Esta dissertação destina-se a problematizar a produção de cuidado no sistema único de saúde brasileiro, investigando como as itinerâncias de usuários de saúde mental e suas errâncias nos seus territórios de vida podem constituir uma rede de cuidados, a fim de identificar quais saberes produtores de saúde são legitimados nessas trajetórias. Lançando mão de modos de fazer uma clínica itinerante, descortina-se uma perspectiva de cuidado territorializado, relacionada aos percursos que os usuários traçam e às suas errâncias, ao modo de estar e ocupar este território, aos afetos e encontros que nele e com ele se estabelecem. A cartografia foi utilizada como método neste estudo que se caracteriza como uma pesquisa-intervenção: contrariando tradicionais percursos investigativos em que as metas são pré-definidas, na cartografia é o próprio processo da pesquisa que vai delineando seus rumos e desdobramentos no campo. O estudo se concentrou na interface Saúde Mental – Atenção Básica, incluindo-se em uma pesquisa maior que investigou as práticas e ações de cuidado em saúde mental na atenção básica na região Macrometropolitana do Rio Grande Sul. Além deste cenário de práticas exercidas nos seis municípios incluídos na região da pesquisa maior, compuseram o campo desta pesquisa de mestrado outras cenas relacionadas ao cuidado que se tece em rede no SUS, registradas em diários de campo realizados entre 2011 e 2014, período em que a pesquisadora atuou como Agente Redutora de Danos em outro município do nordeste do país. As narrativas colocam em análise um modo de cuidar que a desinstitucionalização inaugura: um cuidado territorializado que promove autonomia E protagonismo e busca uma “grande saúde”, no sentido trágico do termo, definido a partir da filosofia de Nietzsche. Com isto, problematiza-se certa produção de cuidado em rede que esteja para além de uma rede de cuidado instituída e provoca-se o olhar para aquilo que está, muitas vezes, invisível no cotidiano dos serviços de saúde. Entre os resultados desta pesquisa, identificou-se que a articulação mais estreita a ser costurada entre a saúde mental e a atenção básica pôde-se apresentar como uma potente alternativa para favorecer um cuidado em rede que envolva todos os atores da saúde de um território. Dessa forma, pode-se romper com uma lógica de cuidado centrada na doença para um cuidado que amplie a vida e desnaturalize os modos de subjetivação regulamentados, característicos da biopolítica. A aposta indicada ao final desta pesquisa é de que, ao trazer para as equipes da atenção básica um debate antes restrito ao campo da Reforma Psiquiátrica, experimentam-se novas perspectivas de cuidar das singularidades, amplia-se a concepção de clínica e inventam-se novas saúdes. / This master's dissertation is dedicated to problematize care production in the brazilian unified healthcare system (SUS), investigating how mental health user's roaming and wandering through life's territories can constitute a caring network in order to identify which health producing knowledges are legitimated in these trajectories. Resorting to ways of making a roaming clinic unveils a perspective of territorialized care related to the routes that the users set and their wanderings, to the way of being in and occupying this territory, to the affections and encounters that are stablished in it and with it. Cartography was used as a method in this study that is characterized as an intervencional research: counteracting tradicional investigative routes in which the goals are pre-stablished, in cartography, it's the research process itself that outlines it courses and field unfoldings. The study focused at the Mental Health/Basic Care interface, being part of a broader research that investigated about the mental health practices and actions of care in basic care at the macrometropolitan region of Rio Grande do Sul. Besides this scenario of exerted practices at the six municipalties included in the broader research region, part of this research field is composed of other scenes related to the care that are woven in a network in SUS, registered in field diaries between 2011 and 2014, period in which the researcher worked as a harm-reduction agent in another municipalty of the country's northeastern region. The narratives put in analysis a way of taking care that started with the disinstitutionalization: a territorialized care that promotes autonomy, protagonization and seeks for a “great health”, in the tragic sense of the word defined by Nietzsche's philosophy. With that, is problematized a certain networked care production that is beyond an established care network and arouses the viewing to that which is, most of the time, invisible in healthcare services everyday’s life. Among the outcomes of this research it was identified that the narrower articulation between mental health and basic care to be done was able to present itself as a powerful alternative to favor a networked care that implicates all health actors of a territory. This way, it is possible to break with an illness-centered way of conceiving care, in the direction of a care conception that magnifies life and denaturalizes the regulated modes of subjectivation typical of biopolitics. The bet that this research indicates at its ending is that, by bringing a debate to the basic care work groups, formerly restricted to the field of Psychiatric Reform, new perspectives on how to take care of singularities are experimented, the conception of clinic is enlarged and new health modes are invented.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:www.lume.ufrgs.br:10183/140867 |
Date | January 2015 |
Creators | Protazio, Mairla Machado |
Contributors | Paulon, Simone Mainieri |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | English |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis |
Format | application/pdf |
Source | reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS, instname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instacron:UFRGS |
Rights | info:eu-repo/semantics/openAccess |
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