[pt] O abuso sexual praticado contra crianças é um crime hediondo que nos remete a uma história de dominação e poder do mais forte contra o mais fraco, e do adulto contra a criança, sejam eles familiares ou estranhos. Atualmente essa questão vem mobilizando autoridades governamentais, profissionais de saúde, de educação e a sociedade, através da mídia, da criação de leis, de campanhas educativas e da academia. Muitos embates têm sido travados visando encontrar as melhores alternativas para o enfrentamento do problema. Com base na noção de que a representação social contém um caráter prático e operacional, voltado para a ação, o presente estudo teve dois objetivos centrais: primeiro, identificar as representações sociais dos responsáveis por crianças vítimas de abuso sexual acerca dos agressores, dos profissionais e dos serviços de atenção à criança vítima de abuso sexual; e segundo, entender como essas representações influenciam a resolutividade dos casos atendidos.Conclui-se que a adesão ao tratamento, primeira condição para a resolutividade, é fortemente influenciada pelas representações sociais dos responsáveis, em particular aquelas relativas à função desempenhada pelas autoridades e à figura do autor do abuso sexual. O estudo mostra ainda que os responsáveis fazem circular essas representações, mas se ressentem do fato de nem sempre elas serem ouvidas, o que demonstra a necessidade de estabelecer uma escuta diferenciada que valorize e compreenda suas representações sociais como fatores determinantes no sucesso do acompanhamento e adesão ao tratamento. Apoiar, sustentar e valorizar a fala dos responsáveis, dar voz a estas representações e frustrações, é pois fundamental para construir ações efetivas na trajetória de enfrentamento da questão de modo a contribuir na resolutividade dos casos de abuso sexual. / [en] Sexual abuse practised against children is a hideous crime which reminds us to a history of domination from the strongest to the weakest, from adults against children; being their relatives or unknown people. Nowadays, this question has been mobilizing governmental authorities, educational and health professionals and society as a whole through educational marketing campaigns, academic institutions, and also the criation of new legislation. Battles have been battled in order to find better alternatives to face this problem.Based on the idea that social representation contains a practical and operational character, which is focused on the action, this study had two principal objectives: Firstly, to identify the social representations from people who are in charge for children who are victms of sexual abuse, in relation to the their aggressors; representations from all the professionals involved and also from children protection programs. Secondly, to understand how these social representations influence the sexual abuse cases solutions.We conclude that the treatment adherence, which is the first condition towards the solution, is strongly influenced by parent social representations. Particularly, those ones related to the function represented by authorities and by the sexual abuse author figure. The study still shows that responsibles make to circulate these representations, although they feel resentful about the fact they are not always listened to. It demonstrates the necessity of establishing a differencial listening service, which understands and makes valuable their social representations as determining facts for the treatment adherence, its accompanying and success. Supporting and sustaining in order to become worthy these responsible clamours, as well as giving the right importance to their representations and frustrations. Therefore, these attitudes are fundamental to build effective actions during the jouney to face this question, in order to contribute to the sexual abuse cases solutions.

[pt] O uso de cannabis é um problema de saúde pública crescente, associado a diversos desfechos negativos. A identificação de fatores de risco é relevante para a prevenção, pois nem sempre tratamentos são eficazes. O abuso sexual infantil é considerado um forte preditor de uso e transtorno por uso de cannabis (TUC). Com a expansão da internet a violência sexual assumiu novos formatos, fazendo surgir um fenômeno contemporâneo denominado vitimização sexual on-line (VSO). Esta dissertação se dedicou ao aprofundamento do tema e realizou uma revisão narrativa com o objetivo de sintetizar o conceito de VSO e seus paralelos com abuso sexual off-line. Além disso, foi investigado exploratoriamentea VSO na infância e adolescência e suas associações com o uso de cannabis e TUC. Análises de regressão investigaram o efeito preditivo de VSO no uso de cannabis ao menos uma vez na vida e na idade do primeiro uso de cannabis. Mais de 70 por cento da amostra relatou ter sofrido VSO na infância e adolescência. Mulheres apresentaram quase o dobro de prevalência que os homens, com médias mais elevadas nas subescalas de insistência e ameaça. Minorias sexuais foram mais prevalentes que heterossexuais em todas as subescalas. A VSO foi capaz de prever significativamente o uso de cannabis pelo menos uma vez na vida e a idade do primeiro uso, mas somente a subescala de disseminação. Os resultados sugerem que VSO na infância e na adolescência é um fenômeno com alta prevalência, que pode estar associada ao uso de cannabis. Crianças e adolescentes merecem atenção especial porque utilizam a internet com maior freqüência, ficando expostos a riscos. Dessa maneira, é necessário pensar estratégias para prevenção de ocorrência de VSO e seusefeitos adversos. / [en] Cannabis use is a growing public health problem, associated with a variety of negative outcomes. The identification of risk factors is relevant for prevention, as treatments are not always effective. Child sexual abuse is considered a strong predictor of cannabis use and cannabis use disorder (CUD). With the expansion of the internet, sexual violence took on new formats, giving rise to a contemporary phenomenon called online sexual victimization (OSV). This dissertation was dedicated to deepening the theme and carried out a narrative review with the objective of synthesizing the concept of OSV and its parallels with offline sexual abuse. In addition, we exploratory investigated OSV in childhood and adolescence and its associations with cannabis use and CUD. Regression analyzes investigated the predictive effect of OSV on lifetime cannabis use and age of first cannabis use. More than 70 percent ofthe sample reported having suffered OSV in childhood and adolescence. Women had almost twice the prevalence of men, with higher means in the insistence and threat subescales. Sexual minorities were more prevalent than heterosexualin allsubscales. The OSV was able to significantly predict lifetime cannabis use and age atfirst use, but only the spread subscale. The results suggest that OSV in childhood and adolescence is a highly prevalent phenomenon that maybe associated with cannabis use. Children and teenagers deserv especial attention because they use the internet more frequently and are exposed to risks. Thus, it is necessary to think about strategies to prevent the occurence of OSV and its adverse effects.

[pt] O presente trabalho pretende enfocar algumas questões acerca do abuso sexual infantil. Informado pela teoria psicanalítica, estará buscando entendê-lo historicamente, dialogando, em alguns momentos, com a antropologia. Optamos por uma perspectiva que busque ver o sujeito que sofreu abuso sexual como alguém que pode se reconstruir, saindo da condição de vítima da sexualidade. Esse fenômeno está sempre envolto num muro de silêncio, que rouba a palavra das crianças e dos adolescentes, mantendo-os em -estado de sítio- . Foram feitas algumas ilustrações clínicas para que, entrando em contato com a crueza da questão, possamos melhor nos posicionarmos junto ao fenômeno do abuso sexual infantil. Trata-se de um trabalho sobre o silêncio em suas múltiplas acepções e sobre a possibilidade de escapar do lugar de vítima. Para isto recorremos ao conceito de resiliência e percorremos as relações existentes entre mito, tabu e lei, buscando sempre investigar e compreender os meandros onde se insere o abuso sexual infantil. / [en] This essay intends to show the issue of some questions about infant sexual abuse. Duly supported by the psychoanalytic theory shall seek to clarify it historically with close dialogue, in some parts of the essay, with the anthropology theory. We focused studies taking into consideration that person who has suffered from sexual abuse can rebuilt himself out of being merely a victim of the sexuality. Such phenomena is always wrapped in a wall of silence, that steals the word from children and teenagers, keeping them in a - state of siege - . Some clinical reports have been inserted in order to make immediate reference to this hard issue, to allow all interested parties a better understanding in connection with the childhood sexual abuse phenomena. Our work is about the silence in it s multiple meanings in order to scape the victim s role. To achieve that purpose we have recoursed to the resilience concept and went through the relations in myth, taboo and common law, trying to investigate and understand all the details about the infant sexual abuse.

[pt] O abuso sexual infantil (ASI) é um fenômeno de extrema complexidade, considerado como uma das mais graves formas de violação de direitos humanos. São necessárias intervenções terapêuticas e judiciais. Quando ocorrido no seio familiar, além das medidas que interrompam a violência e responsabilizem o agressor, é imprescindível o tratamento da criança e da família. O presente estudo investigou as práticas em avaliação psicológica realizadas pelos psicólogos forenses do judiciário fluminense nos processos judiciais envolvendo suspeita de abuso sexual infantil intrafamiliar. Para tanto, foram entrevistados seis psicólogos forenses vinculados ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ). Entre os participantes estão quatro analistas judiciários ocupando cargos de psicólogos e duas psicólogas peritas judiciais. A partir da análise de conteúdo de Bardin, emergiram três categorias: avaliação psicológica: percepções e recursos; perícias psicológicas em casos de abuso sexual infantil intrafamiliar; e dificuldades dos psicólogos forenses no contexto do TJRJ. Concluímos que as práticas avaliativas são diversas e que há pouca abertura para a utilização de instrumentos psicológicos além das entrevistas. O espaçamento temporal entre a ocorrência da violência e a perícia, o alto volume de trabalho e os curtos prazos processuais foram complicadores referidos por todos os participantes. Evidenciamos que as limitações inerentes ao contexto forense interferem na sistematização do processo avaliativo e na escolha dos procedimentos a serem utilizados nas perícias judiciais. Destacamos a importância de mais estudos sobre as dificuldades enfrentadas pelos psicólogos no campo forense em razão das particularidades de cada estado brasileiro. / [en] Child sexual abuse is a phenomenon of extreme complexity, considered one of the most serious forms of human rights violation. Therapeutic and judicial interventions are required. When it occurs within the family, in addition to measures that stop the violence and hold the aggressor accountable, the treatment of the child and the family is essential. The present study investigated the practices in psychological assessment carried out by forensic psychologists of the Rio de Janeiro judiciary in judicial proceedings involving suspected intrafamilial child sexual abuse. For that, 6 forensic psychologists linked to the Court of Justice of the State of Rio de Janeiro were interviewed. Among the participants are four judicial analysts occupying positions of psychologists and two psychologists who are judicial experts. From Bardin s content analysis, three categories emerged: psychological assessment: perceptions and resources; psychological expertise in cases of intrafamilial child sexual abuse and difficulties faced by forensic psychologists in the context of the Court of Justice. We concluded that the evaluative practices are diverse and there is little opening for the use of psychological instruments besides the interviews. The temporal spacing between the occurrence of violence and the expertise, the high volume of work and the short procedural deadlines were complicating factors mentioned by all participants. We evidenced that the limitations inherent to the forensic context interfere in the systematization of the evaluation process and in the choice of procedures to be used in the judicial expertise. We emphasize the importance of further studies on the difficulties faced by psychologists in the forensic field due to the particularities of each Brazilian state.