Esta tese examina o contexto e os sentidos políticos da implementação de um programa público cultural criado em 2004 como fruto de uma parceria entre a Secretaria Estadual de Cultura (SEC) do estado de São Paulo e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID): o Programa Fábricas de Cultura. A pesquisa procura demonstrar de que maneira a política pública dirigida para a juventude pobre das periferias pôde, desde sua concepção, operar enquanto uma \'tecnologia social de pacificação\', com vistas a incrementar mecanismos de controle e antecipar-se a possíveis conflitos e insurgências dessas populações territorializadas. A análise é feita à luz de um processo de luta que aprendizes e arte-educadores vinculados às Fábricas de Cultura travaram em 2016, no curso da pesquisa, contra as diretrizes e os gestores da Organização Social responsável pela administração de cinco das dez unidades do programa. Dessa maneira, foi possível apreender as características e contradições do programa dentro de um quadro de modificações por que forçosamente passou aquilo que entendemos ser uma forma específica de gerenciamento dos conflitos de classe, a que chamamos de \"consenso à base da pacificação dos conflitos sociais\", que se consolidara na últimas décadas. Em torno de uma coalizão que unia organismos multilaterais, Estados e organizações da sociedade civil, esse consenso efetivou-se por meio de um conjunto de técnicas de gestão que acabou por embaralhar as diferenças entre direita e esquerda, difundindo-se por estratégias voltadas para \"a redução da pobreza\", \"segurança\", \"oportunidades\" e \"inclusão social\". Nesse sentido, o Programa Fábricas de Cultura se apresenta como resultado desse processo que transfigurou setores de classe em públicosalvo, esquadrinhados pelas políticas sociais focalizadas. A investigação observa, no entanto, que a efetividade de tal consenso pacificador sempre estivera lastreada por tecnologias de guerra, com as quais mantém relação de alternância e complementariedade. A tese então argumenta que a aposta na formação cultural, como maneira de apassivar a juventude e reforçar identidades culturais territorializadas, alimentou, em seu subterrâneo, uma rebelião que se voltou contra esse projeto, demonstrando seus limites e forçando um ponto de inflexão que parece apontar para a crise da tecnologia social de pacificação. / This thesis examines the context and political meanings of the implementation of a public cultural program created in 2004 as a result of a partnership between the State Secretariat of Culture (SEC) of the state of São Paulo and the Inter-American Development Bank (IDB): Factories of Culture Program. The research seeks to demonstrate in which ways the public policy directed at the poor youth of the peripheries operated, from its conception, as a \'social technology for pacification\', designed to increase mechanisms of control and anticipate possible conflicts and insurgencies arising from this population. In the course of research, apprentices and art educators from the Factories of Culture took part on a struggle against the guidelines and managers of the (private) Social Organization responsible for five out of the ten units of the program. This analysis is made in light of this conflict. In this way, it was possible to apprehend the characteristics and contradictions of the program within a framework of modifications it was forced to go through. This policy is here considered to be a specific form of management of class conflicts consolidated in the last decades, which we call \"consensus based on the pacification of social conflicts\". Around a coalition that united multilateral organizations, states and civil society organizations, this consensus was achieved through a set of management techniques that shuffled the differences between right and left, and spread through strategies aimed at \"poverty reduction\", \"security\", \"opportunities\" and \"social inclusion\". In this sense, the Factories of Culture Program presents itself as a result of a process that has transfigured class sectors into target audiences, scrutinized by focused social policies. The research, however, observes that the effectiveness of such a pacifying consensus had always been supported by war technologies, with which it maintains a conection of alternation and complementarity. The thesis then argues that the commitment to cultural formation, as a way to pacificate the youth and reinforce territorialized cultural identities, helped to feed a rebellion that turned against the project, demonstrating its limits and forcing a inflection point that seems to indicate a crisis of the social technology for pacification.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:teses.usp.br:tde-03102018-153222 |
Date | 15 June 2018 |
Creators | Danielle Edite Ferreira Maciel |
Contributors | Celso Frederico, Paulo Eduardo Arantes, Roseli Aparecida Figaro Paulino, Cibele Saliba Rizek, Silvia Viana Rodrigues, Richard Romancini |
Publisher | Universidade de São Paulo, Ciências da Comunicação, USP, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP, instname:Universidade de São Paulo, instacron:USP |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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