A presente tese de doutorado é resultado de uma pesquisa realizada na Escola do Campo Florestam Fernandes, localizada no Projeto de Assentamento 12 de Outubro, Município de Cláudia, entrada do Bioma Amazônia mato-grossense. O trabalho de pesquisa tem como perspectiva analisar como se dá o fluxo entre as orientações do Movimento Camponês, da proposta de Educação do Campo e o Currículo desenvolvido pela Escola Estadual Florestan Fernandes, num contexto em que o bioma Amazônia Mato-grossense é devastado de forma avassaladora desde os anos 1970 quando os planos militaristas para essa região instituíram o processo colonizatório. Prioritariamente, o projeto militar, através da mercantilização dos territórios sob o álibi de integração e segurança nacional, “Ocupar para não Entregar”, interpôs o aniquilamento da floresta/biodiversidade, empreendido pela expansão do metabolismo social do capital na região. Num contexto macrocósmico, esse processo vem assolando tanto as possibilidades do Bem-Viver quanto nutrindo o modo de produção hegemônico. E por isso, concomitante ao desmatamento na região, um dos maiores do País, avançam os índices de desigualdade social. O mito do desbravamento e do progresso sedimenta-se na atualidade pelo modus operandi do agronegócio. Na vivência de lutas pelas condições vitais o sujeito histórico camponês se vê diante do grande desafio histórico de se aproximar da natureza, seu corpo inorgânico, como forma de sobreviver. Para isto, faz-se necessário romper com os ranços da Revolução Verde e o mito do desbravamento, ainda fortemente impregnados nas práticas sociais. À formação desse camponês convicto do seu trabalho interdependente à floresta/biodiversidade a Educação do Campo é convocada, prioritariamente, pelo Movimento Camponês, mas também, por todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, entendem que a transformação social é urgente e nela perpassa, também, a construção de outra relação do gênero humano com a natureza. O aporte teórico metodológico utilizado neste trabalho funda-se no materialismo histórico e dialético como meio de contribuir, através da investigação científica, com a luta social para transformação da realidade socioambiental e educacional estudada. Para sustentação desta pesquisa estabeleceu- se um contínuo diálogo com autores de diversas teorias críticas, como: Triviños, Mészáros, Charlot, Taffarel, Ribeiro, Apple, e com os educadores-estudantes-camponeses. Essa trajetória densa e intensa de investigação conduziu-me à compreensão de que, embora os migrantes, base do campesinato local, possuam pouco conhecimento do Bioma Amazônia, e a luta pela terra-floresta não seja antagônica às lutas socioambientais, esse tema não integrou o currículo da escola estudada. O mito do desbravamento tem sido muito forte, dificultando uma práxis proximal camponês-floresta/biodiversidade, fazendo com que a floresta seja vista como selvagem e perigosa ao humano civilizado. Mesmo que o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e a Educação do Campo na região tenham contribuído para uma formação omnilateral do sujeito histórico camponês, a perspectiva de se constituírem em “cuidadores da floresta” ainda é uma construção incipiente diante da hegemonia do agronegócio da soja. Faz-se necessário, então, que sejam integrados nos currículos escolares os estudos sobre a agroecologia e suas práticas a fim de que possam corroborar com a compreensão dos Sistemas Agroflorestais, uma modalidade produtiva importante para manutenção da floresta em pé. / The present thesis is the outcome of a research carried out at Escola de Campo Florestam Fernandes, located in Settlement Project 12 de Outubro, Municipality of Claudia, gateway to the Mato Grosso Amazonian Biome. The research perspective has been to analyze how the flow between the orientations of the Peasant Movement of the proposed Field Education and Curriculum developed by the State School Florestan Fernandes, in a context where the Mato Grosso Amazonian biome has been overwhelmingly devastated since the 1970s when the militaristic government policies for the region begun the colonization process. Ultimately, the military project through the commodification of territories under the alibi of integration and national security, "Occupy not surrender" brought the destruction of the forest / biodiversity undertaken by the expansion of social metabolism of capital in the region. In a macrocosm context, this process has been sweeping both the possibilities of Good Living and has been nursing the hegemonic production way. Therefore, along with deforestation in the region, one of the largest in the country comes the advance of social inequality. The myth of progress by clearing and settles has its basis on the current modus operandi of agribusiness. Rural workers have been now struggling for vital living conditions where the historical peasant subject has presently been facing the historical challenge of approaching nature, its inorganic body, as a way to survive. For such, it is necessary to break with the stuffiness of the Green Revolution and the myth of the clearing, still strongly impregnated in social practices. The formation of this peasant convinced of his work interdependently to the forest / biodiversity Field Education is convened primarily by Peasant Movement, but also for all the people who in one way or another, understand that social change is urgent and it also pervades the construction of another relationship of humanity with nature. The methodological theoretical approach in this work is based on the historical and dialectical materialism as a means to contribute, through research, to fight for social and environmental transformation of the educational reality studied. To support this research we have established a continuous dialogue with authors of various critical theories: Triviños; Meszaros; Charlot; Taffarel; Ribeiro; Apple; and students-teachers-peasants.This dense and intense trajectory of research has led me to the realization that, although migrants as base of local peasantry, have little knowledge of the Amazonian Biome, and the struggle for forest-land is not antagonistic to environmental struggles, this topic has not integrated the curriculum of the school studied. The myth of the clearing has been very strong; making it difficult to peasant-forest/biodiversity proximal praxis, leading the forest to be seen as wild and dangerous to civilized humans. Even if the Movement of Landless and the Rural Education and in the region have contributed to unilateral formation of peasant historical subject, the perspective of getting themselves established as "caretakers of the forest" is still a fledgling construction in front of the hegemony of soy agribusiness. Therefore, it has been necessary the inclusion of a school curricula on agro-ecology study and its practices so that they can corroborate to the understanding of agroforestry systems, an important modality for the maintenance of productive forest.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:lume.ufrgs.br:10183/178265 |
Date | January 2014 |
Creators | Souza, Maria Ivonete de |
Contributors | Ribeiro, Marlene |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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