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O canibal partido ao meio

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-graduação em Antropologia Social, Florianópolis, 2009 / Made available in DSpace on 2012-10-24T07:44:45Z (GMT). No. of bitstreams: 1
276257.pdf: 820493 bytes, checksum: 2107bc48671b715c5bf89ef1dc42ad75 (MD5) / Este trabalho é um estudo acerca das sucessivas dicotomizações que a figura do canibal tupinambá tem sofrido ao longo de quinhentos anos de literatura tupinológica. Trata-se, é certo, duma pesquisa bibliográfica, duma releitura das fontes acerca dos Tupinambá, povo indígena que habitou a costa brasileira no século XVI, e constatar as tensões, de Hans Staden a Viveiros de Castro, entre as mais diversas e, não raro, coliden-tes, interpretações da prática canibalesca indígena. Tem-se o propósito de mostrar, ao longo deste trabalho, de que maneira a declarada guerra verbal, manifesta numa acerbada polêmica religiosa, entre o franciscano André Thevet e o protestante Jean de Léry, marcaram profundamente, até os tempos da etnologia ameríndia do último século, as partições ao meio do canibal tupinambá. De um lado, o do cosmógrafo, surgiu uma corrente interpretativa baseada na utilização da metáfora católica do canibalismo, que vai culminar, depois de seguir pelos jesuítas, no ro-mantismo de José de Alencar e nas visões psicanalíticas de Estevão Pinto. Por outro lado, seguindo pela influência do pastor calvinista, descobrir-se-á outra corrente, marcadamente anticatólica, calcada na interpretação do canibalismo tupinambá pela vingança, que vai culmi-nar, decididamente, na antropologia política de Hélène Clastres e na crítica de Viveiros de Castro ao conceito de religião. Apesar, distante de postular qualquer unidade no interior destas correntes, ressaltar-se-á figuras de transição, como Florestan Fernandes que vindica o culto an-cestral (uma razão religiosa, decerto) como explicação para o canibalis-mo tupinambá, articulando o primeiro com o que chama vindita, que não é mais que a famosa justificativa da antropofagia pela vingança. A cha-ve para que o sucesso da pesquisa, crê-se, fica no conceito de sacrifício que, mostrar-se-á, transforma-se de metáfora em categoria explicativa do canibalismo tupinambá. Contudo, com o passar dos anos, surgiram outras vias interpretativas da antropofagia indígena, duas precisamente: uma ecológica, representada por Marvin Harris, e outra negacionista, famosa, sobretudo, pelos trabalhos de William Arens. A primeira surge dum resgate dos trabalhos de Evans-Pritchard acerca do canibalismo zande; a segunda, por seu turno, num contexto de crítica e reforma de certa antropologia colonialista. / This work is a study on the successive dichotomization of the tupinamba cannibal in five hundred years of tupinologic literature. This is, of course, a bibliographical search, a rereading of the sources about the Tupinamba, indigenous people who inhabited the Brazilian coast in the sixteenth century, to find the tensions, of Hans Staden to Viveiros de Castro, among the most diverse and conflicting interpretations of indi-genous cannibalistic practice. It is the intention to show, throughout this work, how the verbal war declared, express in religious controversy, between the Franciscan Andre Thevet and the Protestant Jean de Lery, deeply marked, until the time of the last century Amerindian ethnology, the partitions in the middle of the tupinamba cannibal. On one hand, of the cosmography, appears a stream of interpretation based on the use of the Catholic metaphor of cannibalism, followed by the Jesuits, which will lead in the Jose de Alencar.s romanticism and Estevao Pinto.s psy-choanalytic views. Moreover, following the influence of Calvinist pas-tor, will find another stream, markedly anti-catholic, based on interpre-tation of cannibalism of the Tupinamba for revenge, which will lead in the political anthropology of Helene Clastres and the critical of religion of Viveiros de Castro. Although, far from postulating any unit in these streams, will be show a transitional figure like Florestan Fernandes, who vindicate the ancestral cult (a religious reason, certainly) as an explana-tion of tupinamba cannibalism, articulating it with he calls vindita, which is nothing more than then the famous reasons of revenge by anth-ropophagy. The key to the successes of this research, it is believed, is the concept of sacrifice that becomes the metaphor in explanatory cate-gory. However, over the years, there were others ways of interpreting indigenous anthropophagy: ecological, represented for Marvin Harris, and another denial, famous, represented especially for the works of Wil-liam Arens. The first appears of the redemption of the Evans-Pritchard.s works about zande cannibalism; the second, in a context of criticism and reform of the colonial anthropology.

Identiferoai:union.ndltd.org:IBICT/oai:repositorio.ufsc.br:123456789/92315
Date24 October 2012
CreatorsMoraes, Caléu Nilson
ContributorsUniversidade Federal de Santa Catarina, Calávia Saez, Oscar
Source SetsIBICT Brazilian ETDs
LanguagePortuguese
Detected LanguageEnglish
Typeinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion, info:eu-repo/semantics/masterThesis
Sourcereponame:Repositório Institucional da UFSC, instname:Universidade Federal de Santa Catarina, instacron:UFSC
Rightsinfo:eu-repo/semantics/openAccess

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