Cette thèse analyse le théâtre français du XVIIème siècle, entre 1615 et 1640 environ, du point de vue de la représentation du désir et de ses conséquences internes et externes dans les pièces. La période comprise entre la fin des Guerres de Religion et la fin du règne de Louis XIII a été marquée par la fréquentation d'une société blessée par les guerres civiles avec le pouvoir de plus en plus fort de l'Église, qui essayait de combattre les effets néfastes de cette guerre sur la foi chrétienne par la censure et par l'austérité. En même temps, le pouvoir royal se durcissait lui aussi, et commeçait à bâtir les piliers de la monarchie absolue. Une société troublée et contrôlée, une cour dont les pratiques contredisaient les discours et un pouvoir central de plus en plus autoritaire : voilà le contexte dans lequel se développe une littérature contestataire et subversive. La licence, l'arme utilisée par les artistes pour se battre contre l‟autorité, s'est montrée d'abord dans la poésie, par les facilités des éditions anonymes, mais – voilà ma thèse – elle a bientôt atteint le théâtre, où, par l'impossibilité de cacher l'auteur, les mécanismes de protection sont devenus plus subtils et plus ambigus. Par la représentation du désir, surtout dans les personnages féminins, les dramaturges de l'époque ont osé ne pas être d'accord avec les règles imposées par l'Église et par la Monarchie. Et ils l'ont fait en privilégiant l'individuel sur le collectif, en établissant, dans une taxinomie occulte, les aspirations humaines comme prioritaires, comme le contrepoint nécessaire aux conduites sociales imposées par n‟importe quelle autorité, bien que dans cette confrontation l'individu soit assez souvent anéanti par l'État. Quand l'humain est détruit cependant, les forces coercitives perdent leur objet et dès lors leur raison d'être. L'État était lui aussi anéanti dans cette confrontation. Dans ce travail on analyse des pièces de quatre auteurs , Alexandre Hardy, Théophile de Viau, Jean Mairet et Pierre Corneille, dans lesquelles il est possible d‟associer le discours du désir à une intention d‟insoumission, de rébellion ou de contestation du pouvoir établi. La thèse révèle la stratégie utilisée par les dramaturges et dévoile aussi une face occulte du théâtre du XVIIème siècle en France. Une face plus humaine, plus polémique et moins solenelle que l‟histoire littéraire a couramment fait croire. / A presente tese analisa o teatro francês do início do século XVII, aproximadamente entre 1615 e 1640, do ponto de vista da representação do desejo e de suas consequências internas e externas nas peças. O período compreendido entre o fim das guerras de religião e o término do reinado de Luís XIII foi marcado pela convivência de uma sociedade atingida pela guerra civil com o poder cada vez mais forte da Igreja, que tentava combater os efeitos nefastos dessa guerra sobre a fé cristã através da censura e da austeridade. Ao mesmo tempo, o Poder Real também se endurecia, dando início à construção da monarquia absoluta. Uma sociedade conturbada e controlada, uma corte cujas práticas afrontavam os discursos e um poder central cada vez mais autoritário: este é o contexto em que se desenvolve uma literatura contestatária e subversiva. A licenciosidade, arma utilizada pelos artistas para contraporem-se à autoridade, mostrou-se inicialmente na poesia, pela facilidade das edições anônimas, mas - esta é a tese que defendo - logo alcançou o teatro, onde, pela impossibilidade de esconder-se o autor, os mecanismos de proteção tornaram-se mais sutis e ambíguos. Pela representação do desejo, especialmente nas personagens femininas, os dramaturgos da época ousaram discordar das regras impostas pela Igreja e pela Monarquia. E fizeram isso privilegiando o individual sobre o coletivo, estabelecendo, numa taxinomia oculta, as aspirações humanas como prioritárias, como o contraponto necessário às condutas sociais impostas por qualquer autoridade, ainda que desse confronto, não raras vezes o indivíduo fosse aniquilado pelo Estado. Ao ser destruído o humano, porém, as forças coercitivas perdiam seu objeto e, logo, sua razão de ser. O Estado também se aniquilava no confronto. Neste trabalho são analisadas obras de quatro autores, Alexandre Hardy, Théophile de Viau, Jean Mairet e Pierre Corneille, nas quais se pode associar o discurso do desejo a uma intenção de insubmissão, de rebeldia ou de contestação do poder estabelecido. Além de desvelar a estratégia utilizada pelos dramaturgos, a tese também dá a conhecer uma face oculta do teatro do século XVII na França. Uma face mais humana, mais polêmica e menos solene do que a história literária tem feito crer.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume56.ufrgs.br:10183/76226 |
Date | January 2012 |
Creators | Mascarenhas, Paula Schild |
Contributors | Rosenfield, Kathrin Holzermayr Lerrer |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | fra |
Detected Language | French |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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