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Previous issue date: 2001 / Este trabalho elegeu, como objetivo principal, descrever o conceito de violência de um grupo social constituído por professoras do ensino fundamental de escolas pública e particular. Para abarcar diferentes níveis de descrição, foram estabelecidas as categorias: classe, modalidade e forma da violência. Para contextualizar a violência conceituada, foram identificados suas causas e os tipos de conseqüência por ela produzidos e, para melhor circunscrever o conceito, foram identificadas as violências consideradas mais graves e as consideradas aceitáveis. Pretendeu-se, também, identificar alguns mecanismos sociais, no contexto do cotidiano escolar que, na visão das professoras, contribuem para caracterizar a escola como agente de mudança e/ou de reprodução da violência. Esta mesma pretensão foi colocada em relação à imprensa, no seu trabalho diário de veicular notícias, filmes e programas diversos. Um terceiro objetivo consistiu em verificar que aspectos do conceito de violência estariam imbricados a) nos relatos das professoras sobre a influência da violência no seu cotidiano e b) nas suas práticas sociais no âmbito da escola. Finalizava os objetivos a pretensão de analisar, comparativamente, a realidade das escolas públicas e particulares, nas dimensões contempladas nos objetivos anteriores. Fez-se, inicialmente, um estudo da literatura sobre a violência, focalizando aspectos relacionados aos objetivos deste trabalho, de forma a possibilitar um melhor direcionamento metodológico e uma maior compreensão dos dados a serem obtidos. Mas foi nas formulações da Teoria Sócio-Histórica, proposta primeiramente por Vygotsky, que foram encontradas as bases necessárias às justificativas para os objetivos propostos, colocando a violência e a interação professor-aluno como fenômenos sociais relevantes para a construção da individualidade do alunos, especialmente em um período de desenvolvimento em que a internalização de valores sociais, morais, éticos e religiosos ocorre com maior intensidade. A abordagem da teoria ao pensamento e à linguagem, relacionados à questão do significado e da consciência, definida como a realidade filtrada pelas significações e conceitos socialmente elaborados, forneceu elementos essenciais à compreensão do conceito, em sua origem e desenvolvimento sócio-históricos. A formulação a respeito da forma integrada como o social e o individual encontram-se na atividade constituiu o alicerce fundamental para a compreensão das ações. As ações mobilizam e colocam em interação, segundo Bronckart, as dimensões comportamentais e psíquicas das condutas humanas e constituem as modalidades sociais práticas por meio das quais se realizam as atividades. A obtenção dos dados empíricos seguiu uma seqüência de procedimentos iniciada com a seleção de quatro escolas de primeiro grau. Obtida a anuência das professoras (em número de 47) à participação no trabalho, elas foram submetidas a uma entrevista inicial, para a coleta de dados pessoais e profissionais e para uma maior aproximação entre pesquisadora e professora. Por ser a única situação comum às quatro escolas em que ocorria, de forma sistemática, a interação professora-alunos, a sala de aula foi a situação selecionada para a realização das observações, nas quais se fazia um registro contínuo dos acontecimentos, com enfoque maior para a referida interação. Posteriormente, foi feita, com cada professora, uma entrevista semiestruturada, gravada em fita cassete. Dos dados das entrevistas e das observações, extraiu-se um Sistema de Categorias que permitiu a organização e a análise desses dados em direção aos objetivos do trabalho. O Sistema de Categorias construído foi, ele próprio, considerado um importante resultado, por contribuir para preencher uma lacuna existente na literatura sobre violência, cujos trabalhos apresentam, com freqüência, classificações as mais variadas, sem critérios claros e consistentes, dificultando sua organização e comparação. O conceito de violência caracterizou-se, basicamente, pelas classes violência de delinqüência e estrutural, pelas modalidades violência de marginais, violência escolar e violência familiar e pela formas agressão física, assalto e agressão verbal. A violência conceituada foi, ainda, contextualizada em termos de suas causas e tipos de conseqüências; estas últimas foram,preponderantemente, do tipo físico e as causas contextuais foram bem mais apontadas que as causas pessoais, mostrando uma concepção da origem sócio-estrutural da violência. Circunscrevendo o conceito, foi indicada, como mais grave, a violência física e como aceitável ou justificável, a violência motivada por más condições econômicas. A atuação da escola foi avaliada como mais preventiva que remediativa, com ações mais dependentes de iniciativas das próprias professoras que como parte de um projeto de combate à violência promovido pela escola. As professoras que julgaram a atuação da escola inadequada, ou adequada em parte, sugeriram várias ações, com destaque para o trabalho da escola em parceria com a família e a comunidade e para o desenvolvimento de projetos e campanhas de prevenção e combate à violência. O papel da imprensa frente ao quadro geral da violência foi classificado, com base nas respostas das professoras, em informativo, informativo-preventivo, iatrogênico, ambivalente e banalizador. Os papéis mais apontados foram o iatrogênico, indicando que a mídia fornece modelos e estimula a violência, e o ambivalente, que coloca, por um lado, o fornecimento de informações e, por outro, a estimulação da violência. Aspectos do conceito de violência, no bojo dos relatos das professoras a respeito de como a violência influencia o seu cotidiano, foram evidenciados especialmente nas mudanças comportamentais e sentimentais produzidas por várias formas de violência de delinqüência, consideradas como as que mais perturbam o seu dia a dia. E, finalmente, para identificar aspectos do conceito de violência nas práticas das professoras em sala de aula, as ações das professoras foram relacionadas aos diferentes tipos de episódios produzidos pelos alunos. Diante de episódios de brigas e desentendimentos entre os alunos, as ações mais freqüentes dividiram-se entre repressivas e apaziguadoras; diante de episódios de dispersão, conversa, indisciplina, falta de atenção predominaram as ações repressivas e diante de episódios de brincadeira pautada pelo tema violência verificou-se a prevalência das ações neutras. As ações orientadoras foram pouco freqüentes para os três tipos de episódio, contrariando a expectativa criada pela função formadora da escola. Dos comentários feitos pelas professoras a respeito dos alunos, os reprovadores foram os mais freqüentes. O predomínio da repressão e da neutralidade, tanto para as ações frente aos episódios, quanto para os comentários sobre os alunos, aponta para os efeitos da banalização da violência e para a imbricação do conceito nas práticas das professoras, nos aspectos pertinentes. A comparação entre a realidade das escolas públicas e particulares, nas dimensões colocadas pelos objetivos anteriores, mostrou um perfil diferenciado para os dois grupos de professoras. As professoras de escola particular apresentaram uma maior consciência dos problemas sociais, políticos e estruturais relacionados à violência, bem como dos danos sociais e psicológicos que a violência produz, apresentando uma visão sócio-estrutural da violência mais acentuada que a das professoras da rede pública, em cujo conceito estão bastante evidentes os problemas presentes no seu cotidiano de trabalho, tanto no que se refere à escola propriamente dita, como aos alunos e suas famílias e à localização da escola. Também se diferenciou a maneira de conceber a atuação da escola, mais preventiva para as professoras de escola particular e mais remediativa para as de escola pública. As ações repressivas e os comentários reprovadores foram feitos em maior quantidade pelas professoras de escola pública, enquanto as de escola particular promoveram ações orientadoras em maior quantidade. As diferenças entre os dois grupos foram relacionadas às características de seus ambientes de trabalho, bastante diferenciadas em vários aspectos, como as características da clientela atendida (níveis sócio-econômico e de escolaridade, tipo de moradia, estrutura da família, ambiente da vizinhança, etc.), as características do sistema de ensino e a própria localização das escolas. / Salvador
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:192.168.11:11:ri/11857 |
Date | January 2001 |
Creators | Ristum, Marilena |
Contributors | Bastos, Ana Cecília de Sousa Bittencourt |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Repositório Institucional da UFBA, instname:Universidade Federal da Bahia, instacron:UFBA |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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