A proposta desta tese é interpretar os escritos de Georg Simmel (1958-1918) a partir de uma leitura cruzada entre dois momentos maiores de sua obra: as investigações sobre o dinheiro, cujos resultados mais substanciais foram reunidos em Filosofa do dinheiro (1900), e os argumentos de sua metafísica da vida, desenvolvidos em especial nos seus últimos anos e apresentados em suas consequências flosófcas no testamentário Visão da vida (1918). Essa perspectiva implica, no mesmo passo, uma segunda leitura cruzada. Pois uma instância central do desenvolvimento de um conceito enfático de vida, tal como aquele fornecido nos últimos escritos do autor, reside no âmbito de sua flosofa da arte: desdobradas em inúmeros ensaios ao longo de sua carreira intelectual, as refexões estéticas de Simmel culminaram na publicação de Rembrandt (1916), um livro também assentado no conceito de vida característico de suas últimas obras. Um primeiro resultado dessa leitura reside na constatação de que não se tem aí a mera relação entre uma flosofa do dinheiro e uma flosofa da vida concebida seja sob o signo da ruptura, seja da continuidade , mas entre duas flosofas da vida. A despeito das continuidades entre ambos os projetos por exemplo, o caráter relativista das duas flosofas, no interior das quais a vida é igualmente considerada como movimento, fuxo, vivacidade da interação , são aqui também destacadas suas cisões. Na Filosofa do dinheiro, a vida se manifesta sobretudo ali onde suas oposicoes chegam a uma tensao maxima, encontrando na circulação abstrata do dinheiro o símbolo de suas principais formas de movimento. Essa dinâmica se manifesta particularmente nos fenômenos paradoxais ou patológicos do valor, do desejo, da troca e da teleologia, que confguram em conjunto uma determinada forma de vida ou, nos termos da sociologia simmeliana, uma forma da socialização: a troca econômica ou troca-sacrifício. Nessa primeira perspectiva, as manifestações problemáticas da economia monetária e da cultura moderna encontram seu contraponto nas fguras positivas, em larga medida implícitas, do desejo racional e da ação teleológica razoável. Tais fenômenos serão posteriormente interpretados à luz da flosofa simmeliana da cultura, fundada na tradição alemã da Bildung e na qual a noção de cultivo, entendida como o desenvolvimento das potencialidades inerentes a cada sujeito, ocupa um lugar central. Os paradoxos da cultura se manifestam então como patologias do cultivo, como hipertrofa da cultura objetiva em relação à subjetiva, em suma, como alienação. Nos últimos escritos de Simmel, porém, a vida não surge mais ali onde os opostos convivem em máxima tensão, mas justamente onde tais oposições aparecem suspensas ou sequer são destacadas do movimento da vida, concebido agora como fuxo contínuo e indiferenciado. A despeito de sua relação necessariamente problemática com a forma, a vida pode agora encontrar uma expressão adequada para si mesma em certas modalidades de experiência artística ou social, nas quais se manifesta não somente outra concepção ou outro modo de expressão da vida, mas também outra forma de vida. Desse ponto de vista, as autocontradições da economia monetária e da cultura moderna não aparecem mais como desejo e ação irrazoáveis ou irracionais, nem como patologias do cultivo ou alienação, mas sob o signo do mecanicismo, como patologias da vitalidade / This thesis interprets the writings of Georg Simmel (1858-1918) from a reading that crosses two biggest moments of his work: the investigation into the money gathered in Philosophy of Money (1900) and the arguments of his metaphysics of life, presented in Vision of life. Four metaphysical essays (1918). This perspective led one second crisscross within the philosophy of art of the author, formulated primarily in Rembrandt. An essay in the philosophy of art (1916 ). The main )nding is that it is not the mere relationship between a philosophy of money and a philosophy of life, but more speci)cally the relationship between two philosophies of life. The concept of life plays a central role in the Philosophy of money, though not in the same terms of Simmel\'s later metaphysics. Despite the continuities between both projects it is also necessary to highlight their divisions. In that work, life is most clearly where their opposition reach a maximum tension or where it is presented in a dialectics without reconciliation that meets in the incessant movement of money the symbol of their main forms of movement. This dynamic is particularly manifested in speci)c categories of value, desire, exchange and of the discernible teleology from the money, which constitute in the aggregate a certain form of life or, in Simmel terms, a form of socialization. If such manifestations of monetary behavior, desire and teleology appear as problematic or pathological, it is in contrast to the positive )gures of a rational desire and a reasonable teleological action. Within his )rst philosophy of life, such phenomena would be conceived from the idea of culture itself, as the cultivation of the potential inherent in each subject; a framework in which the paradoxes and pathologies of culture emerge as conditions of cultivation, that is, as alienation. Already in his later philosophy of life, life no longer appears where it presents the coexistence of opposites in maximum tension, but precisely where such oppositions appear suspended or even highlighted the movement of life, now conceived as a continuous and undifferentiated fow. According to Simmel, this troubled relationship with form meets an adequate expression in certain modes of expression and artistic experience, from which protrudes another concept not only of life, but as another form of life, to the extent that the relationship between creator and receiver are given through certain art forms, corresponding to another mode of action (such as creation) and otherwise sensitive experience. The pathologies of modern monetary economics and culture arise, then, in a different light, not as inversions or interruptions of desire and reasonable or rational or as conditions of cultivation action, but as mechanical forma of life, as pathologies of vitality. Thus, in Simmels intellectual path, each time it comes to characterize the form of life symbolized by money, in its paradoxical character, self-contradictory or pathological, from different conceptions
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-18032015-123604 |
Date | 02 September 2014 |
Creators | Bueno, Arthur Oliveira |
Contributors | Barros, Sergio Miceli Pessoa de |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | Tese de Doutorado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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