Tese (doutorado)—Universidade de Brasília, Instituto de Psicologia, Departamento de Psicologia Clínica, Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica e Cultura, 2016. / As transformações do modelo de assistência em saúde mental no Brasil, impulsionadas pelo processo de Reforma Psiquiátrica, implicaram a criação de serviços substitutivos de atenção à saúde mental, discussões sobre rede de suporte social e de saúde, assim como demandas e necessidades de políticas públicas advindas desse processo. Entretanto, são prementes as discussões e estratégias de inserção das relações de gênero no contexto da saúde mental, como subsídio de compreensão dos papéis de gênero gendrados embutidos no conceito de sofrimento psíquico de homens e mulheres, ou seja, papéis marcados por especificidades de gênero na sociedade patriarcal. Assim, o objetivo geral deste estudo foi realizar uma leitura do sofrimento psíquico sob o enfoque das relações de gênero, a partir de dados sociodemográficos, dos sintomas e diagnósticos e sobre a vivência com o sofrimento de usuárias em um Centro de Atenção Psicossocial II de Brasília. Dessa forma, a presente tese está constituída por quatro artigos. O primeiro teve como objetivo discutir algumas concepções sobre loucura no Ocidente, ao longo dos processos de constituição e reestruturação do modelo de assistência psiquiátrica. Como a população deste estudo compõe-se basicamente de mulheres, buscou também resgatar a especificidade da relação entre mulheres e loucura, em uma perspectiva histórica, social e cultural e, por fim, abordou as relações de gênero como questão importante na Saúde Mental brasileira na atualidade. O segundo artigo foi baseado em estudo quantitativo, transversal e visou caracterizar, comparar e analisar o perfil sociodemográfico entre mulheres e homens no período de 2012 e 2013. Nos resultados observamos significativa presença feminina em comparação aos homens e evidenciamos características comuns entre os sexos, que reforçam a vulnerabilidade e desigualdades sociais. Fazem-se importantes projetos alternativos de trabalho e geração de renda e investimentos em políticas públicas transversais. O terceiro é um estudo qualiquantitativo, no qual se objetivou realizar uma leitura sobre os diagnósticos e sintomas, a partir de uma perspectiva de gênero e saúde mental. Os resultados demonstram prevalência de diagnósticos relacionados aos transtornos do humor em mulheres e, nos homens, de esquizofrenia, transtornos esquizotípicos e delirantes. Tais dados associados ao levantamento do perfil sociodemográfico e a análise dos dados dos prontuários, apontam para a medicalização e psiquiatrização da vida, sobretudo no caso das mulheres, cuja presença em episódios de violência chegou a 32,54%. Por fim, a partir das narrativas de cinco mulheres, o quarto artigo tem como enfoque a compreensão da vivência do sofrimento psíquico, no que concerne, aos núcleos narrativos significativos, entre eles, o trabalho como vulnerabilidade atravessado pelo gênero e as relações familiares (relações conjugais, maternagem, com os pais e ascendentes), atravessadas pelas violências sofridas, física, sexual e psicológica. Os resultados demostram situações dolorosas e estigmatizadoras vivenciadas por mulheres, marcadas pelas violências. Concluímos, a partir da síntese dos quatro artigos, que o modelo em saúde mental no Brasil apresenta ainda um enfoque em intervenções centradas em sintoma-solução e inexiste uma agenda específica de gênero no cenário dos serviços públicos de saúde mental. Ainda, pela diferença populacional entre o quantitativo de mulheres e homens, concluímos que este CAPS II é um espaço da expressão subjetiva feminina. Apreende-se que o modelo de atenção psicossocial brasileiro pode não possibilitar um acolhimento adequado às mulheres em geral, se não qualificar as especificidades de gênero e suas interseccionalidades. Logo, a implantação de projetos alternativos de trabalho e geração de renda e também investimentos em políticas públicas transversais, como forma de subsidiar a atual Política de Saúde Mental Brasileira, fazem-se necessários. / The transformations of the model of mental health care in Brazil, driven by the process of Psychiatric Reform, has led to the creation of substitutive services of mental health attention, discussions about social and health support network, as well as the demands and needs of public policies resulting from this process. In the meantime, the discussions and integration strategies of gender relations in the context of mental health, such as understanding allowance of gendered gender roles embedded in the concept of psychic suffering of men and women, i.e. roles marked by gender specificities in patriarchal society, are pressing. Thus, the aim of this study was to carry out a reading of psychological distress from the standpoint of gender relations, from socio-demographic data, symptoms and diagnosis and about the experience with the suffering of users in a Center of Psycho-Social Attention – CAPS II ofBrasilia. In this way, this thesis is constituted by four items. The first aimed to discuss some conceptions of madness in the West over the establishment of processes and restructuring of psychiatric care model. As the population of this study basically consists up of women, we also sought to rescue the specificity of the relationship between women and madness, in a historical, social and cultural perspective and finally approached gender relations as an important issue in the Brazilian Mental Health nowadays. The second article was based on a quantitative study, cross-sectional and aimed to characterize, compare and analyze the sociodemographic profile of women and men in the period of 2012 and 2013. The results observed significant presence of women compared to men and evidenced common characteristics between the sexes, which reinforce the vulnerability and social inequality. It is important to create and develop alternative projects of work and income generation and investment in cross public policy. The third article is a quantitative and qualitative study, which aimed to carry out a reading about the diagnosis and symptoms, from a gender and mental health perspective. The results showed prevalence of diagnoses related to mood disorders in women; and in men, schizophrenia, schizotypal and delusional disorders. Such data associated with the sociodemographic profile and analysis of data records point to the medicalization and psychiatrization of life, especially for women, whose presence in violence episodes has reached 32.54%. Finally, from the narratives of five women, the fourth article has focus on understanding the experience of psychological distress, with respect the significant narrative nuclei, among them, work as vulnerability crossed by gender and family relations (relations marriage, mothering, with parents and ascendants), crossed by the violence suffered, physical, sexual and psychological. The results demonstrate painful and stigmatizing situations experienced by women, marked by violence. We conclude, from the synthesis of the four articles, that the mental health model in Brazil still has a focus on interventions concentrated on symptom-solution and there is not a specific gender agenda in the scenario of public mental health services. Also, due to the difference between the amount of women and men, we conclude that this CAPS II is a space of female subjective expression. It is inferred that the model of Psychosocial Attention Brazilian can not provide a suitable welcome for women in general, if not qualify the specifics of gender and its intersectionalities. Still, by the difference in population between the quantitative of women and men, we concluded that this CAPS II is a space of expression female subjective. Therefore, the implementation of alternative projects of work and income generation, as well as investments in cross public policy, in order to support the current Mental Health Policy Brazilian, becomes necessary. / Las transformaciones del modelo de atención de salud mental en Brasil, impulsadas por el proceso de Reforma Psiquiátrica implicaran la creación de servicios alternativos de atención de salud mental, discusiones sobre el apoyo social y de la salud, así como las demandas y necesidades de políticas públicas derivadas de este proceso. Sin embargo, son urgentes las discusiones y las estrategias de integración de las relaciones de género en el contexto de la salud mental, como la comprensión de asignación de los roles de género engendrados implícitos en el concepto de sufrimiento psíquico de los hombres y las mujeres, es decir, los roles marcados por las especificidades de género en la sociedad patriarcal. Por lo tanto, el objetivo de este estudio fue realizar una lectura de los trastornos psicológicos desde el punto de vista de las relaciones de género, a partir de datos sociodemográficos, los síntomas y el diagnóstico y la experiencia con el sufrimiento de las usuarias en un Centro de Atención Psicosocial II – CAPS de Brasília. Así, esta tesis está constituida por cuatro artículos. El primer tuvo el objetivo de discutir algunas concepciones de locura en Occidente sobre el establecimiento de procesos y reestructuración del modelo de atención psiquiátrica. A medida que la población de este estudio consiste básicamente por mujeres, también se trató de rescatar la especificidad de la relación entre las mujeres y la locura, en una perspectiva histórica, social y cultural y, finalmente, se acercó a las relaciones de género como un tema importante en la salud mental de Brasil hoy en día. El segundo artículo se basó en un estudio cuantitativo, transversal y tenía como objetivo caracterizar, comparar y analizar el perfil sociodemográfico de las mujeres y los hombres en el período 2012 y 2013. Los resultados mostraron importante presencia de las mujeres en comparación con los hombres, y lo demuestran características comunes entre los sexos, los cuales refuerzan la vulnerabilidad y la desigualdad social. Son importantes proyectos alternativos de generación de trabajo y ingresos y la inversión en la política pública transversal. El tercero artículo es un estudio cuantitativo y cualitativo, que tiene por objeto realizar una lectura sobre el diagnóstico y los síntomas, desde una perspectiva de género y la salud mental. Los resultados indican que la prevalencia de los diagnósticos relacionados con los trastornos del estado de ánimo en mujeres; y en hombres, esquizofrenia, trastornos esquizotípicos y delirantes. Tales datos asociados con el perfil sociodemográfico y análisis de los registros de datos apuntan a la medicalización y psiquiatrización de la vida, especialmente para las mujeres, cuya presencia en episodios de violencia ha alcanzado 32,54%. Por último, a partir de las narrativas de cinco mujeres, el cuarto artículo se centra en la comprensión de la experiencia de los trastornos psicológicos, con respeto a los núcleos narrativos importantes, entre ellos, el trabajo como la vulnerabilidad atravesada por relaciones de género y de la familia (relaciones conjugales, la maternaje, con los padres y ascendentes), atravesadas por la violencia que sufren, física, sexual y psicológica. Los resultados demuestran situaciones dolorosas y estigmatizantes, experimentadas por mujeres, marcadas por la violencia. Llegamos a la conclusión a partir de la síntesis de los cuatro artículos que el modelo de salud mental en Brasil aún tiene un enfoque en las intervenciones centradas en los síntomas-solución y no existe un programa específico de género en el escenario de los servicios públicos de salud mental. Aún, por la diferencia de población entre el cuantitativo de las mujeres y de los hombres, llegamos a la conclusión de que este CAPS II es un espacio de expresión subjetiva femenina. Se infiere que el modelo de Atención Psicosocial brasileño no puede ofrecer una bienvenida adecuada a las mujeres en general, si no califica las especificidades de género y sus interseccionalidades. interseccionalidades. Por lo tanto, la implementación de proyectos alternativos de trabajo y generación de ingresos, así como las inversiones en políticas públicas transversales, como una manera de subvencionar la actual política de salud mental de Brasil, son necesarias.
Identifer | oai:union.ndltd.org:IBICT/oai:repositorio.unb.br:10482/20567 |
Date | 15 April 2015 |
Creators | Campos, Ioneide de Oliveira |
Contributors | Loyola, Valeska Maria Zanello de |
Source Sets | IBICT Brazilian ETDs |
Language | Portuguese |
Detected Language | Portuguese |
Type | info:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/doctoralThesis |
Source | reponame:Repositório Institucional da UnB, instname:Universidade de Brasília, instacron:UNB |
Rights | A concessão da licença deste item refere-se ao termo de autorização impresso assinado pelo autor com as seguintes condições: Na qualidade de titular dos direitos de autor da publicação, autorizo a Universidade de Brasília e o IBICT a disponibilizar por meio dos sites www.bce.unb.br, www.ibict.br, http://hercules.vtls.com/cgi-bin/ndltd/chameleon?lng=pt&skin=ndltd sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o texto integral da obra disponibilizada, conforme permissões assinaladas, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data., info:eu-repo/semantics/openAccess |
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