Return to search

Níveis da ciência, níveis da realidade: evitando o dilema holismo/reducionismo no ensino de ciências e biologia / Levels of science, levels of reality: avoiding the holism/reductionism dilemma in science and biology teaching

Um dos debates mais importantes na Filosofia da Ciência é aquele sobre as relações entre os níveis de explicação dos fenômenos e, portanto, os níveis da ciência. Esta controvérsia, intimamente relacionada ao problema metafísico dos níveis da realidade, tem sido marcada por uma polarização entre os reducionistas e seus críticos, geralmente caracterizados como holistas. O primeiro capítulo deste trabalho tem como objetivo a proposição de uma tipologia das posições metodológicas sobre a explicação na qual esta polarização entre holismo e reducionismo seja evitada. Argumenta-se que esta polarização resulta em uma série de mal-entendidos, que contribuem para que as explicações reducionistas sejam vistas, inclusive no ensino de ciências, como as únicas explicações científicas, sendo qualquer posição alternativa considerada contrária aos cânones da ciência. Uma tipologia proposta por Levine e colaboradores em 1987 é tomada como ponto de partida. Esta tipologia evita a polarização comentada acima, incluindo as seguintes posições: individualismo metodológico (reducionismo), holismo, antireducionismo e atomismo. Tendo-se em vista alguns problemas na proposta de Levine e colaboradores, sustenta-se a necessidade da construção de uma nova tipologia. São examinadas algumas tendências, como o fisicalismo de tipos na Filosofia da Mente, os programas da unidade da ciência de Carnap e de Oppenheim & Putnam, e o selecionismo gênico e o gene-centrismo na Biologia, que podem ser caracterizadas como formas de reducionismo, de acordo com a tipologia de Levine e colaboradores. O termo fisicalismo não-redutivo é preferido, em relação a antireducionismo, destacando-se que, apesar de qualificada como não-redutiva, esta variedade de fisicalismo atribui um papel à redução na explicação dos macrofenômenos. Embora os fisicalistas não-redutivos rejeitem a redução ontológica ou epistemológica completa, eles admitem a redução epistemológica parcial, que não resulta em um nivelamento dos fenômenos ao domínio de uma única ciência, mas apenas na explicação, em termos causais/mecânicos, de como e por que macrofenômenos ocorrem em sistemas ou objetos mereologicamente complexos. Variedades moderadas de reducionismo, como as de Bunge e Campbell, são consideradas, bem como algumas variedades de holismo, como o paradigma holístico de Capra, o holismo de Taylor e a abordagem holista de Mayr. A análise destas diferentes abordagens conduz a uma tipologia contendo seis posições metodológicas: atomismo, reducionismo radical, reducionismo moderado, fisicalismo não-redutivo, holismo moderado e holismo radical. O segundo capítulo trata da primeira formulação sistemática do fisicalismo nãoredutivo, o emergentismo. O objetivo principal é chegar a um conceito de emergência de propriedades capaz de contornar as dificuldades apontadas na literatura, propiciando a ontologia ao mesmo tempo materialista e não-reducionista necessária para uma formulação consistente do fisicalismo não-redutivo. Inicialmente, examinam-se as origens do emergentismo, suas relações com o vitalismo e as proposições que constituem seu núcleo duro (sensu Lakatos). As teorias de níveis propostas por Salthe, Bunge, Blitz e Emmeche e colaboradores são discutidas, tomando-se como marcos de referência para o tratamento do conceito de emergência a ontologia de Emmeche e colaboradores e o realismo moderado de Dennet. São examinados problemas acerca do 2 conceito de emergência apontados na literatura, destacando-se o problema da causação descendente: Como explicar a modificação a que um sistema ou uma totalidade submete seus componentes, resultando na emergência da novidade qualitativa, sem violar-se premissas fisicalistas como a crença na universalidade da Física ou o fechamento causal do domínio físico? Após argumentar-se que o fisicalismo de superveniência, apresentado como uma variedade de fisicalismo não-redutivo alternativa ao emergentismo, fracassa em suas intenções não-redutivas, propõe-se a investigação de uma posição filosófica combinando as noções de superveniência e emergência de propriedades. O problema da causação descendente é então discutido em detalhe, considerando-se, primeiro, a possibilidade de o tratamento da causalidade na filosofia aristotélica propiciar uma solução para este problema em um contexto fisicalista. Os quatro modos causais aristotélicos e a distinção entre forma e matéria são examinados, preparando-se o terreno para uma discussão das três versões de causação descendente (forte, fraca e média) distinguidas por Emmeche e colaboradores. A versão média da causação descendente propicia uma maneira de combinar as noções de superveniência e emergência em uma formulação do emergentismo compatível com a identificação das entidades de nível superior com casos especiais de sistemas físicos, sem apresentar as conseqüências reducionistas (radicais) que muitos cientistas e filósofos consideram indesejáveis. No contexto desta variedade de emergentismo, uma nova definição de propriedade emergente é proposta. Por fim, discute-se o problema da realidade dos emergentes com base no realismo moderado de Dennett. No terceiro capítulo, são discutidas algumas conseqüências dos aspectos ontológicos, epistemológicos e metodológicos abordados neste trabalho para o ensino de Biologia e outras ciências. / One of the most important debates in the philosophy of science concerns the relations between levels of explanation and, therefore, levels of science. This controversy, closely related to the metaphysical problem regarding the levels of reality, has been marked by a polarization between reductionists and their critics, generally described as holists. The first chapter of this work is intended to offer a typology of methodological stances on explanation avoiding this polarization between holism and reductionism. Such a marked disagreement results in a series of misunderstandings, contributing to the belief, also found in science teaching, that reductionism provides the only scientific explanations, being any alternative stance regarded as opposed to the canons of science. A typology proposed by Levine and colleagues in 1987 is taken as a starting-point for the discussion. This typology avoids the above-mentioned polarization, including the following positions: methodological individualism (reductionism), holism, antireductionism, and atomism. Due to some problems found in Levine and colleagues approach to the problem, the construction of a new typology is taken as a desirable objective. Some tendencies, like type physicalism in the philosophy of mind, the unity of science programmes of Carnap and Oppenheim & Putnam, and genic selectionism and gene-centrism in biology, are examined, being characterized as forms of reductionism, according to Levine and colleagues typology. The term nonreductive physicalism is preferred to antireductionism, being emphasized that, despite being qualified as nonreductive, this variety of physicalism assigns a role to reduction in the explanation of macrophenomena. Although nonreductive physicalists reject ontological and full epistemological reduction, they admit partial epistemological reduction, which does not result in a leveling of the phenomena to the domain of a single science, but only in the causal/mechanical explanation of why and how macrophenomena occur in mereologically-complex systems or objects. Moderate versions of reductionism, such as those of Bunge and Campbell, are examined, as well as some varieties of holism, such as Capras holistic paradigm, Taylors holism, and Mayrs holistic approach. An analysis of those diverse approaches leads to a typology including six methodological stances: atomism, radical reductionism, moderate reductionism, nonreductive physicalism, moderate holism, and radical holism. In the second chapter, the first systematic formulation of non-reductive physicalism, emergentism, is examined. The main goal is to propose a concept of property emergence that avoids the difficulties presented in the literature, providing the ontology simultaneously materialist and non-reductionist demanded by a cogent formulation of nonreductive physicalism. Initially, the origins of emergentism, its relations to vitalism, and the tenets that compose its hard core (sensu Lakatos) are examined. The theories of levels advanced by Salthe, Bunge, Blitz, and Emmeche and coworkers are discussed, being taken as the frames of reference for the treatment of the emergence concept Emmeche and coworkers ontology and Dennetts mild realism. A series of problems concerning the concept of emergence is examined, emphasis being given to the problem of downward causation: How to explain in what sense a system or 4 whole modifies its component parts, resulting in the emergence of qualitative novelty, without violating physicalist premises, such as the belief in the universality of Physics or the physical causal closure? After arguing that supervenience physicalism, presented as a version of non-reductive physicalism alternative to emergentism, fails in fulfilling its non-reductive purposes, the investigation of a philosophical alternative combining the notions of supervenience and property emergence is proposed. The problem of downward causation is then discussed in detail and the first issue to be dealt with is the possibility that the treatment of causality in Aristotelian philosophy offers a solution to this problem in a physicalist framework. The four Aristotelian causal modes and the distinction between form and matter are examined, as a basis for the discussion of the three versions of downward causation (strong, weak, and medium) distinguished by Emmeche and coworkers. Medium downward causation provides a way of combining the notions of supervenience and property emergence in a formulation of emergentism compatible with the identification of higher-level entities with special cases of physical systems, without the (radical) reductionist consequences that many scientists and philosophers regard as undesirable. In the frame of this variety of emergentism, a new definition of an emergent property is put forward. At last, The problem of the reality of emergents is discussed, from the standpoint of Dennetts mild realism. In the third chapter, some consequences of the ontological, epistemological and methodological features discussed in this work for the teaching of Biology and other sciences are discussed.

Identiferoai:union.ndltd.org:usp.br/oai:teses.usp.br:tde-02042015-111525
Date07 July 2000
CreatorsEl-Hani, Charbel Niño
ContributorsBizzo, Nelio Marco Vincenzo
PublisherBiblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Source SetsUniversidade de São Paulo
LanguagePortuguese
Detected LanguagePortuguese
TypeTese de Doutorado
Formatapplication/pdf
RightsLiberar o conteúdo para acesso público.

Page generated in 0.0034 seconds