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Estudo da contratransferência e sua associação com características do paciente em psicoterapia de orientação analítica

Introdução: O conceito de contratransferência (CT) sofreu considerável evolução desde sua formulação inicial. Originalmente, a CT foi conceituada como um obstáculo ao tratamento devendo ser superado. Esta visão restrita se amplia, no decorrer dos últimos 100 anos, considerando as reações contratransferenciais uma criação conjunta entre analista e paciente, tornando-se, quando adequadamente utilizado, um valioso instrumento diagnóstico e terapêutico. Atualmente, a centralidade da CT na prática clínica é incontestável, correlacionando-se com a transferência, paralelamente, às vezes, induzindo-a e, para alguns, precedendo-a. De acordo com a literatura, reações contratransferenciais têm implicações no processo terapêutico e podem influenciar no desfecho do tratamento psicoterápico. Portanto, analisar empiricamente as associações entre sentimentos do terapeuta e fatores do paciente pode ampliar o conhecimento desta questão clínica e teórica extremamente relevante na psicanálise e na psicoterapia psicodinâmica contemporâneas. Método: Este estudo avaliou a CT e sua associação com características do paciente em psicoterapia de orientação analítica, delineamento transversal com amostra consecutiva, composta por 86 pares terapêuticos do Ambulatório de Psicoterapia de Orientação Analítica do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Foram coletadas informações sociodemográficas, avaliação multiaxial e estilo defensivo dos pacientes. A Escala de Avaliação da Contratransferência (EACT), questionário autoaplicável que lista 23 sentimentos distribuídos nas dimensões de aproximação, afastamento e indiferença, foi utilizada para aferir a CT no início, meio e final da sessão. Resultados: Observou-se que gênero, renda, estado civil, Eixo IV e GAF da avaliação multiaxial correlacionaram-se com a CT. A associação entre padrões contratransferenciais e estas características pode refletir a influência do paciente na experiência subjetiva do terapeuta. Não se evidenciou, nesta amostra, correlação de sentimentos contratransferenciais com idade, escolaridade e estilo defensivo do paciente. Além disso, a presença de diagnóstico nos eixos I, II e III da avaliação multiaxial não se associou com a CT. Estes resultados, de acordo com estudos empíricos, podem sugerir a contribuição questionável dos transtornos psiquiátricos clínicos e dos transtornos de personalidade com sentimentos contratransferenciais específicos. Os resultados deste estudo mostraram um predomínio de sentimentos de aproximação, com aumento da intensidade no decorrer da sessão. Pode se inferir que houve diminuição da ansiedade inicial dos terapeutas, possibilitando maior contato emocional e ampliação da sua capacidade empática. Ou seja, evidenciou-se empiricamente que em cada sessão o terapeuta vive um processo de aproximação gradativa com o paciente. Conclusão: Há sentimentos contratransferenciais comuns associados a determinadas características dos pacientes em psicoterapia de orientação analítica. A CT do terapeuta constitui parte inevitável de cada encontro analítico. Através dos afetos contratransferenciais, o terapeuta percebe o que seu paciente sente, inferindo sua realidade psíquica. Portanto, o terapeuta utiliza a si próprio como instrumento de compreensão. Assim, a busca pelo terapeuta das fontes de seus sentimentos contratransferenciais possibilita o manejo adequado e efetivo da CT, promovendo o processo terapêutico. Este estudo possui limitações que comprometem a generalização dos resultados, sendo imperioso destacar a necessidade de pesquisas futuras através de estudos empíricos controlados para ampliar o conhecimento nesta área de grande relevância na prática de psicanalistas e psicoterapeutas. / Introduction: The concept of countertransference (CT) has undergone considerable change since its initial description. CT was originally defined as an obstacle to treatment that had to be overcome. This limited view has broadened in the last 100 years, countertransference reactions are created jointly by analyst and patient and may, when adequately used, be a valuable diagnostic and therapeutic tool. The central role played by CT in clinical practice is currently undeniable, and is now seen as corresponding to transference, following it side by side, sometimes inducing it and, at other times, preceding it. According to the literature, countertransference reactions have a role in therapy and may affect the outcome of psychotherapeutic treatments. Therefore, to empirically address what are the relationships between therapist feelings and patient parameters can contribute to amplify a set of crucial questions in contemporary clinical and theoretical psychoanalysis and psychodynamic psychotherapy. Method: This cross-sectional study evaluated countertransference and its association with patient characteristics in psychoanalytic psychotherapy. It enrolled 86 consecutive therapeutic dyads seen at the Psychoanalytic Psychotherapy Outpatient Service in the Psychiatry Department of Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, Brazil. Sociodemographic data, multiaxial assessment and patients’ defensive styles were recorded. The Countertransference Evaluation Scale (CTES), a self-report feeling checklist that contains 23 words for feelings classified into tree dimensions, closeness, distance and indifference, was used to measure CT at the beginning, middle and end of the session. Results: Sex, income, marital status, axis IV disorders and GAF scores were correlated with CT. The association between countertransference reactions and patient characteristics may reflect the influence of the patient on the therapist's subjective experience. In this study, no association between feelings induced in the therapist and patient defense style, educational level and age was found. Moreover, axis I, II and III diagnoses were not associated with CT. These results, in agreement with other empirical studies, may suggest that the contribution of psychiatric diagnoses and personality disorders to specific countertransference reactions is still unclear. This finding may suggest a decrease in the initial therapist anxiety, a change that may promote greater emotional contact and an increase in the capacity to empathize. Namely, it is demonstrated empirically that in each session the therapist lives a process of gradual approach with the patient. Conclusion: There are common countertransference feelings associated with some patient characteristics in psychoanalytic psychotherapy. CT is an inevitable part of each analytical encounter. CT feelings make the therapists understand what their patients feel and to infer their inner reality. Therapists, therefore, may use their own feelings as a tool to understand the patient. The search for the sources of therapist’s countertransference feelings makes possible the appropriate and effective use of the CT, promoting the therapeutic process. This study has limitations that compromise the generalization of the results, being imperious to detach the necessity of future research through empirical controlled studies to widen the knowledge in this area of paramount relevance in the practice of psychoanalysts and the psychotherapists.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:www.lume.ufrgs.br:10183/18501
Date January 2009
CreatorsGrudtner, Roberta Rossi
ContributorsEizirik, Claudio Laks
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis
Formatapplication/pdf
Sourcereponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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