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A voz do Outro na voz do documentário / The voice of the Other in the voice of the documentary.

O filme documentário foi utilizado, desde seus primórdios, para representar a alteridade, as diferenças de modos de vida, cultura e pensamento. Documentaristas produziram com base em modos de trabalho variados e, dentre eles, sempre houve discussões sobre a (im)possibilidade da representação da alteridade em filmes. Nesta pesquisa, utilizamos o conceito da \"voz do documentário\", de Bill Nichols, para pensar sobre modos de representação da voz de Outros dentro da voz do documentário. Alargamos seu entendimento para analisar tanto modos de produção quanto de recepção em que a representação pelo documentário possa ser concebida e praticada como forma de ação pela melhoria da vida de Outros sujeitos filmados. A leitura do conceito de \"voz\" se deu pelas contribuições do campo da linguagem, da cultura e do cinema enquanto discurso, uma leitura baseada nos legados do pensamento crítico trazidos pelo pós-colonialismo, pós-estruturalismo, estudos culturais, feminismo e pela genealogia proposta por Michel Foucault, como abordagem metodológica. Por ser um trabalho genealógico, esta pesquisa buscou evidenciar discursos dominantes e seus Outros: discursos subalternos sobre o Outro, discursos do Outro como alteridade, discursos que são Outro dos dominantes. Nosso foco na questão da dominância priorizou os discursos produzidos por documentaristas e pensadores do documentário brasileiros, embora não tenha se limitado a eles. Os resultados indicam que há um discurso dominante no Brasil sobre a voz do Outro na voz do documentário, que é o da impossibilidade da representação dessas vozes no que elas trazem de intencionalidades para o mundo vivido. Por outro lado, encontramos pelos discursos dos filmes documentários a subalternidade na prática do documentário como intervenção direta no mundo, realizando a ressonância da voz de Outros. Indicamos que tem ocorrido uma reversão nesse sentido, pela qual a ética do documentário pode ser repensada por meio de relações entre cineastas, Outros sujeitos filmados e públicos, em que os efeitos dos filmes documentários no mundo são valorizados de maneira diferente do que na ética dominante presente, em quem o Outro é, comumente, apenas personagem de filmes. A pesquisa levanta questões teóricas e práticas para pensar filmes documentários que visem representar a voz do Outro na voz do documentário com vistas a intervir para a melhoria das condições de vida de Outros sujeitos filmados e suas comunidades. / From its beginnings the documentary film was used to represent alterity, the differences in ways of life, culture and thought. Documentary filmmakers developed multiple modes of work and within these there have always been discussions about the (im)possibility of the representation of alterity in films. In this research, we use Bill Nichols\' concept of the \"voice of the documentary\" to reflect on ways of representing the voice of Others within the voice of the documentary. We extend such concept to analyze both the modes of production and reception by which representation in the documentary can be understood and practiced as a form of action for the improvement the lives of Other filmed subjects. Our understanding of the concept of \"voice\" comes from the contributions of the field study of language, culture and cinema as discourse, a perspective based on the legacies of critical thinking brought about by postcolonialism, poststructuralism, cultural studies, feminism and genealogy in consonance with what is proposed by Michel Foucault, as a methodological approach. Intended as a genealogical work, this research sought to highlight dominant discourses and their Other subaltern discourses considering both the Other as otherness and discourses that are Another of the dominant. Our focus on the dominance issue prioritizes the discourses produced by Brazilian documentary filmmakers and theorists of documentary, though not limited to them. The results indicate that there is a dominant discourse in Brazil about the voice of the Other in the voice of the documentary that is of the impossibility of the representation of these voices as they bring intentionalities toward the lived world. On the other hand, we found in the discourses on documentary film the subalternity of the practice of the documentary as a direct intervention in the world, including the resonance of the voice of Others. We point out that a reversion must be taking place in this direction, as the documentary ethics is reviewed in the relations among filmmakers, other filmed subjects, and public, by which the effects of documentary films in the world will be differently valued than they are today in the present dominant ethic where the Other is just a movie character. The research raises theoretical and practical questions about documentary films aiming to represent the voice of Others in the voice of documentary with a will to intervene and improve the living conditions of Other filmed subjects and their communities.

Identiferoai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-23072019-114759
Date24 May 2019
CreatorsGuimarães, Rodrigo Gomes
ContributorsSoares, Rosana de Lima
PublisherBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Source SetsUniversidade de São Paulo
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
TypeTese de Doutorado
Formatapplication/pdf
RightsLiberar o conteúdo para acesso público.

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