Como gênero, o dicionário inscreve-se na sociedade entre as obras de autoridade, que servem como referência para a construção dos mais diferentes gêneros. Além disso, encerra um discurso pedagógico, já que, por meio das definições, consulentes partilham do conhecimento detido pelo lexicógrafo. O dicionário é também um gênero múltiplo, formado por diferentes subgêneros, como o verbete e os textos de abertura (prefácio, apresentação, detalhamento). Espécie de colônia, que agrega outros textos, define-se também por suas características formais bem marcadas, como a alfabetação e a composição por verbetes. Múltiplo por sua própria natureza e sujeito ao dialogismo da enunciação, o dicionário é atravessado por muitas vozes e enunciadores, não apenas os próprios redatores, mas também outras obras de referência, técnicas ou de outras línguas. Essas vozes são costuradas pelo dicionarista, figura do discurso que gerencia os enunciados, envoltos na expectativa da neutralidade da descrição isenta. É nosso grande interesse observar em termos práticos quais são as fronteiras entre o discurso aparentemente isento que se pretende que o dicionário tenha e as brechas de onde emergem outras vozes que povoam essa colônia. Para buscá-las, valemo-nos basicamente dos estudos de polifonia de Ducrot, da noção de ethos de Maingueneau e Charaudeau e das formas de modalização que Castilho e Castilho (2002) arrolaram em seu estudo sobre os advérbios na Gramática do português falado, volume II. Por meio da pesquisa reversa com base nos termos modalizadores de Castilho e Castilho no Dicionário Aurélio da língua portuguesa (DALP, 2010) e no Dicionário Houaiss da língua portuguesa (DHLP, 2009), buscamos partir da definição para as entradas, identificando os enunciadores que se mostram ou se escondem, afiançam ou refutam, negam ou afirmam uma proposição. Por meio dessas ocorrências, podemos chegar a enunciados postos e pressupostos e explorar diferentes aspectos da enunciação, desnudando parte das vozes que povoam essa colônia / As a genre, the dictionary relates to other texts of authority which constitute reference to the construction of various kinds of genres. It also conveys a pedagogical discourse since people consulting it share the lexicographers knowledge through the definitions provided by the dictionary. More than that, the dictionary is in itself a multiple genre because it encloses different subgenres like entries and the opening texts (preface, introduction and key to entries). Just like a colony, congregating other texts, the dictionary can also be defined by its formal characteristics like the alphabetical order and the organization in entries. The dictionary is multiple in its own nature and, as such, subject to the dialogism of the enunciation. It is pervaded by many voices and enunciators, not only the authors themselves, but also those of other reference texts, technical or from other languages. They are put together by the lexicographer, figure of the discourse who generates the statements, embedded in the expectation of neutrality that unbiased description demands. Our great interest here is to observe in practical terms the boundaries between the apparent unbiased discourse that should be part of the dictionary, and the gaps through which other voices, part of this colony, arise. In order to achieve this goal and find these gaps, we are going to consider Ducrots studies of polyphony, the notion of ethos from Maingueneau and Charaudeau and also the modalization that Castilho and Castilho (2002) listed on their study on adverbs in Gramática do português falado, volume II. Through the inverse research based on the modalization terms of Castilho e Castilho in the Dicionário Aurélio da lingua portuguesa (DALP, 2010) and in the Dicionário Houaiss da língua portuguesa (DHLP, 2009), we tried to depart from the definition of the entries, identifying the enunciators who show themselves and those who are less explicit; those who assure and those who negate; those who deny and those who affirm an enunciation. Through these occurrences, we can reach propositions which are posed and presupposed and we can explore different aspects of enunciation, unveiling some of the voices which are part of this colony
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/urn:repox.ist.utl.pt:BDTD_UERJ:oai:www.bdtd.uerj.br:2622 |
Date | 26 March 2012 |
Creators | Silvia Oliveira da Rosa Fernandes |
Contributors | André Crim Valente, José Carlos Santos de Azeredo, João Baptista de Medeiros Vargens, Maria Lilia Simões de Oliveira, Flávio de Aguiar Barbosa |
Publisher | Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Letras, UERJ, BR |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ, instname:Universidade do Estado do Rio de Janeiro, instacron:UERJ |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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