Introdução: A ansiedade pode se manifestar por meio de sintomas físicos e autonômicos. Os transtornos de ansiedade são geralmente descritos por uma interação de sintomas somáticos e sinais subjetivos, o que aumenta a importância de um conhecimento mais amplo sobre como esses fatores estão relacionados e ocorrem em conjunto com distúrbios psiquiátricos e não psiquiátricas. Assim, a ansiedade pode estar associada a diversas condições médicas, entre as quais a hipermobilidade articular. A hipermobilidade articular (JHM) é caracterizada pelo aumento da flexibilidade das articulações. É um sinal de maior elasticidade que pode até ser vantajoso para algumas pessoas em atividades específicas. Por outro lado, a síndrome da hipermobilidade articular (JHS) é mais ampla do que a JHM, sendo acompanhada de sintomas clínicos, especialmente de histórico de lesões, sinais da pele, instabilidade e dor. Objetivos: A associação entre ansiedade e hipermobilidade articular foi investigada em cinco estudos, desenvolvidos com três amostras diferentes e independentes, como descrito a seguir: um grupo de estudantes universitários, uma amostra de famílias com alta agregação genética de ansiedade e hipermobilidade e uma amostra composta por bailarinas. Método: O primeiro estudo foi desenvolvido por meio de uma revisão sistemática da literatura. Utilizando um protocolo, foi realizada uma pesquisa sistemática de artigos nas bases de dados eletrônicas PubMed, LILACS, PsycINFO e SciELO utilizando as palavras-chave \'anxiety\', \'joint\' e \'hipermobility\' e operadores booleanos. O segundo estudo foi desenvolvido como uma avaliação epidemiológica, com 2.300 estudantes universitários de ambos os sexos, com idade entre 17-35 anos, de duas universidades brasileiras. Os participantes responderam a instrumentos de autorrelato de ansiedade (Inventário de Ansiedade de Beck - BAI), Ansiedade Social (Inventário de Fobia Social - SPIN) e um questionário de screening para JHM (questionário de cinco partes para a identificação da hipermobilidade). O terceiro estudo foi desenvolvido com uma amostra de conveniência, extraída deste estudo epidemiológico, formada por 87 estudantes universitários, divididos em dois grupos, de acordo com a presença ou ausência de Transtorno de Ansiedade Social (TAS). Eles responderam aos mesmos instrumentos de autorrelato e também passaram por uma avaliação clínica, em que responderam à entrevista clínica semiestruturada para o DSM-IV (SCID-IV) e foram avaliadas de acordo com o escore de Beighton para JHM. O estudo seguinte foi desenvolvido através de um desenho longitudinal, avaliando uma amostra de famílias espanholas com alta agregação genética de ansiedade e hipermobilidade. No início do estudo, a amostra foi formada por 156 participantes; em oito anos de seguimento, a amostra foi composta por 98 sujeitos. Os participantes preencheram instrumentos de autorrelato (Inventário de Medo [FSS] e Inventário de Ansiedade Estado-Traço [IDATE]), assim como responderam à SCID-IV e foram avaliados de acordo com o escore de Beighton para JHM e critérios de Brighton para a JHS. Por último, o quinto estudo foi realizado com 145 bailarinas, divididas em três grupos: alunas de balé (n=59), professoras de balé (n=37) e bailarinas profissionais (n=49). As participantes responderam a instrumentos de autorrelato para avaliação da JHM (questionário de screening), ansiedade (BAI), ansiedade social (SPIN), pânico (Patient Health Questionnaire - Brief PHQ), sintomatologia depressiva (PHQ-9), abuso de álcool (FAST) e dor (Inventário breve de dor [BPI] e avaliação da incapacidade funcional por causa da dor [SEFIP]). As bailarinas também foram submetidas a uma avaliação clínica de acordo com o escore de Beighton e os critérios Brighton. Resultados: Dos 34 artigos inicialmente encontrados, 17 foram incluídos na revisão sistemática. Em geral, eles ratificaram a associação entre os sintomas de ansiedade (como medos e sintomas psicológicos) e JHM. No que se refere aos transtornos de ansiedade, os dados se mostraram mais heterogêneos, dependendo do tipo de transtorno, parecendo mais associados ao transtorno de pânico. No segundo estudo, desenvolvido com 2.300 estudantes universitários, os resultados indicaram importantes diferenças de gênero. Mulheres hipermóveis (mas não os homens) apresentaram correlação entre a ansiedade e a JHM, com especial atenção para a sintomatologia autonômica e pânico. A terceira amostra (87 universitários brasileiros) não apresentou diferenças no que diz respeito à associação entre TAS e JHM. No quarto estudo, desenvolvido com famílias espanholas, a JHM mostrou-se associada ao transtorno de pânico, pânico e agorafobia na primeira avaliação. A JHS foi associada à ansiedade-traço. Na avaliação de seguimento (follow-up), os dados apresentados indicaram aumento do risco para a incidência de pânico e fobia simples entre os participantes com JHS. No estudo desenvolvido com bailarinas, as participantes com JHM apresentaram maior pontuação na subescala de sintomas neurofisiológicos da BAI, embora com pontuação mais baixa na sintomatologia de ansiedade social. A JHS mostrou correlação com as subescalas de sintomas subjetivos e de pânico da BAI e com a SPIN. Os participantes com JHS também apresentaram escores mais altos em itens específicos da BAI, como tremores, medo de perder o controle e dificuldade em respirar, assim como em itens específicos da SPIN, como rubor e maior esforço para evitar críticas. Entre as bailarinas, também foi possível discutir diferenças e características importantes da JHM, JHS e dor ao longo da carreira de balé. Conclusões: A integração de dados desses diversos estudos chama a atenção para a força de características genéticas na associação entre ansiedade e a hipermobilidade. Ela também reforça a importância de identificar claramente a JHM e a JHS como duas condições clínicas diferentes. Em conjunto, os dados destes estudos sugerem que a JHS tem mais indicadores de associação com a ansiedade do que a hipermobilidade isolada\" (JHM). A correlação entre a ansiedade e a JHS é estatisticamente significativa, mas sua força foi moderada. Parece que ansiedade claramente desempenha um papel nos sintomas extra-articulares da JHS, apesar de não ser o único fator relevante nesta condição clínica. / Introduction: Anxiety manifests through physical and autonomic symptoms. Anxiety disorders are usually described as an interaction between somatic symptoms and subjective signs, and it is thus important to understand how those factors are related and co-occur with both psychiatric and non-psychiatric disorders. Thus, anxiety may be associated with diverse medical conditions, among which joint hypermobility. Joint hypermobility (JHM) is characterized by increased joint flexibility. It is a sign of higher elasticity that can even be advantageous for some people in specific activities. On the other hand, joint hypermobility syndrome (JHS) is a more complex condition that includes other clinical symptoms, especially a history of injuries, skin signs, instability and pain. Objectives: The association between anxiety and joint hypermobility was investigated in five studies, developed with three different and independent samples, as follows: a group of university students, a sample of families with high genetic aggregation of anxiety and hypermobility and a sample consisting of ballet dancers. Methods: The first study was developed as a systematic review of the literature. Using a protocol, we conducted a systematic search of articles in the electronic databases PubMed, LILACS, PsycInfo e SciELO, using the keywords anxiety, joint and hypermobility and Boolean operators. The second study was developed as an epidemiological survey, with 2,300 university students of both genders, aged 17-35 years, from two Brazilian universities. Participants completed self-reporting instruments asessing anxiety (Beck Anxiety Inventory BAI), social anxiety (Social Phobia Inventory SPIN) and a screening questionnaire for JHM (the five-part questionnaire for identifying hypermobility). The third study was developed with a convenience sample of the epidemiological study, consisting of 87 university students, divided into two groups, according to the presence or absence of social anxiety disorder (SAD). The volunteers completed the same self-rating instruments and underwent a clinical evaluation that included the Semi-structured Clinical Interview for DSM-IV (SCID-IV) and the Beighton score for JHM. The fourth study had a longitudinal design and included a sample of Spanish families with high genetic aggregation of anxiety and hypermobility. At baseline, the sample consisted of 156 participants; at eight yearsof follow-up, the sample comprised 98 subjects. The volunteers completed self-reting instruments (Fear Survey Schedule [FSS] and Spielberger Stait-Trait Anxiety Inventory [STAI]) and underwent a clinical evalution including the SCID-IV, the Beighton score for JHM and also the Brighton criteria to assess the JHS. Lastly, the fifth study included 145 dancers, divided into three groups: ballet students (n=59), ballet teachers (n=37) and professional ballerinas (n=49). The participants completed self-rating instruments assessing JHM (five-part questionnaire), anxiety (BAI), social anxiety (SPIN), panic (Patient Health Questionnaire - Brief PHQ), depressive symptomatology (PHQ-9), alcohol abuse (FAST) and pain (Brief Pain Inventory [BPI] and Self-Estimated Functional Inability because of Pain [SEFIP]). Ballet dancers also underwent a clinical evaluation based on the Beighton score and Brighton criteria. Results: From 34 articles initially found, 17 were included in the systematic review. In general, they ratified the association between anxiety symptoms (such as fears and psychological distress) and JHM. In regard to anxiety disorders, data were less homogeneous and varied according to the type of disorder, with stronger association between hypermobility and panic disorder. In the second study, which involved a sample of 2,300 university students, results suggested important gender-related differences. Hypermobile women (but not men) presented a correlation between anxiety and JHM, with special emphasis on autonomic and panic symptomatology. The third sample (87 Brazilian university students) did not present significant differences in regard to the association between SAD and JHM. In the fourth study, developed with Spanish families, JHM was associated with panic disorder and panic with agoraphobia at baseline. JHS was associated with trait anxiety at baseline. At follow-up, the data showed an increased risk for the incidence of panic and simple phobia among participants with JHS. Among ballet dancers, participants with JHM had higher scores in neurophysiological subscale of the BAI, but less social anxiety symptomatology. JHS correlated with the subjective and panic subscales of the BAI and with SPIN. Participants with JHS also presented higher scores in specific items of BAI, such as trembling, fear of losing control and difficulty breathing, as in specific items of SPIN, such as blushing and higher efforts to avoid criticism. In the study developed with ballet dancers, it was also possible to discuss differences between important features of JHM, JHS and pain throughout the ballet career. Conclusions: The integrated data of these five studies draw attention to the strength of genetic features in the association between anxiety and hypermobility. Their results also highlighted the importance of clearly identifying JHM and JHS as two different clinical conditions. Taken together, our data suggest that JHS seems to be more consistently associated with anxiety than the isolated hypermobility (JHM). Nevertheless, although the correlation between anxiety and JHS was statistically significant, its strength was moderate. It seems that anxiety clearly play a role in extra-articular symptoms of the JHS, although not being the only relevant factor in this clinical condition.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-04112014-193538 |
Date | 08 September 2014 |
Creators | Simone Bianchi Sanches |
Contributors | Rocío Martín-Santos Laffon, Flavia de Lima Osorio, Debora Bevilaqua Grossi, Paulo Louzada Júnior, Antonio Egidio Nardi, Sumaia Inaty Smaira |
Publisher | Universidade de São Paulo, Medicina (Saúde Mental), USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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