the fields of historical organizational studies and
organizational memory studies. To this end, the study adopts the theoreticalmethodological
approach of oral history, aimed both at the lived experience of
individuals in face of historical events and at the meaning of this experience
through the study of individual memory. The research innovates in organizational
studies by incorporating the perspective of history-telling (Portelli, 1991; 1997), a
combination of storytelling and historical research which approaches the failures,
silences, and errors of memory as significant in the experience of individuals.
Embratel, Empresa Brasileira de Telecomunicações, is an interesting locus for the
study of memory in organizational studies. Currently a trade name for Claro SA
group s corporate segment, Embratel had its formation envisioned under the 1962
Act number 4,117, during João Goulart s government, but its effective creation
only occurred during the military dictatorship, in 1965. Its importance is
embedded in the context of national-developmentalist policy initiated by Getúlio
Vargas and strengthened by the military government, when indirect
administration, especially state-owned enterprises, was conceived as instruments
of economic development. To achieve this goal, these companies possessed
greater managerial autonomy compared to direct administration, operating like
quasi-private companies. Telecommunications and Embratel particularly stood out
in the military project both for economic reasons, the need for a communications
network that would interconnect the various capitals of the country for business
growth, and for geopolitical reasons, as territorial integrity was part of the military
strategy for a sovereign nation. Along its trajectory, with the country s redemocratization
process in 1985, the initial objectives of national integration were
fulfilled and the advent of technological changes, Embratel gradually lost its
importance as an instrument of industrial policy and gradually acquired a service
provider status, culminating in its privatization in 1998, in a context of the rise of
neoliberal ideas on the economic and political levels. Its privatization is hence
emblematic as it represents the end of the national-developmentalism era at the
national level, globalization at the international level and the insertion of concepts
such as managerialism within the public sphere. How Embratel employees
interpret, elaborate, and attach meaning to the company s privatization, in the
present, was the question that guided the conversation and the analysis of the
narratives of 57 employees and former employees of the company, totaling 188
hours of recording later transcribed. The analysis, segmented by generational
group, shows the multiplicity of memories and the many ways in which the
company s privatization is signified, depending on individuals peculiar and
collective experiences, shaped particularly by the social contexts in which they are
located. The study also reveals how the particular interpretation of the beginning
of privatization is one of the indicators of the meaning of lived experience for the
narrators.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:56350 |
Date | 02 December 2021 |
Creators | PATRICIA AYUMI HODGE V DE CARVALHO |
Contributors | ALESSANDRA DE SA MELLO DA COSTA |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | TEXTO |
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