[pt] Na filosofia de Spinoza a essência de cada coisa singular é
um esforço por perseverar na existência, um esforço de
resistência à própria destruição, de resistência à
tristeza, de resistência à servidão. Para Spinoza, existir
é resistir. Dentre todas as coisas singulares que existem,
o processo de subjetivação do homem, dessas coisas
semelhantes a nós, é expressão desta resistência ontológica.
Longe de concepções antropológicas individualistas, em
Spinoza o homem se constitui nos afetos que acompanham seus
inevitáveis encontros com outras coisas singulares, a
constituição de sua singularidade é indissociável do
convívio social. E assim, alheio às formulações
contratualistas, para Spinoza, a constituição da
multidão, da sociedade política, se engendra na dinâmica da
imitação afetiva, é expressão do esforço individual de cada
um de seus constituintes pela existência, esforço pela
própria singularidade. Com a multidão se constitui, também,
uma potência coletiva que, em seu esforço de resistência à
própria decomposição, se organiza em leis comuns e
instituições políticas. Neste sentido, nosso filósofo nos
apresenta uma concepção intrinsecamente democrática do
poder político, expressão imanente da potência coletiva da
multidão. Em Spinoza, está sempre nas mãos da multidão a
potência de constituição do mais democrático dos regimes
ou da mais cruel das tiranias. Percorrendo os principais
conceitos da filosofia de Spinoza, nosso trabalho analisa
como, desta concepção intrinsecamente democrática do
político, constitui-se, também, uma compreensão democrática
dos conceitos de resistência e obediência política, e da
relação entre eles. A partir da afirmação da relação de
imanência absoluta entre potência da multidão e poder
político, compreendemos porque, na democracia spinozana, é
a resistência que faz o cidadão. / [en] In Spinoza´s philosophy, the essence of each singular thing
is an effort to persevere in existing, an effort to resiste
self-destruction, to resiste sorrow, to
resiste servitude. In Spinoza, existing is resisting. Among
all the singular things that exist, the human
subjectivization process is the expression of that
onthological resistance. Far away from individualistic
anthropological conceptions, for Spinoza men is constituted
by affects and inevitable meetings with other singular
things. So, the constitution of men´s singularity is
indissociable of society. And, denying any contratualist
conception of society, Spinoza´s conception of multitude
constitution - politic society´s constitution - is
engendered by the dinamic of affective imitation. It´s,
therefore, an expression of the individual effort on
existing of each of it´s members, their effort for the
constitution of their own singularity. With the
constitution of multitude, the collective power, in his own
effort of resisting self-decomposition, organizes itself
in law and political institutions. Our philosopher presents
a democratic concept of political power as an immanent
expression of the collective power of multitude.
For Spinoza it rests, all the time, in the hands of
multitude, the power to build the most democratic of all
political regimes or the most cruel of all tyrannies. Going
through the most important concepts in Spinoza´s
philosophy, our work makes an analysis of the concepts of
resistance and of political obedience, and the possible
relations between them. From the conception of an
absolutily immanent relationship between multitude´s power
and political power, we can understand why, in Spinoza´s
democracy, it´s resistance that makes a citizen.
Identifer | oai:union.ndltd.org:puc-rio.br/oai:MAXWELL.puc-rio.br:12934 |
Date | 09 January 2009 |
Creators | ANA LUIZA SARAMAGO STERN |
Contributors | ADRIANO PILATTI |
Publisher | MAXWELL |
Source Sets | PUC Rio |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | TEXTO |
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