Esta tese é o resultado de um estudo que pretendeu colocar em análise as estratégias do
Programa Trabalhando com Parteiras Tradicionais e suas repercussões para um grupo de
mulheres Krahô. A entrega do kit da parteira é um ícone do programa, uma presunção de que
uma nova prática alinhada ao saber hegemônico terá início a partir de então. Nesse sentido, o
estudo buscou analisar como as mulheres Krahô compreendem sua participação no programa e
se apropriam e ressignificam os objetos do kit da parteira no contexto do parto domiciliar. A tese
está estruturada em formato de quatro artigos, cada qual representando momentos distintos do
estudo. Os dois primeiros são anteriores ao trabalho de campo e frutos de questionamentos
vivenciados tanto na etapa de desenvolvimento do programa de parteiras quanto no percurso
para aprovação nos comitês de ética. Os dois últimos são provenientes do trabalho de campo e
contaram com a antropologia e o método etnográfico como suportes principais. Os trâmites para
aprovação ética do estudo mostraram-se tortuosos e excessivamente burocráticos, a
experiência indicou que é nos processos singulares e subjetivos que as posturas éticas ou não
éticas podem ser experimentadas, a despeito do que possa estar registrado em formulários. Os
resultados apontam um descompasso entre o discurso e a prática de valorização do saber
tradicional e um nítido viés etnocentrado do programa ao ofertar instrumentos fora da lógica de
cuidado das mulheres e pressupor um impacto nos indicadores de saúde a partir da aquisição
do saber hegemônico. Os objetos foram apropriados e ressignificados no cotidiano das aldeias,
mas não encontraram um lugar claro no contexto do parto domiciliar. Traços de violência
simbólica emergiram e a categorização das mulheres Krahô como “parteiras” trouxe impactos e
prejuízos na relação social de algumas mulheres. Sugere-se o resgate da dimensão intercultural
na formulação e execução de políticas públicas direcionadas a esse público como um caminho
profícuo, sob pena de se engendrar num ciclo alienado e alienante, desperdiçando recursos e
adiando discussões importantes como o fortalecimento da rede de atenção à saúde no entorno
das mulheres indígenas. / This thesis is the result of a study that sought to analyze the strategies of the Working with
Traditional Midwives Program and its repercussions on a group of Krahô women. Midwife kit
delivery is an icon of the program, a presumption that a new practice aligned with hegemonic
knowledge will begin there after. Thus, the study sought to analyze how Krahô women view their
participation in the program and take ownership of and resignify midwife kit objects in the home
birth context. The thesis is structured in four papers, each representing different moments of the
study. The first two occurred prior to fieldwork and result from issues raised during the
development stage of the midwifery program and throughout the process of approval by ethics
committees.The last two stem from fieldwork and were mainly supported by anthropology and
the ethnographic method. The procedures for the ethical approval of the study were tortuous and
overly bureaucratic. Experience has indicated that ethical or unethical stances can be
experienced in the singular and subjective processes, regardless of what may be recorded in
forms. Results point to a mismatch between the discourse and the practice of recognizing
traditional knowledge and a clear ethnocentric bias of the program when offering tools outside
the rationale of women care and assuming an impact on health indicators from the acquisition of
hegemonic knowledge. The objects were appropriated and resignified in the daily life of villages,
but they failed to find a clear place in the context of home birth. Symbolic violence traits emerged
and the categorization of Krahô women as "midwives" brought impacts and losses in the social
relationship of some women. We suggest reviving the intercultural realm in the formulation and
implementation of public policies directed to this public as a profitable pathway, under penalty of
engendering an alienated and alienating cycle, wasting resources and delaying important
discussions such as the strengthening of the health care network around indigenous women.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:repositorio.uft.edu.br:11612/906 |
Date | 17 November 2017 |
Creators | Gusman, Christine Ranier |
Contributors | Villela, Wilza Vieira, Rodrigues, Douglas Antonio |
Publisher | Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Brasil |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Repositório Institucional da UFT, instname:Universidade Federal do Tocantins, instacron:UFT |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
Page generated in 0.0026 seconds