Nossa intenção com o presente trabalho foi pesquisar o estatuto teórico-clínico da sublimação ao longo do ensino de Lacan, enfatizando os momentos em que se detém no tema, fazendo avançar suas elaborações do conceito e partindo da hipótese de que a sublimação é um tratamento possível do gozo. Após o seminário em que se dedica de forma mais extensa ao tema da sublimação, em 1959-1960, no qual propõe a sublimação como elevação do objeto à dignidade da Coisa, o conceito aparece aqui e ali ao longo dos seminários subsequentes. Mas é em 1966-67 que a sublimação detém novamente a atenção de Lacan, que passa então a articulá-la com outros conceitos bastante importantes da teoria, quais sejam: alienação, repetição, acting out e passagem ao ato. Além disso, discute a articulação da sublimação com o ato sexual e, consequentemente, com a castração. Para isso, fará uso articulado do quadrângulo de Klein, das leis de Morgan e dos círculos de Euler, de modo a demonstrar a relação lógica entre os elementos. Desde as primeiras referências ao termo, passando pelas elaborações do seminário VII, nos anos de 1959-60, entendemos que é possível sustentar a vocação eminentemente clínica do conceito de sublimação como tratamento possível do gozo, em articulação com outros conceitos importantes no ensino de Lacan, como gozo, fantasia e ato. Partindo da sublimação definida como elevação do objeto à dignidade da Coisa, Lacan discute nos anos de 1966-1967 sua presença como satisfação ligada à repetição, mas que dela pode se afastar. A sublimação também se apresenta como saída do impasse do paradoxo da fantasia, que busca encobrir a relação sexual que não há. Propomos desde Lacan que a sublimação é um tratamento do gozo que permite que o sujeito, a partir da repetição, avance até um limiar, ainda que não o ultrapasse. O avanço está relacionado à sua possibilidade de prescindir do recalque, o que diferencia a sublimação do sintoma. A proximidade da sublimação com a relação sexual que não existe já se evidencia desde o seminário XIV e, no seminário XVI, proferido nos anos de 1968-1969, a sublimação retorna pela última vez no ensino de Lacan como estando do lado da mulher, articulada a não existência da relação sexual e como possibilidade privilegiada na perversão, o que deixa ainda mais claro, de nosso ponto de vista, seu estatuto de tratamento de gozo mortífero, na medida em que alude ao vazio da Coisa, criando a partir desse vazio. A partir desse percurso na sublimação, empreendemos uma discussão do documentário Elena, lançado no ano de 2013, sustentando que, com tal discussão, não se trata de aplicar a psicanálise à arte, mas sim de aplicar a arte à psicanálise, na medida em que a primeira permita à segunda avançar. Por evidenciar como toda a estrutura do filme se organiza em torno do vazio, ele permite que avancemos no debate sobre a sublimação e em sua elucidação como possibilidade de tratamento do gozo, em articulação com o ato em suas variáveis de acting out e passagem ao ato, tal como Lacan apresentara com os quadrângulos de Klein. Por último, propomos comentários suplementares que visam propor articulações que apontam caminhos pelos quais entendemos que a discussão sobre o tema da sublimação poderia ter continuidade. Aqui, propomos a articulação da sublimação com a psicose, com o sinthoma, tal como Lacan discute no seminário XXIII, e por último a relação da sublimação com o fim de análise. Nesse ponto, as discussões de Lacan sobre o quadrângulo de Klein nos fornecem indicações sobre a relação da sublimação com o ato analítico, que buscamos problematizar / Our intention with this paper was to research the theoretical and clinical status of sublimation throughout the teachings of Lacan, emphasizing the moments when he dwells on the topic, advancing his elaborations of the concept and working on the hypothesis that sublimation is a possible treatment of jouissance. After the seminar he most extensively dedicates to the topic of sublimation, in 1959-1960, when he proposes that sublimation raises an object to the dignity of das Ding, the concept appears sporadically throughout his subsequent seminars. But it is in 1966-67 that sublimation once again captures the attention of Lacan, when he begins to articulate it with other important concepts of the theory, namely: alienation, repetition, acting out and passage to the act. Additionally, he discusses the articulation of sublimation with the sexual act and, consequently, with castration. For this, he makes articulated use of Kleins quadrangle, De Morgans laws and Eulers circles to demonstrate the logical relation between the elements. From the very first references to the term through to the elaborations of seminar VII in 1959-60, we can see that it is possible to assert the eminently clinical vocation of the concept of sublimation as a possible treatment of jouissance, in articulation with other important concepts in the teachings of Lacan, such as jouissance, fantasy and act. Based on the definition that sublimation raises an object to the dignity of das Ding, Lacan in 1966-1967 discusses its presence as satisfaction that is linked to repetition, but that can be separated from it. Sublimation is also presented as a solution to the impasse of the paradox of fantasy, which seeks to disguise the sexual relationship that does not exist. We propose, drawing on Lacan, that sublimation is a treatment of jouissance that enables the subject, based on repetition, to advance towards a threshold, but not pass it. This advance is related to the subjects possibility of dispensing with repression, which distinguishes sublimation from the symptom. The proximity of sublimation to the sexual relationship that does not exist was evident since seminar XIV and, in seminar XVI, delivered in 1968-1969, sublimation returns for the last time to Lacans teachings as being feminine, articulated with the non-existence of the sexual relationship and as a privileged possibility in perversion, which further clarifies, in our opinion, its status as treatment of lethal jouissance, in that it alludes to the emptiness of das Ding, creating from this emptiness. Based on this analysis of sublimation, we embark on a discussion of the documentary Elena, released in 2013, asserting, through this discussion, that it is not about applying psychoanalysis to art, but instead art to psychoanalysis, since the former permits the latter to advance. By demonstrating how the entire structure of the film is organized around emptiness, it permits us to move forward the debate on sublimation and its elucidation as a possible treatment of jouissance, in articulation with the act in its variables of acting out and passage to the act, just as presented by Lacan with Kleins quadrangles. Finally, we make some additional comments that are intended to identify paths along which we consider the discussion on the topic of sublimation could be continued. Here, we propose the articulation of sublimation with psychosis, with the sinthoma, just as Lacan discusses in seminar XXIII, and finally the relationship of sublimation with the end of analysis. On this point, the discussions of Lacan on Kleins quadrangles provide us with indications about the relationship of sublimation with the analytical act, which we aim to address
Identifer | oai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-25112014-113017 |
Date | 14 April 2014 |
Creators | Metzger, Clarissa |
Contributors | Rosa, Miriam Debieux |
Publisher | Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP |
Source Sets | Universidade de São Paulo |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | Tese de Doutorado |
Format | application/pdf |
Rights | Liberar o conteúdo para acesso público. |
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